22 agosto 2014

Luís Gaspar lê «As mãos e as mãos» de Orlando da Costa


A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira
Espero-a inteira
Como frutos à beira
Da fome de alguém
Espero-a inteira
Nesta fome que vem
Só das tuas para as minhas mãos
Minhas mãos geladas
Minhas mãos suadas
Em rebentos de cada esforço
Descarnadas mãos
De que já riu a ferrugem das grades
Minhas mãos abertas para que creias
Mãos suadas e novamente suadas
Mãos capazes de enxertar veias
A polpa secreta
Das tuas mãos
Espero-a inteira inteira

Orlando da Costa
Nascido em Lourenço Marques, no seio de uma família goesa. Apoiou a candidatura de Norton de Matos e foi preso três vezes pela Pide (1950-1953). Da última vez, esteve preso por cinco meses, acusado de militar em defesa da paz. Passou pelo ensino particular até ser proibido de ensinar e trabalhou na publicidade.
Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa