30 novembro 2015
«Número» - João
"Para eles és um número, uma pessoa que passa, mais uma, mais um, menos, tanto se lhes dá, diriam que é igual ao litro. Para eles és corpo dado às balas, és esqueleto a quem tirar o tapete, tirar chão, face sem expressão, corpo sem rosto, uma coisa. Uma coisa que hoje está aqui, amanhã ali, e a memória é vaga, não reconhecem valores, não sabem o que fizeste, se fizeste, se ficou por fazer. Para eles és um número entre muitos. Para mim és a pele que me veste, os cabelos que me fazem cócegas, és as pernas que se lançam sobre mim para me segurar no colchão, no sofá, no chão, és as mãos que me apertam em abraços quentes. Para mim és a boca que me beija, os olhos que brilham ao som do meu nome, mulher que faz o mundo acontecer. Tu sabes que também és a cona que recebe o meu caralho, os dedos que mo seguram e encaminham se no calor do momento nos desencontrarmos, és o meu par de uma dança primitiva, o outro lado do espelho. Para eles és um nada. Para mim, mal tive tempo de começar, e não teria linhas suficientes para terminar. É por isso que eles são apenas eles, e eu sou eu. É por isso que eles nunca te viram e eu sempre te vejo. É por isso que eles estão perto, e eu não."
João
Geografia das Curvas
João
Geografia das Curvas
Postalinho das Alturas (serra do Barroso)
"A volta de hoje foi pelos recantos da Serra do Barroso.
Fomos procurar a dona Luísa, procurar alheiras. Não tínhamos esperança, porque os enchidos são feitos no Inverno ou por encomenda, não fumados.
Estava a alimentar os porcos. Fugira-lhe uma porca para o monte e apareceu prenha de um javali.
Era ver os filhotes, bem diferentes dos bísaros, de focinho arredondado e grandes orelhas sobre os olhos!…
Fugiu outra há pouco tempo. «Ela volta…»"
Alfredo e Daisy
A porca...
... e os filhos:
Fomos procurar a dona Luísa, procurar alheiras. Não tínhamos esperança, porque os enchidos são feitos no Inverno ou por encomenda, não fumados.
Estava a alimentar os porcos. Fugira-lhe uma porca para o monte e apareceu prenha de um javali.
Era ver os filhotes, bem diferentes dos bísaros, de focinho arredondado e grandes orelhas sobre os olhos!…
Fugiu outra há pouco tempo. «Ela volta…»"
Alfredo e Daisy
A porca...
... e os filhos:
29 novembro 2015
«conversa 2135» - bagaço amarelo
(depois de a abraçar)
Ela - Tens que ter cuidado quando me abraças.
Eu - O teu marido é ciumento?
Ela - Não é isso. Ias-me partindo as costelas.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
28 novembro 2015
Paraíso erótico de duas mulheres
Mulher a tocar alaúde e outra mulher de seios desnudados.
Caixa de bombons ou jóias, com tampa, em porcelana, da Heinrich - Villeroy & Boch - quando ainda era a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha).
Uma delícia na minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Caixa de bombons ou jóias, com tampa, em porcelana, da Heinrich - Villeroy & Boch - quando ainda era a Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha).
Uma delícia na minha colecção.
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Cu modista!
Patife
@FF_Patife no Twitter
27 novembro 2015
«Não!» - bagaço amarelo
Lembro-me duma tarde qualquer em Lisboa, com muito calor e a cidade tão deserta quanto eu. O meu divórcio tinha sido pouco tempo antes. Talvez por isso os navios que cruzavam o Tejo me parecessem todos à deriva, como se tivessem ido ali parar apenas porque sim, sem a pressa de quem tem uma origem e um destino. Como eu.
E depois ela apareceu e perguntou-me se eu era eu.
- Sim!
Demos dois beijos e eu perguntei-me, em silêncio, se naquele dia ainda nos íamos beijar de outra forma. Não sei se ela se perguntou o mesmo. Nunca sei essas coisas, mas tendo em conta o que é um blind date é sempre legítimo pensar que sim. O meu pensamento dedutivo é que falha muito. Ela era bonita. Muito bonita.
Sentámo-nos numa esplanada qualquer e tentámos arrumar a vida, eu a minha e ela a dela, para a explicarmos como se nos estivéssemos a vender um ao outro. É sempre assim, depois com alguns sorrisos à mistura e duas ou três piadas fracas que mesmo assim fazem rir. Bebemos três cervejas cada um e depois beijámo-nos. Foi mais rápido do que eu esperava. Andar à deriva dá nisto, acidentes ocasionais num imenso mar de solidão. Ela quis saber se comigo era sempre assim.
- Não!
Depois foi o empregado do restaurante. Falador, tratou-nos como se fossemos casados há muitos anos e elogiou-nos por isso. Entrámos no jogo dele, sempre com sorrisos matreiros escondidos. Mal sabia ele que nos tínhamos conhecido nessa mesma tarde e que os nossos corpos ainda não se tinham tocado numa cama. Ofereceu-nos uma ginja no fim e perguntou-nos se tínhamos filhos.
- Sim! - disse ela.
- Não! - disse eu ao mesmo tempo.
Fomos descobertos.
Deixámos o dinheiro em cima da mesa, junto a uma conta feita na toalha de papel cheia de manchas de vinho, e saímos. Lá fora as pessoas passavam por nós, contornando o nosso primeiro abraço prolongado. Lembro-me de perceber que nunca sabemos que abraço estamos a ver, se o primeiro duma vida, se o da despedida, se um casual para impedir lágrimas. Os abraços são tão importantes...
E ela quis saber se eu queria atalhar a noite e ir já para casa dela.
- Sim!
E na noite um corpo outra vez. Um cheiro a mulher e aqueles toques que alternam entre o bruto e o suave, como o champanhe. Lisboa do lado de fora da casa dela e eu infiltrado ali, como um amante clandestino. Chamei-lhe Amor e ela deixou. Adormecemos.
Não há melhor acordar do que aquele que é simultâneo e se ri de tudo. Tornámos a arrumar a vida, não para nos vendermos mas sim para nos comprarmos.
- No próximo fim de semana, se puder ser, vais tu ter comigo... - disse eu sem calcular a abrangência do que dizia.
- Para quê?
- Para conheceres a minha vida. Os meus bares, a minha casa, os meus amigos...
- Não quero conhecer nada do teu passado. Só me interessas a partir daqui. Pode ser?
No tecto do quarto dela estava um animal qualquer com antenas e muitas patas. Talvez fosse um receptor de som escondido, um produto da tecnologia para que Lisboa espiasse a nossa conversa. Imaginei uma cidade inteira à espera da minha resposta.
- Não!
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
«Loop» - Ruim
Desde as primeiras palavras que lhe vi aquele brilho nos olhos de miúda a um sopro de se apaixonar. Deixei andar como sempre. Confirma-se tudo o que eu já sabia. Ela é lindissima, trata-me tão bem como a anterior. Gosto de falar com ela. Adoro ficar a falar com ela, no carro, na cama e na sala. Até no meu silêncio adoro não falar com ela. Não é ciumenta. Dá-me espaço. Faz por aceitar todas as minhas manias e picuíces com horários, maneira certa de pôr uns talheres ou de como gosto de me sentar nas mesas de canto dos restaurantes. Será que ela já percebeu? Como é que pode nao ter reparado ainda quando a beijo? Ou quando desvio o olhar do dela ás vezes e não lhe dou a mão.
“- O que é que estás a pensar?”
Nada. Não estou a pensar em nada e o problema é esse. Nem em ti, nem em ninguém. Faço-me de parvo. Sou bruto de plena consciência e tento magoar sem ferir para a afastar e ela mesmo assim fica ao meu lado. Eu não quero que ela desapareça nem saia da minha cama, nada disso. Mas que tire aquela merda de ideia da cabeça que vai mudar alguma coisa.
Nunca poderão competir com Ela. Nenhuma das Outras. Enquanto coração e cabeça estiverem ocupados por uma sombra que não sai há cerca de 679 dias não há nada a fazer. Podem iluminar com lanternas, tochas e holofotes que a sombra Dela encontra sítio para onde fugir. Estou a tentar apagar uma lâmpada com o interruptor estragado.
E ali perdura, encontro após encontro à procura de um reflexo Dela nas Outras. E achei já uma frase Dela nas Outras. Um sorriso parecido. Uma expressão. Mas as Outras não são Ela, são partes.
Quem vive no passado não evolui, não cresce e vive agarrado a uma ideia parva, memórias, cheiros, pequenos fragmentos de uma coisa estupidamente curta.
“- O que é que estás a pensar? Podes-me contar tudo...”
“- Nada. Não estou a pensar em nada. Em cenas para escrever… só isso”
“- Ás vezes ficas com essa expressão vazia. O que é que se passa…?”
Nada. É que não é mesmo nada. Isto não é nada e continuar nesta farsa é menos de nada.
“- Não está a funcionar… isto que seja lá o que é. Desculpa…”
E mais uma vez uma versão romantizada de “o problema não és tu, sou eu” sai-me da boca e o mais irónico é que é mesmo verdade.
“- Olá… como é que te chamas?”
“- Ana…”
“- Olá Ana, eu sou a pessoa que te vai alimentar as esperanças algum tempo sem notar e tu vais totalmente ignorar os sinais mais que óbvios que isto está condenado à partida. Mas vais acreditar porque eu não sou mau tipo. Faço-te rir um pouco. Digo coisas bonitas. Encantas-te com pouco. Vou explorar as tuas inseguranças e usá-las a meu favor, vou alimentá-las. Tu por outro lado, vais fazer uso das minhas fraquezas e manter-me ao lado o máximo que conseguires. Não te vou usar mais do que me vais usar a mim. Não te vou maltratar. Magoar. És um cheiro. Só isso. Passageiro. Queres?”
“- Mas eu sou diferente, vais ver.”
“- Tu és. Eu é que sou o mesmo."
Rewind. Press play.
Ruim
no facebook
“- O que é que estás a pensar?”
Nada. Não estou a pensar em nada e o problema é esse. Nem em ti, nem em ninguém. Faço-me de parvo. Sou bruto de plena consciência e tento magoar sem ferir para a afastar e ela mesmo assim fica ao meu lado. Eu não quero que ela desapareça nem saia da minha cama, nada disso. Mas que tire aquela merda de ideia da cabeça que vai mudar alguma coisa.
Nunca poderão competir com Ela. Nenhuma das Outras. Enquanto coração e cabeça estiverem ocupados por uma sombra que não sai há cerca de 679 dias não há nada a fazer. Podem iluminar com lanternas, tochas e holofotes que a sombra Dela encontra sítio para onde fugir. Estou a tentar apagar uma lâmpada com o interruptor estragado.
E ali perdura, encontro após encontro à procura de um reflexo Dela nas Outras. E achei já uma frase Dela nas Outras. Um sorriso parecido. Uma expressão. Mas as Outras não são Ela, são partes.
Quem vive no passado não evolui, não cresce e vive agarrado a uma ideia parva, memórias, cheiros, pequenos fragmentos de uma coisa estupidamente curta.
“- O que é que estás a pensar? Podes-me contar tudo...”
“- Nada. Não estou a pensar em nada. Em cenas para escrever… só isso”
“- Ás vezes ficas com essa expressão vazia. O que é que se passa…?”
Nada. É que não é mesmo nada. Isto não é nada e continuar nesta farsa é menos de nada.
“- Não está a funcionar… isto que seja lá o que é. Desculpa…”
E mais uma vez uma versão romantizada de “o problema não és tu, sou eu” sai-me da boca e o mais irónico é que é mesmo verdade.
“- Olá… como é que te chamas?”
“- Ana…”
“- Olá Ana, eu sou a pessoa que te vai alimentar as esperanças algum tempo sem notar e tu vais totalmente ignorar os sinais mais que óbvios que isto está condenado à partida. Mas vais acreditar porque eu não sou mau tipo. Faço-te rir um pouco. Digo coisas bonitas. Encantas-te com pouco. Vou explorar as tuas inseguranças e usá-las a meu favor, vou alimentá-las. Tu por outro lado, vais fazer uso das minhas fraquezas e manter-me ao lado o máximo que conseguires. Não te vou usar mais do que me vais usar a mim. Não te vou maltratar. Magoar. És um cheiro. Só isso. Passageiro. Queres?”
“- Mas eu sou diferente, vais ver.”
“- Tu és. Eu é que sou o mesmo."
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26 novembro 2015
Mulher, serpente e homens
Quadro numa tábua de madeira recortada, com 13x55cm, proveniente de África para a minha colecção.
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25 novembro 2015
«pensamentos catatónicos (325)» - bagaço amarelo
Quando nos acostumamos a um Amor e eles nos começa a parecer banal, a melhor coisa que temos a fazer é afastarmo-nos por um momento, para sentirmos a falta que ele nos faz.
É que quando se Ama alguém, o melhor que nos pode acontecer é sentir saudades desse alguém de vez em quando, para não cairmos no erro de pensar que é dispensável. O maior erro que se pode cometer no Amor é perceber a sua importância apenas quando ele já não está.
Quando isso nos acontece, zangarmo-nos com o Amor sem ele nos ter feito nada de especial, acabamos a fazer as pazes com as piores coisas que esta vida tem. O comando do televisor, por exemplo, para passar os canais num zapping que se quer tão rápido e insípido quanto a própria vida.
Por outro lado, se nos afastamos e a saudade não vem, ficamos esclarecidos sobre a falta que esse Amor não nos faz. Vejamos televisão então, porque certamente conseguiremos parar no melhor filme ou na melhor série.
Afastarmo-nos por um momento é o barómetro do que somos. Também do que não somos. Afastemo-nos todos por um momento e, assim que voltarmos, ou não, aos braços de quem Amamos, o mundo estará melhor.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
Boa noite, Amor!
O dia cerra as pálpebras sobre nós
permitindo melhor apreciar as estrelas,
e oferendando a visão única
que apenas a noite pode vestir,
um manto terno, misterioso e protetor,
que roça de leve na nossa imaginação,
altera a velocidade do ritmo do coração
e humedece de suor a nossa pele,
enquanto os dois ansiamos a sua chegada,
pálpebras cerradas e a face maravilhada!
Abraçamo-nos e, cúmplices, sorrimos,
calmos e ansiosos no mesmo tempo,
e entramos aconchegados noite dentro,
bebendo o som que um violoncelo solta,
enquanto um fado tinto escorre líquido
pelo bocal aberto de uma taça generosa.
As roupas ganham vida própria
e abandonam os nossos corpos ardentes,
espalhando-se pelo chão da casa,
como sinais da necessidade erótica
com que respiramos os momentos!
Quando reabrimos as persianas do olhar,
já o mapa estrelar não está na mesma posição
e a Lua brinca às escondidas connosco,
escondendo sempre o seu lado negro,
e descontraímos os músculos e os sentidos
nos corpos que em repouso se diluem no chão
e que, quase líquidos, esperam novo e fresco alvor…
Olhamo-nos, sorrimos e saudamo-nos:
– Boa-noite, amor!
Vitor. C
Google+
permitindo melhor apreciar as estrelas,
e oferendando a visão única
que apenas a noite pode vestir,
um manto terno, misterioso e protetor,
que roça de leve na nossa imaginação,
altera a velocidade do ritmo do coração
e humedece de suor a nossa pele,
enquanto os dois ansiamos a sua chegada,
pálpebras cerradas e a face maravilhada!
Abraçamo-nos e, cúmplices, sorrimos,
calmos e ansiosos no mesmo tempo,
e entramos aconchegados noite dentro,
bebendo o som que um violoncelo solta,
enquanto um fado tinto escorre líquido
pelo bocal aberto de uma taça generosa.
As roupas ganham vida própria
e abandonam os nossos corpos ardentes,
espalhando-se pelo chão da casa,
como sinais da necessidade erótica
com que respiramos os momentos!
Quando reabrimos as persianas do olhar,
já o mapa estrelar não está na mesma posição
e a Lua brinca às escondidas connosco,
escondendo sempre o seu lado negro,
e descontraímos os músculos e os sentidos
nos corpos que em repouso se diluem no chão
e que, quase líquidos, esperam novo e fresco alvor…
Olhamo-nos, sorrimos e saudamo-nos:
– Boa-noite, amor!
Vitor. C
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24 novembro 2015
E depois a tarada sou eu...
Às vezes a neblina cobre a ponte Vasco da Gama com a elegância de uma lingerie.
Sharkinho
@sharkinho no Twitter
Novas Cartas Portuguesas, vistas por Catarina Sobral
Impressão 1/20 de uma ilustração feita para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto de 2015.
Como explica a autora, Catarina Sobral: "foi-nos pedido que escolhêssemos um livro e ilustrássemos a capa para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto" (de 2015).
O livro «Novas cartas portuguesas» (NCP) é uma obra literária publicada conjuntamente pelas escritoras portuguesas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa em 1972. As autoras ficariam conhecidas internacionalmente como “as três Marias” (The Three Marias tendo sido mesmo o título da edição original do livro em inglês). Nos anos setenta, a publicação de NCP assumiu um papel central na queda da ditadura dirigida por Marcelo Caetano, uma figura apenas superficialmente mais liberal que o seu antecessor António de Oliveira Salazar. O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina). NCP denunciou também as injustiças da guerra colonial e as realidades dos portugueses enquanto colonialistas em África, emigrantes, refugiados ou exilados no mundo, e “retornados” em Portugal.
Uma ilustração deliciosa na minha colecção.
Visita a página da colecção no Facebook (e, já agora, também a minha página pessoal)
Como explica a autora, Catarina Sobral: "foi-nos pedido que escolhêssemos um livro e ilustrássemos a capa para uma exposição colectiva da Feira do Livro do Porto" (de 2015).
O livro «Novas cartas portuguesas» (NCP) é uma obra literária publicada conjuntamente pelas escritoras portuguesas Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa em 1972. As autoras ficariam conhecidas internacionalmente como “as três Marias” (The Three Marias tendo sido mesmo o título da edição original do livro em inglês). Nos anos setenta, a publicação de NCP assumiu um papel central na queda da ditadura dirigida por Marcelo Caetano, uma figura apenas superficialmente mais liberal que o seu antecessor António de Oliveira Salazar. O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina). NCP denunciou também as injustiças da guerra colonial e as realidades dos portugueses enquanto colonialistas em África, emigrantes, refugiados ou exilados no mundo, e “retornados” em Portugal.
Uma ilustração deliciosa na minha colecção.
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23 novembro 2015
«Batalhas campais» - João
"Leio algumas mulheres regularmente, o que poderia considerar-se estudo porque os homens já eu conheço, e Deus sabe que demasiados daqueles que partilham o género comigo são de tal modo primitivos que lê-los se torna penoso. Conto poucos homens que aprecio ler, e as mulheres, na sua complexidade – que não é mais ou menos que os homens complexos, apenas diferente no âmago -, oferecem leituras mais interessantes. Há uma matéria, porém, que me choca em alguma escrita feminina, e que se prende com a maternidade, com o ter ou não ter filhos, com o que fazer com eles. Choca-me não pelo conteúdo das opiniões, mas pela sua forma, pelo extremar de posições que é sempre pior entre mulheres.
Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade.
Algumas das mulheres que leio são, ou aparentam ser, fortemente contra a maternidade. Enfurecem-se com idas a restaurantes onde estão crianças, reclamam espaços reservados a adultos, alinham em campanhas ferozes contra a amamentação, acusam os pais e mães de ter uma existência triste por comparação com os adultos que não têm filhos, em síntese, colam na testa daqueles que são pais uma etiqueta com um “idiota” escrito a marcador de ponta grossa e resistente à água. Talvez porque são as mulheres que transportam os filhos nas suas barrigas durante alguns meses, é a elas que eu vejo discutir isto. Os homens raramente se ocupam destas conversas, remetem-se ao sacrossanto futebol – que felizmente me transcende -, ao automobilismo ou, e isto sim acho bem, à apreciação das curvas femininas. É raro haver um comentário crítico da maternidade que não descambe numa batalha campal entre mulheres, com acusações diversas e argumentos gastos. “Não sabes porque não és mãe”, “quando fores mãe mudas de opinião”, “os filhos portam-se mal por causa dos pais”, e tantos outros que não reproduzo por fastio. Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade. E talvez não faça sentido reagir com tanta violência às opiniões de quem os tem e de quem os não tem. E talvez também não faça sentido arranjar formas mais ou menos subtis de chamar idiotas aos que são pais e mães, ou de sugerir que as suas vidas são deprimentes porque têm filhos que berram e que os deixam cansados. Todos os pais têm momentos em que lhes apetece atirar os petizes pela janela. Possivelmente os nossos pais também o pensaram. Os pais de quem critica a maternidade também o terão feito, e no entanto, não tivessem eles vivido essa experiência, quem critica não o faria. Não estaria cá.
Sim, é verdade que os filhos podem ser maçadores. Dão trabalho. Sujam-se, cagam no chão, tiram sozinhos fraldas cheias de merda, são insuportáveis quando têm sono, comam o que comerem pingam do queixo, sujam a roupa, fazem birras por coisas que a nós parecem insignificantes, mas também são aqueles que se deitam ao nosso lado e dizem que gostam muito de nós, são aqueles em cujo cabelo se encontra a paz quando lhes fazemos carícias (há outros cabelos e outras formas de paz, e de pás, como sabeis), e a forma como cada um vive os momentos mais complicados – i.e., os mais sujos e barulhentos – é coisa nossa. Talvez as nossas vidas sejam um bocadinho deprimentes em alguns momentos da paternidade, assim como as vidas de quem não tem uma experiência familiar podem ser um pouco vazias de sentido a dado momento, mas nada disto define uma vida inteira. São curvas que fazemos, e o extremar de posições, que da normalidade ao insulto demora um segundo, é um disparate que eu convidaria as mulheres a não alimentar. E só não convido os homens a também não alimentar essas discussões porque sei que a maioria deles está a ler um jornal desportivo, e os que não estão provavelmente pensam qualquer coisa parecida comigo. Quem não quer ter filhos, viva com isso e divirta-se como ache melhor. Quem os tenha, ature-os e ame-os como deve. E deixem-se disso de achar que uma vida é melhor que a outra. Na soma de momentos e opções, nenhum caminho é totalmente certo."
João
Geografia das Curvas
Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade.
Algumas das mulheres que leio são, ou aparentam ser, fortemente contra a maternidade. Enfurecem-se com idas a restaurantes onde estão crianças, reclamam espaços reservados a adultos, alinham em campanhas ferozes contra a amamentação, acusam os pais e mães de ter uma existência triste por comparação com os adultos que não têm filhos, em síntese, colam na testa daqueles que são pais uma etiqueta com um “idiota” escrito a marcador de ponta grossa e resistente à água. Talvez porque são as mulheres que transportam os filhos nas suas barrigas durante alguns meses, é a elas que eu vejo discutir isto. Os homens raramente se ocupam destas conversas, remetem-se ao sacrossanto futebol – que felizmente me transcende -, ao automobilismo ou, e isto sim acho bem, à apreciação das curvas femininas. É raro haver um comentário crítico da maternidade que não descambe numa batalha campal entre mulheres, com acusações diversas e argumentos gastos. “Não sabes porque não és mãe”, “quando fores mãe mudas de opinião”, “os filhos portam-se mal por causa dos pais”, e tantos outros que não reproduzo por fastio. Não nascemos todos para ser pais, mas na dança de conas e caralhos – ah, o core business desta Geografia afinal! – os filhos às vezes acontecem, com graus variáveis de premeditação, desejo e oportunidade. E talvez não faça sentido reagir com tanta violência às opiniões de quem os tem e de quem os não tem. E talvez também não faça sentido arranjar formas mais ou menos subtis de chamar idiotas aos que são pais e mães, ou de sugerir que as suas vidas são deprimentes porque têm filhos que berram e que os deixam cansados. Todos os pais têm momentos em que lhes apetece atirar os petizes pela janela. Possivelmente os nossos pais também o pensaram. Os pais de quem critica a maternidade também o terão feito, e no entanto, não tivessem eles vivido essa experiência, quem critica não o faria. Não estaria cá.
Sim, é verdade que os filhos podem ser maçadores. Dão trabalho. Sujam-se, cagam no chão, tiram sozinhos fraldas cheias de merda, são insuportáveis quando têm sono, comam o que comerem pingam do queixo, sujam a roupa, fazem birras por coisas que a nós parecem insignificantes, mas também são aqueles que se deitam ao nosso lado e dizem que gostam muito de nós, são aqueles em cujo cabelo se encontra a paz quando lhes fazemos carícias (há outros cabelos e outras formas de paz, e de pás, como sabeis), e a forma como cada um vive os momentos mais complicados – i.e., os mais sujos e barulhentos – é coisa nossa. Talvez as nossas vidas sejam um bocadinho deprimentes em alguns momentos da paternidade, assim como as vidas de quem não tem uma experiência familiar podem ser um pouco vazias de sentido a dado momento, mas nada disto define uma vida inteira. São curvas que fazemos, e o extremar de posições, que da normalidade ao insulto demora um segundo, é um disparate que eu convidaria as mulheres a não alimentar. E só não convido os homens a também não alimentar essas discussões porque sei que a maioria deles está a ler um jornal desportivo, e os que não estão provavelmente pensam qualquer coisa parecida comigo. Quem não quer ter filhos, viva com isso e divirta-se como ache melhor. Quem os tenha, ature-os e ame-os como deve. E deixem-se disso de achar que uma vida é melhor que a outra. Na soma de momentos e opções, nenhum caminho é totalmente certo."
João
Geografia das Curvas
22 novembro 2015
«conversa 2134» - bagaço amarelo
Ela - Fui ao ginecologista hoje e ele ficou a olhar para mim de boca aberta.
Eu - Mas porquê?
Ela - Perguntou-me se eu sou sexualmente activa...
Eu - E?
Ela - E eu perguntei-lhe se o o facto de ter sexo comigo mesma conta.
bagaço amarelo
Blog «Não compreendo as mulheres»
21 novembro 2015
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