O João e a Beatriz, ambos advogados, sabiam isso melhor do que ninguém. Ambos tinham estudado na faculdade que, entre as causas de divórcio, destacava-se a infidelidade de um dos cônjuges, como a principal, senão a mais inquestionável, causa de revogação do compromisso contratual que subjaz ao casamento.
Não só por razões estritamente legais, mas também, e principalmente, por questões éticas, tradicionais, socialmente estabilizadas, a fidelidade é um conceito imperativo, uma condição "sine qua non", universal, para a manutenção do vinculo conjugal.
O João, casado com a Beatriz, andava desconfiado...
- Tu tens outro! Diz-me a verdade!
- Juro que não que não tenho outro, defendia-se a Beatriz.
- Vejo no teu olhar que me estás a mentir. Tu tens outro homem, não tens?
- Já te disse que não. Tu és o único homem na minha vida!
«Duas mulheres» Estatueta da colecção de arte erótica «a funda São» |
Um dia seguiu a mulher. Entrou sorrateiramente no hotel para onde ela se tinha dirigido, conseguiu, a troco de uma choruda gorjeta, obter uma chave duplicada do quarto onde ela estava, e, pela porta entreaberta, teve a confirmação de duas verdades insofismáveis.
A primeira, foi a de que a Beatriz, de facto, não lhe tinha mentido!.
A segunda, foi a de que ela lhe era, indubitavelmente, infiel.
Paradoxal, mas verídica, esta descoberta:
Na cama, a Beatriz, nua, entregava-se perdidamente, como nunca o tinha feito com ele, às carícias e beijos profundos da Marília, igualmente advogada e ex-colega de ambos na faculdade...
Rui Felício
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