"O problema é que o dia chegava ao fim mas ela não chegava ao fim com ele. Ficava como uma saudade que não se sacode. Vinha um dia, e depois outro, e por fim se a via, tudo voltava ao lugar, como arrumar caixas nos seus lugares, como sair do ar quente e respirar por fim um ar fresco que devolvia à vida, que dizia que ainda havia salvação, que podia rir de novo, que a pele podia arrepiar-se. E tempos sobre tempos assim mostraram-lhe a verdade das coisas. Era estranho. Era estranho dar por si naquele espaço a pensar na ausência dela, e tão estranho que aquela ausência fosse tão imensa naquele momento e espaço, e afinal uma ínfima parte de todo o tempo e todo o espaço que ainda havia para trilhar. Daquele corredor fechara-se a porta, desligara-se a luz. Sobrava-lhe esperar que assim como lha haviam fechado, um dia a abrissem."
João
Geografia das Curvas
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Uma por dia tira a azia