16 julho 2022

Luís Gaspar lê «Lágrimas» de Cesário Verde


Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos, 
Brilhavam como pérolas os prantos.

Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.

E dizia-lhe então, de olhos enxutos:
— Tu pareces nascida de rajada, 
Tens despeitos raivosos, resolutos;

Chora, chora, mulher arrenegada;

Lacrimeja por esses aquedutos…
Quero um banho tomar d’água salgada.

Porto, Diário da Tarde, 21 de Janeiro de 1874

Cesário Verde
José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Ouçam este texto na voz d'ouro de Luís Gaspar, no Estúdio Raposa

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia