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«O capítulo geral dos Franciscanos» - José Anselmo Correia Henriques
Levando a nova a diferentes Lares,
Que morto fora em tantos de tal ano
O Venerável Chefe Franciscano.
Chama-se a votos toda a Fradaria,
Para aclamar em plena Confraria
Um digno sucessor viripotente,
Capaz de governar fradesca gente.
Em Toledo, em Capítulo chamados,
São os robustos frades deputados;
O Capítulo enfim já começava,
Quando vermelho Frade assim falava:
Que fazeis dominar a Momeria,
Que tendes por herdade, e sois os donos
Do direito feudal dos Cus e Conos;
Vós, que vindes aqui ao Candidato
Com as vãs pretensões de ser Prelado,
Não vos fieis debalde nos talentos,
Que isso seria dar razões aos ventos.
Quem quiser aspirar a ser Prelado
Não deve por talentos ser julgado.
Seja ele embora da mais sábia raça,
Por São Francisco mesmo não há graça
Se não apresentar grande Caralho
Perde agora o seu tempo e o seu trabalho.
Quem melhor o tiver será Prelado
E seja este da escolha o ponto dado.
Dêmos, pois, a nós outros novo lustre
Escolhendo o Caralho mais ilustre.
Preparai-vos, ó Padres, neste instante,
A mostrar-nos o cetro fornicante.
Dos Marsapos brutais a reverência;
Vejamos quem terá a pr’eminência.»
Ainda que cortada meia pica
P’ra ser Geral, ah, vede o que me fica!
Ela é boa, meus Padres, segundo acho,
Seu aspeto bisonho é bem de macho.»
Chega pertinho a ver prodígio tanto.
Depois de examinado o tal corisco,
Duas vezes jurou por São Francisco
Frei Tapa-Cu que o Velho mal julgava,
Com um ar de desprezo assim falava:
Que o velho Santarrão aqui se engana.
Frei Tassalho, segundo o rito usado,
Não tem Porra capaz de ser Prelado.»
Na esquerda a Porra enorme sopesando,
Bem digna de fazer, em todo o estado,
Feliz quem possuísse um tal bocado,
Grosso e vermelho, duro qual o corno:
Não aquele que mostra o frei Tassalho.
Bem pode sem bazófia meu Caralho
Doze vezes fazer o Cono em borra,
Sem que nas seis se desencaixe a Porra.»
Quais palavras que leva o rijo vento;
O Frade desespera da risada
E bate com tal força uma pancada
Com a ponta da Porra no sobrado,
Que o Concílio ficou todo assombrado.
Diz o Frei Tapa-Cu, o Presidente:
«Susta um pouco esse nobre entusiasmo,
Qu’essa Porra brutal nos faz um pasmo.
Um Caralho tão grande e tão grosseiro
Qual raio faz tremer todo o Mosteiro.
A sua vez será de ser medido
E se for o maior será pref’rido.
Padre Examinador, comece a roda.
Com ordem seguirá a chusma toda.
Sejam todos medidos na grandeza,
Na forma, na figura e na beleza,
Não escapando nada no tal Nabo
Que não seja anotado até ao rabo.
Que cada qual enfim mostre o que pode,
E o prémio seja dado a quem mais fode.»
Ficando a resol’ção ‘inda empatada
Frei Fura-Cono e Frei Escalda-Rabo
Dividem entre si o maior Nabo.
Na Porra igual valor mostram os Frades,
Nos Colhões mesma força e qualidades.
A qual dos dois s’elegerá Prelado.
Para tirar os Frades da incerteza,
Exp’rimente cada um sua presteza.
Tragam aqui Rapaz e Rapariga,
Para em tudo cumprir a regra antiga.
Veja-se qual dos dois destes Marsapos
Porá o Cono e Cu em mil farrapos.
Qual dos dois na fodenga é mais mestraço
Ou na frase fradesca, mais Cachaço.»
Eis vem Rapaz, e Moça bem bonita,
Bela qual fresca rosa em primavera,
Onde Amor com prazer ali impera.
Os Frades só de vê-la se arreitaram,
Os Marsapos as bragas arrombaram.
Dá sinal o Geral a Fura-Cono,
Que salta sobre a Moça como um mono.
Foi dito e feito em cima de um estrado,
Que fora para o efeito preparado.
A burrical linguiça lhe pespega,
Obtendo à força quanto Amor lhe nega
Na vítima que jaz ali prostrada,
Pronta a sofrer a horrenda Caralhada.
E qual o Vencedor que a palma ganha
Em langonha e prazer a Porra banha.
Doze fodas lhe dá o Frade logo,
Sem que uma só vez errasse fogo.
O Caralho sacando do Besbelho,
Mostra a Moça loiríssimo Pentelho,
Nevadas Bimbas, que o Coninho esconde,
Crica beiçuda que o pudor confonde.
O Caralho do Frade, erguendo a testa,
Pede nova fodenga e nova festa.
Com luxúria escumando livremente
Entra no Cono estreito de repente.
Mostra em segundo ataque o tal Fradinho
Que Marsapo arreitado abre caminho.
Não podendo passar além do rabo,
O Cono borra com licor do Nabo.
Tem Fura-Cono, ilustre Candidado,
Todos os votos para ser Prelado.
Qu’em uma só pancada fode dez.
Com três golpes de cu mostrou o Frade
Do São Francisco a rara qualidade.
Ficou a Moça desmaiada em pranto,
Que tal pode da Porra o furor tanto!
Trocam-se em ais os choros da Donzela,
Qu’o foder eletriza a Moça bela.
O Frade fodilhão, qual trovoada,
Dos diques genitais abre a enxurrada.
Avante, sem parar, no Como ardente,
Doze vezes soltou a grossa enchente.
Findadas, doze, cuida a Fradaria
Que a proeza do Frade acabaria.
Eis que, voltando da Moçoila a facha,
Vermelha Porra pelo Cu lhe encaixa.
Duas fodas lhe dá quando, acabando,
O Caralho do Cu saca pingando.
Em seu favor os votos tem o Frade
Da potente fodaz Comunidade.
Com dentes no saial, mão no Caralho.
E com voz de trovão assim falava
Ao Concílio fodaz, que já votava:
E a pretendo impugnar, juro por Marte!
Não é tão graúdo, Padres, meu Caralho,
Mas para fornicar, eis Frei Tassalho.
A prova é esta: dou-lhes sota e ás,
Começando a foder este rapaz.»
Vai o Cu do rapaz patenteando
E, sem cuspir em cima, encaixa a Porra;
No rego culatral dá suja borra.
As mãos bate a sórdida Quadrilha,
Cuidando ser milagre, ou maravilha.
O Frade, sem perder razão ou tino,
Fura sem dó o vaso masculino,
Dizendo foderá ali um ano
Sem que jamais do Cu tirasse o cano.
Fodeu o Santarrão no tal traseiro
Por seu próprio gosto um dia inteiro.
Foi Frei Tassalho eleito plenamente
Quando um Frade taful, barrando a estrada,
Saída nega a toda a canalhada,
Dizendo que nenhum Geral seria
Sem primeiro mostrar que foderia
Quarenta vezes, tanto em Cu e Cono,
Em honra do convento e do Patrono.
Protestando apelar deste Concílio
Por um erro maior que o do sigílio:
Fodendo d’alto a baixo este convento.
Inda pois que o Capítulo murmura,
Hei de fodê-lo através da fechadura!»
Os Frades vai pilhar nesta cilada.
A Confraria assenta que convinha
Se apresentasse o Cu a quanto vinha.
Tantos que saem, quantos vão fodidos.
Nem mesmo os Velharões são excluídos.
O Frade por detrás a todos fode,
Fazendo dos seus Cus barbas de bode.
E a todos fornicou com força tal
Que não podem negar-lhe o ser Geral.
Incluído na «Antologia do homoerotismo na poesia portuguesa», pp. 174 a 181
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Prostituição: carta aberta - a realidade na sombra
Publicação de 21/5/2010 da Miss Joana Well, eliminada pelo Blogger em 28/3/2023 sem qualquer justificação mas que, por ser importante divulgar e não ter nenhum conteúdo ilegal em Portugal, volto a publicar.
Não, eu não quero falar.
Prefiro escrever poesia, metáforas, contos. Mas aqui não há luz; existem corredores na sombra e outros ainda no escuro. E na sombra e no escuro crescem os fungos. Falar é lançar luz. Falar é acender a lâmpada que permite que os olhos alheios percorram estes corredores.
Esta é a realidade, não como a pensam, não como a julgam, não como a imaginam, não como tem sido mostrada: é a realidade tal como ela é. Falar é tentar manter os corredores limpos e dignos. A realidade. A realidade é que recebo mensagens de mulheres (e homens) e não sei o que responder. Aliás, mal entendo o que me escrevem: "Quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ser acompanhante de alto luxo"... "Sou muito bonita por isso quero ser acompanhante de luxo"... "Quero ter uma vida fantástica, fácil, quero ganhar muito dinheiro, quero jantar, viajar e conhecer pessoas interessantes e/ou famosas, quero ser acompanhante de luxo".
E depois a cartada final: "Explica-me como faço"...
E eu tenho vontade de responder que não faço a mais pequena ideia, que nem sei o que significa a palavra "acompanhante" aplicada a este contexto, nisto que é a prestação de serviços sexuais; tenho vontade de lhes dizer que sou prostituta e só conheço prostitutas como eu, prestadoras de serviços sexuais; que a palavra acompanhante, neste contexto, é apenas uma forma de suavizar, uma forma de defender a nossa sensibilidade e a de quem nos procura, uma forma de proteger olhos mais susceptíveis, uma forma em forma de placebo, uma ilusão com que tentamos defender o estômago. Eu sou prostituta; defende-me o estômago a aceitação da palavra. O que conheço é prostituição: algumas cobram mais pelos seus serviços e outras cobram menos, valores esse que podem ser cobrados por relação sexual, por tipo de relação sexual, por tempo: quinze minutos, meia hora, uma hora, duas ou três horas, um dia, uma noite, uma semana. Só muito excepcionalmente a procura não solicita a prestação sexual, a forma de solicitar e a forma de lá chegar pode ser mais explícita ou implícita, mais directa ou mais indirecta, mais ou menos romântica – mas o objectivo é chegar ao sexo, independentemente do tipo de "preliminares" escolhidos: conversa, jantar, empatia, telefonema e marcação daí a meia hora, etc. Os serviços mais procurados são os cobrados por número ou tipo de relação sexual ou os serviços cobrados por tempo até à marca da hora (quinze minutos, meia hora, uma hora). Serviços mais "longos" são raros e quanto mais "especiais" mais raros são. A qualidade do serviço sexual é avaliada por alguns com base – essencialmente ou apenas – na estrutura geométrica da coisa: posições, malabarismos, tipos de sexo, o rosto, o corpo da parceira, e assim por diante. Outros avaliam-no – essencialmente ou apenas – com base na química, na empatia, na simpatia, na sensação de exclusividade, ou o que for. As características do serviço procurado, em cada caso, dependem mais do próprio cliente do que do tipo de serviço escolhido: um cliente pode contratar um serviço pago por relação sexual ou, por exemplo, por meia hora, e, ainda assim, ser um cliente que dá mais importância à química e à empatia do que à "estrutura geométrica" do sexo e da mulher escolhida. As prostitutas que normalmente chamamos de "acompanhantes de luxo" são – quase sempre – as que maioritariamente prestam serviços por meia hora ou uma relação (entre os 50 e os 80 euros) e uma hora (entre os 80 e os 100 euros). Destes valores para cima existe mercado mas é mais escasso e escasseia mais quanto mais o valor sobe. Aliás, basta espreitar um dos sites mais conhecidos, onde as acompanhantes se anunciam, para verificar que, dentro dos valores que referi (até aos 100 euros), se pode contratar serviços de belíssimas mulheres dispostas a agradar; a concorrência é feroz, o número de mulheres nesta actividade é uma elevadíssima incógnita. Tudo se pode encontrar dentro destes valores, por isso, as mulheres que cobram ainda mais, especialmente se ainda desconhecidas ou principiantes, vão ter menos (às vezes, nenhuma) procura. Só um golpe de sorte pode fazer com que uma mulher, ao iniciar-se nesta actividade, comece a cobrar valores superiores a estes e tenha sucesso, especialmente se estiver a contar com serviços maravilhosos que incluem jantares, passeios, noites, etc., para não falar dos riscos constantemente ignorados em aceitar um desses serviços que implica acompanhar um estranho. É também necessário ter um local onde receber os clientes: serviços de deslocação a hotel são mais raros e deslocações a domicilio implicam enormes riscos.
Ou seja, ser prostituta (excluindo a rua) implica despesas elevadíssimas: apartamento ou quarto, anúncios em sites ou jornais e investimentos na própria imagem. Alugar um apartamento e receber sozinha também é um risco, evidentemente; passamos o dia a quebrar a regra de segurança numero um - não abrir a porta a desconhecidos. Encontrar uma colega ou mais com quem dividir o apartamento também se pode revelar tarefa complicada: as personalidades podem chocar-se ou a pessoa escolhida pode revelar-se pouco responsável com horários, higiene, divisão de despesas, etc.; tudo se torna complicado num mundo em que se reserva a identidade, ninguém sabe quem é quem e tudo pode acontecer mais facilmente.
Face a estas dificuldades e desconhecimento do meio, muitas mulheres optam por trabalhar por conta de outrem, porque a casa suporta todas as despesas e pode proporcionar mais segurança; em troca, cada mulher dá à casa uma percentagem por cada cliente que atende, geralmente cinquenta por cento. Considero esta opção legítima enquanto opção, enquanto escolha e preferência e decisão da própria mulher; todos os profissionais têm o direito de decidir se querem trabalhar por conta própria ou de outrem.
Alertas: o lenocínio é ilegal. Tradução: ele existe na sombra, não há ninguém que fiscalize as condições em que ele existe, não há ninguém que proteja as trabalhadoras da entidade profissional. As condições a que as mulheres nesta actividade estão sujeitas quando trabalham em casas dependem, neste momento, única e exclusivamente do carácter do proprietário ou proprietária da casa em que "aterram" e isto pode, sim, tornar as coisas muito complicadas. O lenocínio não vai deixar de existir por ser ilegal, isto só lhe vai dar carta branca para existir nos moldes que a gerência dessas casas quiser.
A prostituição não vai deixar de existir por ser escondida, "alegal", discriminada enquanto profissão; vai apenas continuar a existir numa escuridão que esconde criaturas e acontecimentos negros, bem negros. A "alegalidade" é perigosa, a "alegalidade" deixa-nos desprotegidas perante riscos diversos, a "alegalidade" é apenas um "lavar de mãos" imoral e vergonhoso. Não sou acompanhante, sou prostituta; não conheço acompanhantes, apenas prostitutas; desconheço vidas fantásticas, glamourosas, luxuosas - mas conheço riscos, dificuldades, uns dias melhores que outros e alguma compensação financeira. Claro que não conheço a realidade toda, mas garanto que já por aqui ando há tempo que chegue e sobre para conhecer a maior parte. A quem decidiu escolher este caminho desejo boa sorte – é que vai mesmo precisar dela!
Miss Joana Well
21/5/2010