Ela era uma verdadeira mestra dos sentidos.
Depois de me ter desabotoado a camisa mandou-me deitar e, peça a peça, descalçou-me os sapatos, despiu-me as calças e as meias, deixando-me só com a fina peça de tecido interior.
Ficou a olhar para o meu corpo de vinte e poucos anos. Toda ela em deleite de um poema espontâneo temperado com a experiência do saber.
Deu-me a mão e levantou-me novamente.
Não desviou o olhar do meu. Encostou-se ao lado de mim, o púbis junto à minha anca.
Pôs-me uma mão no ombro e devagar, com a palma da outra mão encostada ao meu estômago, foi descendo, vencendo muito devagar a ténue resistência do elástico. A perna esquerda ligeiramente subida roçando levemente a parte de trás das minhas pernas. Os lábios quase a morder os meus, mas mantendo-se ali mesmo a um dedo de alcance, fazendo-me aumentar do desejo e ferver todo o sangue dentro de mim. Parou, pegando-me nos testículos em concha, deixando escapar o membro por entre o polegar e o indicador. Muito ao leve massajou-me, apertando os dois dedos em anel de forma a aumentar a erecção. Sentia todo um tremor a atravessar o corpo.
Na minha mente todo um exército avançava de espada em punho, cavaleiros em poesia prontos a derrubar triunfalmente as portas do paraíso entrando de trombetas no mundo dos deuses. O cheiro de mulher a derrubar todas as barreiras. As mãos a percorrer-me o corpo de músculos todos retesados em antevisão do gozo supremo.
Subitamente parou e, encostando-se a mim, levou-me para o duche, uma cabina de tamanho pequeno.
Entrei e abri as torneiras sentindo a maravilha do contacto da água com a pele num corpo que estava sequioso e ardendo em desejo. O elemento líquido corria e juntava-se em cascata na convergência das pernas deslizando pelo beiral do meu corpo, metáfora duma ejaculação constante e fertilizadora em simbiose e entrosamento com a Mãe água que caía fecundada de mim.
Senti um alívio da pressão e respirei por entre as nuvens de vapor.
Nisto, ela entrou também e com alguma dificuldade fechou a porta circular deslizante.
Corpo divino de mulher encostado ao meu, escorregando pelos rios que me enchiam o corpo e a mente.
Voltei à pressão máxima, agora com ainda mais ilusão e querer.
Pôs-me as mãos nas ancas e com uma sapiência absoluta fez-me deslizar para dentro dela. Ainda hoje não sei como conseguimos fazer aquilo num espaço tão exíguo. Já não era um exército que invadia o paraíso. Era um mar de línguas, de corpos em convulsão. Perdidos numa tempestade de emoções que invadiam toda a cabina para onde o Céu havia mergulhado.
A água a bater-nos no rosto e escorrendo pelos corpos que os braços escorregadios mal conseguiam abraçar.
Encostámo-nos firmemente um ao outro, entregues à loucura do momento que vale para todo o sempre, numa explosão breve da Eternidade...
(continua)
Charlie