Parte IVNum sorrir, misto de enigma e lascívia, continuou a passear o objecto cilíndrico pelo corpo, flutuando entre as axilas e umbigo, passando debaixo dos peitos, subindo pelo meio deles enquanto projectava o outro braço e o corpo para cima, em bicos dos pés, atirando a cabeça para trás e deixando os cabelos ainda húmidos fundir-se num corpo em retorta de magia.
Pelo ar, cheiros dos corpos ainda quentes do banho, espalhavam uma suave auréola de ilusão que me transportava nos braços em transes hipnóticos, fluidos e contínuos entre os claros escuros daquele espaço.
Ela continuou nos seus voos oníricos e aproximou-se um pouco mais.
Pegou numa toalha quase vermelha e com ela entrosou-se numa coreografia que levou quase até ao fim da lição.
Inflectiu, encolhendo os ombros fazendo sobressair os peitos que se juntaram, desenhando, com o vibrador, círculos à volta dos mamilos que se iam enrijando à medida que a pele ia ficando toda arrepiada. Fazia isto lentamente, assumindo poses que se metamorfoseavam de umas para as outras numa dança contínua e sensual. Escondia e mostrava o sexo. Circulava com o corpo pela minha imaginação sabendo muito bem tirar partido do valor dos momentos, da simulação e dos encantos transitórios e flutuantes, ocultando-se habilmente com a toalha semi escondendo assim tudo o que pretendia mostrar.
Punha-se de perfil e de costas, de pernas trocadas, sempre em movimentos de neblina, translúcidos até ao ponto onde a visão se perde na densidade da realidade mergulhada nos vales que adivinhamos, e onde gotas de orvalho se nos formam nos lábios e nos trazem gostos de desejos e lembranças escondidas nos nossos sonhos íntimos mais secretos.
Enroscou a boca num ombro e, com a cabeça voltada para o lado, mordeu-se enquanto os seus olhos iam adensando o nevoeiro que dentro de mim se espalhava em farrapilhos levados por ventos cada vez mais intensos. Abrindo e fechando portas misteriosas em meias sombras feitas de emoções em rotação permanente, vindas das profundezas dos tempos quando o Homem das cavernas descobriu na Lua o poema de ver Mulher na sua companheira...
Aproximou-se.
Rodou depois o corpo e a minha fantasia, e com as mãos cruzadas à frente descobriu brevemente a entrada do seu Paraíso. Aromas de países irreais e distantes aprisionaram-me todo o corpo e tentei deitar-lhe a mão.
Afastou-me imperiosa!
Ela era a Mestra. Eu, um mero aprendiz.
Os olhos dela deitavam o lume do desejo primitivo misturado com a vontade de exercer a soberania sem concessões.
Agora estava junto a mim, de pé, corpo projectado contra o tecto, de mamilos hirtos a coroar uns peitos firmes por trás dos quais espreitavam dois olhos dominadores que me engoliam. O aparelho descia pelas ancas direito aos meus ombros onde ela se encostava com o sexo a poucos centímetros de todo o meu querer.
Passeou o aparelho pelo meu tronco detendo-se nos mamilos, desceu para o umbigo e para a zona genital ao mesmo tempo que toda ela se ia derretendo mãos e boca em mim. Estava completamente arrepiado!
Sem um ruído deslizámos um sobre o outro, corpos entregues na fusão total dos sentidos. Línguas a devorar o desejo nas bocas que se asfixiavam de tanto querer.
Mergulhámos mais uma vez no reino dos Deuses de corpos abandonados à Eternidade.
Mestra e aluno no êxtase de uma eterna primeira lição que nunca mais parei de aprender...
Charlie