Por ti, deixarei de ser deusa do Nilo
Para me tornar oceano.
Enrolar as minhas pernas,
Diluída em ti, nas tuas costas.
Ondular sobre ti.
Chegar a ti em pequenas ondas,
Repetidamente, em crescendo.
Mergulhares no meu corpo.
Embalar-te com a canção do mar.
Atingir-te com o tsunami do prazer,
Onda gigante final.
Depois, a calmaria
Descer na maré
Ficares assim deitado
A saborear a maresia de mim…
Quero ser oceano para ti,
Tudo o que tu quiseres.
Só o amor gere grandes transformações.
Preciso de me metamorfosear
Para poder deslumbrar-te todos os dias…
Anukis
04 fevereiro 2006
03 fevereiro 2006
As catorze obras do berloque A Funda SÃO
Sete obras corporais:
A primeira é salvar os cativos e visitar os presos de outros berloques
A segunda é curar os enfermos (levanta-te e lê a posta)
A terceira é cobrir os nus de “prêt-à-porter”
A quarta é dar postas de gajas boas aos famintos
A quinta é dar de beber aos que têm sede (desejo ardente de postas)
A sexta é dar ajuda aos peregrinos e pobres que deambulam pela Net
A sétima é enterrar os berloques que se finaram
Feitas com o corpo e para o corpo!
Sete obras espirituais:
A primeira é ensinar os simples que vogam na Net
A segunda é dar sempre bons conselhos (obrigado São)
A terceira é castigar com caridade as que erram
A quarta é consolar as tristes desconsoladas
A quinta é (tentar) perdoar a quem nos vilipendiou
A sexta é sofrer as injúrias da vida e das mulheres com paciência
A sétima é rogar para que o nosso berloque apareça no top do Technorati
Feitas com espírito e para o espírito, dado que o corpo é fraco!
bom fim de semana
Foto: Pedro Soares
CISTERNA da Gotinha
Top Ten Robots femininos + Sexy
Why Do Men Have Nipples?
Lingerie Bowl
As Mulheres Mais desejadas de 2006
Kayleigh - sessão fotográfica da FHM
Sexo na casa de banho
Macho Sizer - uma ideia para o dia dos Namorados.
Calendário das meninas do queijo.
Não quero que vos falte nada: amor pelas traseiras e uma aventura de uma só noite.
Why Do Men Have Nipples?
Lingerie Bowl
As Mulheres Mais desejadas de 2006
Kayleigh - sessão fotográfica da FHM
Sexo na casa de banho
Macho Sizer - uma ideia para o dia dos Namorados.
Calendário das meninas do queijo.
Não quero que vos falte nada: amor pelas traseiras e uma aventura de uma só noite.
Derrubaram a torre emblemática desse pedaço de mim - por Charlie
Sempre que passo ao Saldanha,
e olho para um dos lados da praça feita rotunda,
enche-se me os olhos duma nostalgia breve,
amarga e surda.
Falta lá o Monumental.
Um bocado da alma
das avenidas novas de Lisboa.
Uma destas noites atravessei esse espaço.
E desviando os olhos para não ver.
Olhei para o céu.
E num olhar baço,
lembrei-me sem querer,
dum poema de Pessoa...
"Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo.
Há tanto tempo...
Tenho dó delas
Não haverá um cansaço
Das coisas.
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?
De um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ao sorrir...
Não haverá enfim
Para as coisas que são,
Não a Morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão
Qualquer coisa assim
Como um grande perdão?"
Perdão... - pensei, escorrendo o olhar.
Não! Não poderei perdoar jamais a destruição das memórias!
Conheci esse largo atravessado por milhões de automóveis, pela primeira vez como a grande maioria das pessoas.
Subindo do Marques de leão aos pés pela Avenida Fontes Pereira de Melo com destino ao Apolo 70.
O must na época.
Mas foi mais tarde, quando passeando a pé pelas ruas que ligam a Av. Almirante Reis à Av. da República, circundando a Estefânia, Rua Pascoal de Melo, Casal Ribeiro e outras respirando Lisboa, que a encontrei.
Era linda como um poema de Pessoa.
Parámos olhando-nos um instante e os nossos olhares fixaram-se na mesma estrela brilhando a meias que de repente ofuscou o Sol.
Ela riu-se ligeiramente com o olhar e em mim incendiou-se em fogo o pó de que são feitos os Astros.
Convidei-a a um café e um pouco de conversa.
Mas ela disse-me, brilhando, que ia ao cinema e que estava quase na hora.
Nasceu desse segundo a Eternidade que faz hoje parte de mim.
Fomos os dois e uma amiga, que já a esperava no átrio, trocámos de lugares e ainda hoje tenho presente o filme que as nossas mãos e lábios rodaram nessa tarde.
Encontrámo-nos mais umas vezes.
Nós dois aves de liberdade em rota casual de convergência. Amámo-nos com a loucura inebriante de quem só é escravo dos desejos e que nada nem ninguém pode prender.
Os nossos lábios, corpos e almas só aos Deuses pertenciam e eles faziam de nós joguetes das suas paixões.
Amei essa jovem com toda a minha juventude e querer e, sem dar por isso, saltámos da nossa árvore para o céu livre e aberto dos nossos destinos.
O tempo consumiu-se numa aragem sem dar por isso...
Procurei-a recentemente. No mesmo sítio onde os nossos olhares abriram uma brecha e descobriram o sonho em pleno dia.
Não voltei a vê-la mais. As recordações souberam-me ao amargo das cores desbotadas dos prédios.
"Nunca voltes ao lugar onde foste feliz"
A canção soou-me como uma faca que eu mesmo espetava em mim. Uma sensação inexplicável de sofrimento desejado que os Portugueses inventaram e cultivam sob o nome de Saudade.
Parei antes de chegar ao amargo das minhas memórias e voltei para trás.
Rua Passos Manuel e outras ruelas até aos Anjos, onde os encontros não têm saudades.
Tudo o que ficou de ti é que passo ao largo do Saldanha e a alma sente o baque tremendo do dia em que derrubaram a torre emblemática desse pedaço de mim.
Charlie
e olho para um dos lados da praça feita rotunda,
enche-se me os olhos duma nostalgia breve,
amarga e surda.
Falta lá o Monumental.
Um bocado da alma
das avenidas novas de Lisboa.
Uma destas noites atravessei esse espaço.
E desviando os olhos para não ver.
Olhei para o céu.
E num olhar baço,
lembrei-me sem querer,
dum poema de Pessoa...
"Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo.
Há tanto tempo...
Tenho dó delas
Não haverá um cansaço
Das coisas.
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?
De um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ao sorrir...
Não haverá enfim
Para as coisas que são,
Não a Morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão
Qualquer coisa assim
Como um grande perdão?"
Perdão... - pensei, escorrendo o olhar.
Não! Não poderei perdoar jamais a destruição das memórias!
Conheci esse largo atravessado por milhões de automóveis, pela primeira vez como a grande maioria das pessoas.
Subindo do Marques de leão aos pés pela Avenida Fontes Pereira de Melo com destino ao Apolo 70.
O must na época.
Mas foi mais tarde, quando passeando a pé pelas ruas que ligam a Av. Almirante Reis à Av. da República, circundando a Estefânia, Rua Pascoal de Melo, Casal Ribeiro e outras respirando Lisboa, que a encontrei.
Era linda como um poema de Pessoa.
Parámos olhando-nos um instante e os nossos olhares fixaram-se na mesma estrela brilhando a meias que de repente ofuscou o Sol.
Ela riu-se ligeiramente com o olhar e em mim incendiou-se em fogo o pó de que são feitos os Astros.
Convidei-a a um café e um pouco de conversa.
Mas ela disse-me, brilhando, que ia ao cinema e que estava quase na hora.
Nasceu desse segundo a Eternidade que faz hoje parte de mim.
Fomos os dois e uma amiga, que já a esperava no átrio, trocámos de lugares e ainda hoje tenho presente o filme que as nossas mãos e lábios rodaram nessa tarde.
Encontrámo-nos mais umas vezes.
Nós dois aves de liberdade em rota casual de convergência. Amámo-nos com a loucura inebriante de quem só é escravo dos desejos e que nada nem ninguém pode prender.
Os nossos lábios, corpos e almas só aos Deuses pertenciam e eles faziam de nós joguetes das suas paixões.
Amei essa jovem com toda a minha juventude e querer e, sem dar por isso, saltámos da nossa árvore para o céu livre e aberto dos nossos destinos.
O tempo consumiu-se numa aragem sem dar por isso...
Procurei-a recentemente. No mesmo sítio onde os nossos olhares abriram uma brecha e descobriram o sonho em pleno dia.
Não voltei a vê-la mais. As recordações souberam-me ao amargo das cores desbotadas dos prédios.
"Nunca voltes ao lugar onde foste feliz"
A canção soou-me como uma faca que eu mesmo espetava em mim. Uma sensação inexplicável de sofrimento desejado que os Portugueses inventaram e cultivam sob o nome de Saudade.
Parei antes de chegar ao amargo das minhas memórias e voltei para trás.
Rua Passos Manuel e outras ruelas até aos Anjos, onde os encontros não têm saudades.
Tudo o que ficou de ti é que passo ao largo do Saldanha e a alma sente o baque tremendo do dia em que derrubaram a torre emblemática desse pedaço de mim.
Charlie
02 fevereiro 2006
Útero
Adorava pendurar-me no pescoço dele a debicar-lhe os lóbulos das orelhas. Descer um fio de língua pelo seu pescoço enquanto lhe comprimia as nádegas com os meus tornozelos. Despentear-lhe os cabelinhos crespos com ambas as mãos para lhe sorver a face num beijo que dava sentido ao céu da boca. Forçá-lo a deitar o tronco para semear saliva na linha de pêlos que do meio do tronco descia ao umbigo antes de o submergir em gluglus sucessivos. Sentir as suas mãos rodarem-me a direcção do corpo para me baixarem as ancas à linha do seu olhar e os seus lábios me debicarem como se faz aos cachos de uvas. Prolongar aquela mastigação mútua até ao minuto anterior àquele em que começam a doer os maxilares e adormecer.
E ao imaginar continuamente esta cena percebi que o nosso desejo é sempre perfeito porque construído dentro de nós, pelo que não é mais que um útero. E foi aí, Sãozinha, que desatei a comer chocolate Canderel. Toda a enormidade da caixa que tinha em casa, por serem os que têm menos calorias, destruindo em minutos o objectivo de regradamente comer um de cada vez, mas garanto-te que foi magnífico o seu efeito laxante, nas mágoas e em mim.
E ao imaginar continuamente esta cena percebi que o nosso desejo é sempre perfeito porque construído dentro de nós, pelo que não é mais que um útero. E foi aí, Sãozinha, que desatei a comer chocolate Canderel. Toda a enormidade da caixa que tinha em casa, por serem os que têm menos calorias, destruindo em minutos o objectivo de regradamente comer um de cada vez, mas garanto-te que foi magnífico o seu efeito laxante, nas mágoas e em mim.
01 fevereiro 2006
Qual a Melhor Legenda?
(via Webpark)
Minete invertido (Bruno)
Auto-minete (São Rosas)
Hemorroidal gigante (Tiko Woods)
Ziggy Stardust and the spyders from Mars (Seven)
"Cu sem medo" ou "Conassanhada" (Madr)
Photoshop? (Lolaviola)
Beijos molhados (Ocasional)
Estará a comer esta saladinha? (Corpos e Almas)
Pode ser usado numa campanha publicitária de aspiradores,
Há quem prefira o biberon (Predatado)
Botão de rosa com força a mais (Nuno)
"Lamber de dentro para fora" ou "Faz aos outros aquilo que gostas que te façam a ti"
"Uma língua para o caralho" ou Clitoris Gigantis (Mano 69)
"Ganda fodroche" ou "ganda brochoda" (Garfanho)
Quem me dá um Linguado? (Mr. Doc.)
Nova verSão cona 2 em 1: lambe & fode
Peça já a sua!
Os 50 primeiros phodidos... digo, pedidos receberão um conjunto de panelas de presSão (marca Nelo) e 2 vibradores tailandeses com sistema digital incorporado (Dina)
Tromba de Fellatio (Ferralho)
Uma crica com a língua de fora ... deve estar à espera da hóstia (1313)
Perdida em combate (Nikonman)
A crueza das palavras leves
"Tudo que peço da vida é um punhado de livros, um punhado de sonhos e um punhado de vulvas"
"Um artista está sempre sozinho, se é artista".
in, Henry Miller, Trópico de Câncer
Há mil palavras para designar o sexo feminino.
Poderia enumerar tantas quanto os fabulosos dicionários que circulam pela net
e pelas estantes mágicas das bibliotecas secretas.
Mas não vou escrever nenhuma.
Vou deixar que tu inventes uma palavra para mim.
Que a escrevas com o teu sémen nas minhas costas
e que a digas dentro do meu olhar…
enquanto sentires o meu silêncio
gritado no espasmo final dos corpos.
"Um artista está sempre sozinho, se é artista".
in, Henry Miller, Trópico de Câncer
Há mil palavras para designar o sexo feminino.
Poderia enumerar tantas quanto os fabulosos dicionários que circulam pela net
e pelas estantes mágicas das bibliotecas secretas.
Mas não vou escrever nenhuma.
Vou deixar que tu inventes uma palavra para mim.
Que a escrevas com o teu sémen nas minhas costas
e que a digas dentro do meu olhar…
enquanto sentires o meu silêncio
gritado no espasmo final dos corpos.
...não
Ora digam lá se esta não é uma excelente oportunidade para reanimar os provérbios populares?
Eu dou o mote: Casa onde não há pau se alguém fode mau, mau!
Eu dou o mote: Casa onde não há pau se alguém fode mau, mau!
O almoço de Natal
A mesa estava posta com o requinte que a quadra exige: toalha de pano com motivos natalícios; os melhores talheres e loiças; ilustres copos de pé alto e uma vela acesa no centro da mesa.
Os quatro, pai, mãe, filha e genro, de guardanapos no colo, preparavam-se para o almoço de Natal, de sorrisos em formol e palavras em surdina.
O genro sentia uma inusitada e inexplicável frieza, confirmada quando o sogro lhe serviu um vinho tinto corrente de uma marca de supermercado. Algo não estava bem, nada bem.
Enquanto a sogra se levantava para abrir a terrina e servir a sopa, ele procurou os olhos da mulher tentando obter uma justificação, uma pista que lhe permitisse ter uma ideia do que se estava a passar. Ela ostensivamente baixou os olhos, evitando qualquer contacto. Resignado, agradeceu a sopa, pegou na pesada e amarelecida colher e começou lentamente a comer, calculando a qualidade e quantidade de elementos químicos que iria absorver no contacto com os vetustos talheres.
Todos comiam em respeitoso silêncio, até que
– Nunca me bates nas nádegas – disse a mulher, entre duas colheres de sopa.
Ele engasgou-se, tossiu, olhou para os sogros que não deram sinais de ter ouvido a queixa da filha e olhou-a para confirmar que tinha ouvido o que ouvira.
Ela acenou com a cabeça, confirmando a afirmação.
Ele levou outra colher de sopa à boca, procurando na normalidade do movimento algum consolo e segurança.
– Nunca me bates nas nádegas – tornou ela a lamuriar-se.
Ele abafou um risinho nervoso que lhe tomava conta do peito e ameaçava explodir descontroladamente e, sem levantar a cabeça, pousou a colher no prato, procurou o copo e preparava-se para beber quando o sogro lhe perguntou de chofre:
– Não estás a ouvir, João?
Ele perdeu a noção do espaço, sentiu uma vertigem e derrubou o copo cheio de vinho tinto, fazendo a mulher e os sogros darem um salto, afastando-se da maré vinícola que se espalhava em todas as direcções. Ele olhou a mesa a escorrer, balbuciou um abafado pedido de desculpas, endireitou o copo e erguendo-se devagar, apoiado na mesa, reafirmou:
– Desculpem, não sei o que se passou.
– Nós é que não sabemos o que se passa, João! – Recriminou a sogra, ríspida, como ele nunca a vira ou ouvira. – A Luisinha diz que tu não lhe bates nas nádegas!
Ele tornou a sentar-se, incrédulo.
O sogro, ainda em pé, tomou a palavra:
– Sim, a Luísa tem-se queixado à mãe que, desde que vocês se casaram, tu nunca mais lhe bateste nas nádegas.
– Eu nunca lhe bati nas nádegas – respondeu ele, num fio de voz.
– Pior – gritou o sogro. – É verdade, Luísa, este animal nunca te deu umas boas palmadas nas nádegas?!
– Não, paizinho, nunca... – choramingou a Luísa.
– Ó meu Deus – invocou a sogra, juntando as mãos no peito – isso é que tu nunca me tinhas dito, filha...
A mãe aproximou-se da filha e abraçou-a.
– Eu pensava que depois de casarmos...– começou a Luísa.
– Não, não! – Gritou o pai. – Casaste com um banana, filha! Um banana!
– Ó paizinho, não diga isso. – A Luísa largou a mãe, que chorava olhando o genro, e, virando-se para o pai, continuou: – Eu pensava que se me pusesse a jeito ele se entusiasmasse, paizinho, se entusiasmasse e me desse umas palmadas nas nádegas...
– Ó filha, te pusesses a jeito, filha... – soluçou a sogra. – És um anjo, minha filha, mas o João não é para ti, o teu pai tem razão, ele é um banana.
– Um banana! – Tornou o sogro, satisfeito com a escolha da fruta. – Nem umas palmadas nas nádegas da mulher sabe dar, o banana! Que tristeza... Que pouca sorte...
– Mas eu não sabia que ela gostava – tentou ele justificar.
– Não gostava?! – Rosnou a sogra. Ele olhou-a espantada, ela olhava-a, mas não o via. – Não gostava?! Mas há lá alguma mulher que não goste de levar umas boas palmadas nas nádegas?!
Ele sentiu a boca abrir e fechar sem produzir nenhum som. Viu o vinho entornado, a sopa coalhada e o cabrito assado em cima do fogão a rir-se, gozando-o.
– És um banana – repetia o sogro, abanando a cabeça e olhando-o com absoluto desgosto e desânimo. – És um banana.
– Ela nunca me disse nada – gemeu ele. – Podia ter dito.
– Podia ter dito?! – A sogra estava completamente descontrolada. – Podia ter dito?!
– Calma, mãezinha, calma.
– Mas quem é que tu pensas que a minha filha é? – Gritou a sogra. – Pensas que ela é o quê?!
– Calma, mulher – recomendava o sogro, já sentado, mas afastado da mesa, – calma.
– Calma, nada! – A sogra impôs-se, baixou o tom de voz, que continuava ameaçador e continuou: – Então, o senhor queria que a minha filhinha lhe pedisse – fez voz de coitadinha – "Ó Joãozinho, bate-me, bate-me nas nádegas, que eu gosto."
Ele olhou a sogra sem saber se havia de dizer alguma coisa, pensou em dizer que sim, que se ela gostava devia tê-lo dito, mas em boa hora não o fez, pois, o pior ainda estava para vir:
– A minha filha não é nenhuma rameira! – Espumou a sogra. – Pode gostar que lhe batam nas nádegas, como todas as mulheres, mas não o diz. Não o diz, ouviu?! É educada! Educada!
A filha abraçou a mãe que chorava baba e ranho – mais ranho que baba, mas isso é irrelevante – e fez sinal ao pai para dizer qualquer coisa.
O pai, compreendendo o melindre da situação e temendo que o cabrito ficasse rijo ou mesmo que encarquilhasse com o frio – as personagens pensam assim, o que pode um narrador fazer? O homem era maluco –, tornou a encher o copo do genro e disse:
– O que é que tu pensas da vida, meu rapaz?
A filha acenou-lhe agradecida, a mãe fungava e o genro sentiu que tudo se podia ainda compor.
– Achas que consegues dar conta do recado? – Insistiu o sogro.
– Deixe-me comer o cabrito – disse o genro, cheio de valentia, – que eu logo lhe dou o que ela quer.
A sogra suspirou e assoou-se ruidosamente, desanuviando o ambiente.
– Amanhã nem te sentas! – Berrou o pai, com uma gargalhada.
– Ó paizinho... – disse a filha, embevecida perante a perspectiva.
– Também não é preciso exagerar – aconselhou a mãe enquanto limpava o nariz. – As nádegas precisam de habituação e cuidado... É preciso jeitinho...
– Com jeito vai... – berrou o sogro, rindo. – Com jeito!
Ela lançou-lhe um beijo, ele respondeu mordendo o lábio inferior e com a mão direita deu umas palmadas em nádegas imaginárias.
– Tem jeito, o gajo – lançou o sogro, fazendo um brinde com o genro: – Que nunca nos faltem nádegas, meu rapaz!
– Que falta de educação, Francisco – recriminou a sogra, pegando na colher com ar afectado, enquanto eles batiam com os copos. – Que falta de educação.
Os quatro, pai, mãe, filha e genro, de guardanapos no colo, preparavam-se para o almoço de Natal, de sorrisos em formol e palavras em surdina.
O genro sentia uma inusitada e inexplicável frieza, confirmada quando o sogro lhe serviu um vinho tinto corrente de uma marca de supermercado. Algo não estava bem, nada bem.
Enquanto a sogra se levantava para abrir a terrina e servir a sopa, ele procurou os olhos da mulher tentando obter uma justificação, uma pista que lhe permitisse ter uma ideia do que se estava a passar. Ela ostensivamente baixou os olhos, evitando qualquer contacto. Resignado, agradeceu a sopa, pegou na pesada e amarelecida colher e começou lentamente a comer, calculando a qualidade e quantidade de elementos químicos que iria absorver no contacto com os vetustos talheres.
Todos comiam em respeitoso silêncio, até que
– Nunca me bates nas nádegas – disse a mulher, entre duas colheres de sopa.
Ele engasgou-se, tossiu, olhou para os sogros que não deram sinais de ter ouvido a queixa da filha e olhou-a para confirmar que tinha ouvido o que ouvira.
Ela acenou com a cabeça, confirmando a afirmação.
Ele levou outra colher de sopa à boca, procurando na normalidade do movimento algum consolo e segurança.
– Nunca me bates nas nádegas – tornou ela a lamuriar-se.
Ele abafou um risinho nervoso que lhe tomava conta do peito e ameaçava explodir descontroladamente e, sem levantar a cabeça, pousou a colher no prato, procurou o copo e preparava-se para beber quando o sogro lhe perguntou de chofre:
– Não estás a ouvir, João?
Ele perdeu a noção do espaço, sentiu uma vertigem e derrubou o copo cheio de vinho tinto, fazendo a mulher e os sogros darem um salto, afastando-se da maré vinícola que se espalhava em todas as direcções. Ele olhou a mesa a escorrer, balbuciou um abafado pedido de desculpas, endireitou o copo e erguendo-se devagar, apoiado na mesa, reafirmou:
– Desculpem, não sei o que se passou.
– Nós é que não sabemos o que se passa, João! – Recriminou a sogra, ríspida, como ele nunca a vira ou ouvira. – A Luisinha diz que tu não lhe bates nas nádegas!
Ele tornou a sentar-se, incrédulo.
O sogro, ainda em pé, tomou a palavra:
– Sim, a Luísa tem-se queixado à mãe que, desde que vocês se casaram, tu nunca mais lhe bateste nas nádegas.
– Eu nunca lhe bati nas nádegas – respondeu ele, num fio de voz.
– Pior – gritou o sogro. – É verdade, Luísa, este animal nunca te deu umas boas palmadas nas nádegas?!
– Não, paizinho, nunca... – choramingou a Luísa.
– Ó meu Deus – invocou a sogra, juntando as mãos no peito – isso é que tu nunca me tinhas dito, filha...
A mãe aproximou-se da filha e abraçou-a.
– Eu pensava que depois de casarmos...– começou a Luísa.
– Não, não! – Gritou o pai. – Casaste com um banana, filha! Um banana!
– Ó paizinho, não diga isso. – A Luísa largou a mãe, que chorava olhando o genro, e, virando-se para o pai, continuou: – Eu pensava que se me pusesse a jeito ele se entusiasmasse, paizinho, se entusiasmasse e me desse umas palmadas nas nádegas...
– Ó filha, te pusesses a jeito, filha... – soluçou a sogra. – És um anjo, minha filha, mas o João não é para ti, o teu pai tem razão, ele é um banana.
– Um banana! – Tornou o sogro, satisfeito com a escolha da fruta. – Nem umas palmadas nas nádegas da mulher sabe dar, o banana! Que tristeza... Que pouca sorte...
– Mas eu não sabia que ela gostava – tentou ele justificar.
– Não gostava?! – Rosnou a sogra. Ele olhou-a espantada, ela olhava-a, mas não o via. – Não gostava?! Mas há lá alguma mulher que não goste de levar umas boas palmadas nas nádegas?!
Ele sentiu a boca abrir e fechar sem produzir nenhum som. Viu o vinho entornado, a sopa coalhada e o cabrito assado em cima do fogão a rir-se, gozando-o.
– És um banana – repetia o sogro, abanando a cabeça e olhando-o com absoluto desgosto e desânimo. – És um banana.
– Ela nunca me disse nada – gemeu ele. – Podia ter dito.
– Podia ter dito?! – A sogra estava completamente descontrolada. – Podia ter dito?!
– Calma, mãezinha, calma.
– Mas quem é que tu pensas que a minha filha é? – Gritou a sogra. – Pensas que ela é o quê?!
– Calma, mulher – recomendava o sogro, já sentado, mas afastado da mesa, – calma.
– Calma, nada! – A sogra impôs-se, baixou o tom de voz, que continuava ameaçador e continuou: – Então, o senhor queria que a minha filhinha lhe pedisse – fez voz de coitadinha – "Ó Joãozinho, bate-me, bate-me nas nádegas, que eu gosto."
Ele olhou a sogra sem saber se havia de dizer alguma coisa, pensou em dizer que sim, que se ela gostava devia tê-lo dito, mas em boa hora não o fez, pois, o pior ainda estava para vir:
– A minha filha não é nenhuma rameira! – Espumou a sogra. – Pode gostar que lhe batam nas nádegas, como todas as mulheres, mas não o diz. Não o diz, ouviu?! É educada! Educada!
A filha abraçou a mãe que chorava baba e ranho – mais ranho que baba, mas isso é irrelevante – e fez sinal ao pai para dizer qualquer coisa.
O pai, compreendendo o melindre da situação e temendo que o cabrito ficasse rijo ou mesmo que encarquilhasse com o frio – as personagens pensam assim, o que pode um narrador fazer? O homem era maluco –, tornou a encher o copo do genro e disse:
– O que é que tu pensas da vida, meu rapaz?
A filha acenou-lhe agradecida, a mãe fungava e o genro sentiu que tudo se podia ainda compor.
– Achas que consegues dar conta do recado? – Insistiu o sogro.
– Deixe-me comer o cabrito – disse o genro, cheio de valentia, – que eu logo lhe dou o que ela quer.
A sogra suspirou e assoou-se ruidosamente, desanuviando o ambiente.
– Amanhã nem te sentas! – Berrou o pai, com uma gargalhada.
– Ó paizinho... – disse a filha, embevecida perante a perspectiva.
– Também não é preciso exagerar – aconselhou a mãe enquanto limpava o nariz. – As nádegas precisam de habituação e cuidado... É preciso jeitinho...
– Com jeito vai... – berrou o sogro, rindo. – Com jeito!
Ela lançou-lhe um beijo, ele respondeu mordendo o lábio inferior e com a mão direita deu umas palmadas em nádegas imaginárias.
– Tem jeito, o gajo – lançou o sogro, fazendo um brinde com o genro: – Que nunca nos faltem nádegas, meu rapaz!
– Que falta de educação, Francisco – recriminou a sogra, pegando na colher com ar afectado, enquanto eles batiam com os copos. – Que falta de educação.
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