Viu-a no momento em que ela chegou e se aproximou de outro que não ele, e o outro sorria como ele sorria quando ela chegava, e sentiu o beijo e o olá que ela sussurrou ao ouvido do outro como lhe sussurrava a ele, quando eram dele ela e olá, e o outro sorria o dia enquanto ela se afastava na direcção da casa de banho, e ele recordou quando a seguira num café como aquele depois dela lhe dito, “volto já vou ao wc”, e ele chegara ao pé dela no minuto em que a porta se fechava para ela sozinha, e entrara, e fechara-a para os dois e disse-lhe, “quero-te tanto”, e ela surpresa, e ele, “quero-te tanto agora”, e ela com medo de serem surpreendidos como fora surpreendida por ele…
E ele pensando, olhando a mesa e o outro que a esperava,” não te levantes, não a sigas… “
E ela presa entre ele e a parede, as palmas das mãos coladas à parede já rendida, ela que nunca se rendia, e ele querendo-a tanto que o corpo lhe doía, que o corpo tremia, e ela rendida, e as mãos dele na roupa dela abrindo a camisa, a boca colada ao pescoço, mordendo, “quero-te tanto”, e ela rendida…
E ele pensando, olhando o outro e a mesa, não te levantes, não a sigas…
E as mãos dele na roupa dele, abrindo calças, expondo o sexo que gritava e doía e a queria a ela que rendida gemia, e ele levantando-lhe as nádegas, abrindo-lhe as coxas … E ele pensando olhando o outro, “não te levantes, não a sigas…”
E o outro a levantar-se sorrindo o dia porque ela chegara, e a tocar a mão dela que ele queria sua, que fora sua, e os dois a sair e ele ali sentado, querendo-a e tremendo, e doendo e pensando…
“Não te levantes, não a sigas…”
Encandescente
Foto: Stanmarek