23 janeiro 2008
22 janeiro 2008
nada
Ele acenou com a cabeça confirmando a pergunta.
Ela olhou-o incrédula e tornou a perguntar:
– O que sinto?
– Sim.
– Queres mesmo saber?
Ele sentiu a acidez na voz dela. Percebeu o conselho implícito na pergunta, que soara claramente como um “não queiras saber”, mas seguiu como se nada tivesse sentido, como se ele próprio não duvidasse do que estava a fazer.
– Quero – afirmou, sentindo-se entrar numa rua de sentido único ou pior, o olhar dela causou-lhe desconforto físico, num beco sem saída. – Acho que quero – deixou escapar num murmúrio.
– Achas que queres ou queres?
– Quero – reafirmou ele e repetiu: – O que sentes quando fazemos amor?
Ela desviou o olhar para a televisão e questionou-o entre dentes:
– Isso é para quê?
– Isso o quê?
– Essa pergunta. – Mudou o canal como se tal justificasse o seu olhar fixo na televisão enquanto falava. – Que merda de pergunta é essa?
– Escusas de ser mal-educada – repreendeu ele, em tom sério.
– É uma pergunta de merda – confrontou-o ela, encolhendo os ombros.
– Mesmo assim.
– Sinto o que sinto – disse ela, de chofre. – E tu?
– Nada – respondeu lacónico.
– Nada?! – Ela sentiu um formigueiro que começou nos pés e alastrou a todo o corpo e que quase a obrigou a levantar-se mas conteve-se. – Não sentes nada quando fazemos amor?!
– Não.
A inexpressividade dele feria-a. As respostas curtas e secas magoavam-na. “O teor não”, espantou-se ao perceber isso. O conteúdo da informação não lhe provocava nada, um novo encolher de ombros quanto muito.
– E eu com isso? – atirou-lhe. – Não gostas, fazemos menos. – Fez uma pausa para saborear a expressão desamparada dele e rematou: – Ou não fazemos de todo.
– Ajeitou a almofada do sofá e deitou-se, como ele já não lhe via a cara, sorriu. “Vai-te lixar!”
– E tu? – perguntou ele, tentando recuperar a conversa.
– Eu, o quê?
– O que é que sentes?
– Sinto que queres discutir. Sinto que me querias dizer o que já disseste. Sinto que… – Ela ergueu meio corpo para o olhar de frente, séria. Desafiadora.
– Sim? – Ele sustentou o olhar dela.
Ela sorriu, fez uma pausa e explodiu serenamente:
– Na verdade, se queres saber, quando faço amor contigo sinto-me bem. Gosto que me fodas. Continuo a vir-me. Continuo a gostar de te ter dentro de mim. Continuo a gostar dos teus beijos, das tuas carícias, dos teus pacientes minetes e dos teus dedos entusiasmados. Continuo a gostar do teu cheiro, do toque da tua pele, do sabor da tua boca, do teu esperma e do teu caralho torto. Continuo a gostar de fazer amor contigo e acabo de perceber que isso não me chateia, não me chateava antes, nem me chateia agora, e que, da mesma maneira, provavelmente pela mesma razão, não me aquece nem me arrefece que tu não sintas nada…
– Não? – murmurou ele.
– Não – confirmou ela – e, de qualquer maneira, vens-te sempre – disse em tom depreciativo. Tornou a deitar-se e concluiu: – Por isso, nem vejo que diferença possa fazer.
Parece que desta vez acertámos!
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O Penedo do João Brandão (Travancinha/Seia)
Com as calças na mão (digo eu).
E atão? E atão? E atão?
Trai trai olaré trai trai
Era a moda do meu pai
Oh pastor, lavrador, enganador
rinhinhó, rinhinhó, ó-ó-ó, ó-ó-ó
João Brandão, o terror das Beiras
Era oriundo de uma família com carácter violento e feroz. O bando, que o acompanhava nas atrocidades, era composto pelos familiares mais próximos que o tinham como chefe. Desde criança que revela estas características. Aos doze anos comete o seu primeiro homicídio, na pessoa de um pastor de Gouveia, que mataria como mero exercício de pontaria. É assim que, ao merecer o elogio de pai e irmãos, inicia a vida pela qual ficaria conhecido.
Durante décadas praticou, mais ou menos impunemente, assassinatos, roubos e extorsões, gozando de uma protecção escandalosa e nunca bem explicada por parte das autoridades, governos e famílias importantes das terras por onde andou.
Foi “voluntário da Rainha” que partiu de Midões para combater na Guerra Civil e depois se manteve encostado ora ao Partido Progressista, ora ao Partido Regenerador, ora ao Partido Histórico. Neste contexto desempenhou um papel primordial nas guerrilhas formadas nas Beiras, chegando a ser nomeado capitão de milícias do Batalhão Nacional de Midões e do Carregal, mais tarde Batalhão de São João de Areias.
Por sentença do tribunal foi condenado ao degredo em Angola. Aqui continuou a viver num estranho clima de protecção, sem nunca usar a grilheta a que tinha sido sentenciado. Chegou a conseguir transferência para Moçâmedes onde estabeleceu residência e uma fazenda agrícola, importante produtora de aguardente. Sabendo que o governador de Moçâmedes queria que cumprisse integralmente a sentença, com agrilhoamento e trabalho nas obras públicas, fugiu para o Bié, onde morreria, supostamente envenenado, em 20 de Setembro de 1880.
Quando João Brandão foi deportado para o exílio, em toda a Beira se organizaram festas populares e o povo cantou na rua. Ainda hoje faz parte da cultura popular portuguesa, sendo muito conhecida outra cantiga: Lá vai o João Brandão.
in João Brandão / J.M. Dias Ferrão. Porto: Litografia Nacional, 1928
21 janeiro 2008
O Explorador
Senti-lhe o coração bater intensamente quando, vindo do umbigo a desbravar as sendas do desconhecido, descansei os lábios e a língua no vale que os dois montes ofereciam. Mais além e por entre os cumes, um olhar prolongava-se pelo imenso mundo interior que eu apenas aflorava e que lhe sabia, na minha missão de explorador de mistérios, existir sob a frágil pele. Um vulcão prestes a explodir e a engolir-me a todo instante levando-me nas suas profundezas e infinitos, e que agora me transmitia os avisos de erupção próxima em batidas aceleradas e arrepios de pele.
Lentamente e em espiral subi e desci pelas encostas dos montes, ora um ora outro, detendo-me no cume para descanso e dar de beber às sedes. Em cada subida olhava brevemente e sentia como o horizonte entrava naquele paradoxo de ser cada vez longínquo e grandioso enquanto mais e mais se precipitava sobre si mesmo numa ameaça de dilúvio universal, do fim dos tempos, do juízo final.
Pelas veredas, dedos incessantes procuravam caminhos tantas vezes percorridos e sempre tão cheios de novos mistérios, recantos de escondidos regatos escorrendo das fontes do Eden onde só os Deuses podem saciar-se.
Avancei mais um pouco por entre as margens prestes a ceder, consciente do Momento estar ao capricho dum mero gesto que eu geria parcimoniosamente, todo aquele corpo preso da medida do tempo que obedecia ao meu querer, à minha vontade, agora parado no seu avanço inexorável naquele instante de que eu era seu mestre e senhor.
Umas unhas rasgaram-me a pele fazendo-me soltar um grito que emoldurou a explosão telúrica.
Arrastado pela onda de choque, estava a poucos instantes da queda sem fim e sentindo como já não mais poderia mais voltar atrás, precipitei-me no infinito, mergulhando entregue a mim mesmo e ao destino, morrendo e renascendo num novo céu, rumo a outro eu, a outra viagem, ao voo de outra descoberta...
Museu de Arte Erótica em Veneza
Só eu é que não encontro quem queira investir num espaço similar em Portugal...
Entretanto, se esta notícia de Novembro de 2006 estiver correcta, este museu já fechou:
"il museo d'arte erotica a Venezia non «tira» e fallisce
Ha dato fallimento il museo d'arte erotica a Venezia.
Pochi visitatori e tante spese a quanto pare sono le ragioni che hanno indotto il giovanissimo museo a dare fallimento, l'affitto del palazzo soprattutto pare avesse raggiunto cifre insostenibili. Poca fortuna per il museo d'arte erotica di San Marco a Venezia: nonostante la posizione, particolarmente importante, nel cuore del centro storico della citta', per l'esposizione e' stata stabilita la chiusura definitiva entro il 28 novembre. Pochi gli incassi per uno numero ridotto di visitatori hanno determinato il fallimento del curioso museo che apri' tra le polemiche e i sorrisi dei piu' maliziosi a febbraio, a ridosso del Carnevale.
Il museo e' ospitato, ancora per qualche giorno, a Palazzo Rota, a due passi dalla piazza piu' celebre del mondo: tra le varie sezioni anche una dedicata ad alcuni inediti del re del cinema erotico Tinto Brass. Naturalmente l'ingresso e' vietato ai minori di 18 anni. Il Museo d'Arte Erotica e' collegato nell'organizzazione al ben conosciuto Muse'e de l'Erotisme di Parigi che da dieci anni dedica le proprie sale alla liberta' d'espressione artistica intorno all'eros."
(adoro a língua italiana... hmmm...)
20 janeiro 2008
Cocaína
Era a estação de consumo obrigatório sempre que não dispúnhamos do tempo conveniente para molhar o pincel e era um fartar de sorrisos maliciosos, de nos sugarmos mutuamente pela boca, de crispações de dedos na carne do outro em invólucro de tecidos mais uma avalanche de piadas à laia de escudo gaulês para que o horrível não nos tombasse em cima das cabeças.
Entre saúdes em cada novo cálice esmagámos repetidamente os narizes no pescoço do outro a entregar uma profusão de beijos demorados enquanto se inalava o cheiro do objecto de desejo feito linha de coca.
As convenções conseguiram amarrar-nos aos respectivos e criámos a dependência da fuga para nos ajudar a passar pela vida, seja lá o que ela o que for.
Semana Europeia de Prevenção do Cancro do Colo do Útero
Bom domingo
A diáCona encarrega-se do merecido exorcismo:
"Sendo o nome invocado
- Não sou senhor de condição -
Sou a Senhora sem pecado
Que a guerra eterna aqui travo
Neste antro de perdição!
É Gomorra e Sodomitas
Pecadores, gentios desalmados
Eunucos loucos e prostitutas
Oh meu Deus é esta luta
Que me move por todo o lado.
Escutai a voz que é a minha
Sou uma serva iluminada
Deixai a São arder sozinha
Segui-me na senda que caminha
P'rá Glória de luz iluminada..."
O OrCa ode tudo:
"desce o Cristo à greta funda
digo eu de tal visão
sem disto perceber corno
será o eterno retorno
sem ter Madalena à mão?
vamos de mal a pior
na confusão dos preceitos
pois se aquela gruta é greta
ou isto é uma grande treta
ou o Filho e o Pai estão feitos!"
E esta até o Pedro Laranjeira ode:
"não há estátua que não goste de se sentir bem quentinha
é o verbo a regressar à gruta donde nasceu
é flor desabrochada, androfêmea, gineceu,
a chamar ao berço alvor a migratória andorinha
é o fim duma expressão confundida com prefixo
é una metamorfose, verdadeira eternidade
infinita tentação, medida de humanidade,
e a que ninguém resiste, nem sequer um crucifixo"