21 janeiro 2008

O Explorador


Senti-lhe o coração bater intensamente quando, vindo do umbigo a desbravar as sendas do desconhecido, descansei os lábios e a língua no vale que os dois montes ofereciam. Mais além e por entre os cumes, um olhar prolongava-se pelo imenso mundo interior que eu apenas aflorava e que lhe sabia, na minha missão de explorador de mistérios, existir sob a frágil pele. Um vulcão prestes a explodir e a engolir-me a todo instante levando-me nas suas profundezas e infinitos, e que agora me transmitia os avisos de erupção próxima em batidas aceleradas e arrepios de pele.


Lentamente e em espiral subi e desci pelas encostas dos montes, ora um ora outro, detendo-me no cume para descanso e dar de beber às sedes. Em cada subida olhava brevemente e sentia como o horizonte entrava naquele paradoxo de ser cada vez longínquo e grandioso enquanto mais e mais se precipitava sobre si mesmo numa ameaça de dilúvio universal, do fim dos tempos, do juízo final.
Pelas veredas, dedos incessantes procuravam caminhos tantas vezes percorridos e sempre tão cheios de novos mistérios, recantos de escondidos regatos escorrendo das fontes do Eden onde só os Deuses podem saciar-se.


Avancei mais um pouco por entre as margens prestes a ceder, consciente do Momento estar ao capricho dum mero gesto que eu geria parcimoniosamente, todo aquele corpo preso da medida do tempo que obedecia ao meu querer, à minha vontade, agora parado no seu avanço inexorável naquele instante de que eu era seu mestre e senhor.


Umas unhas rasgaram-me a pele fazendo-me soltar um grito que emoldurou a explosão telúrica.
Arrastado pela onda de choque, estava a poucos instantes da queda sem fim e sentindo como já não mais poderia mais voltar atrás, precipitei-me no infinito, mergulhando entregue a mim mesmo e ao destino, morrendo e renascendo num novo céu, rumo a outro eu, a outra viagem, ao voo de outra descoberta...


Charlie

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