Ajeitei o vestido na cintura e de mão na anca esquadrinhei o seu cair no espelho. Desloquei as alças umas três ou quatro vezes para avaliar se a sua proximidade ou distância ao pescoço realçava mais o busto. Peguei no bâton vermelho-vivo e empunhei-o contra os lábios a derramar a sua cor e brilho como se fosse um tinto encorpado.
Ouvi o toque e dei uma última olhadela no meu reflexo antes de entrar em cena contorcendo uma madeixa de cabelos pelo indicador. Avancei pelo túnel e assomei à arena onde ele estava especado e muito maltratado. Arfava como se tivesse acabado de subir a um décimo andar sem elevador e um fio de baba ensanguentada pendia-lhe de um canto da boca. Os ombros e as costas eram um ai-jesus de chagas abertas a cornadas que nem uma bandeirinha as tornaria mais evidentes como mapa da desgraça. E as marcas sujas dos cascos timbravam a barriga, as coxas, o pénis e nem valia a pena reparar no rabo que trivialmente seria uma nódoa negra compacta por tanta força nele exercida para a imobilização.
Enquanto a manada bovina da assistência aplaudia e resfolegava abracei-o para lhe sentir a pulsação e amparei-lhe de seguida os braços para me tornar sua muleta e arrastá-lo para fora da tortura daquelas humanadas criadas por uma turba sedenta do prazer do sangue e a quem o domínio do mais forte sobre o mais fraco masturbava.