(Como já diz o ditado: "vozes de burro não chegam ao céu". Mas e se essas vozes partirem dos mais altos representantes da igreja católica?)
Há posições (ditas) democráticas que têm a capacidade hipócrita de roçarem a ditadura. Foi assim com o aborto, foi assim com a despenalização das drogas leves, será assim com o futuro diploma de legalização do casamento entre homosseuxais. Em declarações prestadas ontem na Figueira da Foz, o bispo do Porto demonstrou a sua benevolência e abertura de espírito para o assunto da moda (leia-se o casamento homossexual) ao declarar o seu apoio ao referendo do tema como, e cito, "forma de promover o diálogo e a discussão aberta e alargada do tema na sociedade portuguesa".
Confesso que na primeira aproximação às declarações fiquei abismada com a abertura de espírito de um dos representantes máximos da igrega Católica no nosso país e, apesar de ser pessoalmente contra o referendo, até admiti ser um gesto extremamente positivo. Foi quando abri o jornal e li ao detalhe o artigo que me apercebi que há coisas que nunca mudam. No seu benevolente gesto de apelo à discussão do tema o bispo do Porto usou os seguintes termos: "gostaria que fosse o povo a dizer se concorda com a secundarização de uma instituição que forma e enforma a sociedade e que se baseia complementaridade masculino/feminino.".
Ora é dos meus olhos ou isto é a mesma coisa que, quando nos encontramos no meio de, suponhamos, um grupo de amigos e estamos a consumir, novamente suponhamos, uma enorme e deliciosa sandes frango e, perante o olhar esfomeado dos nossos amigos, seguindo as regras da boa educação dizermos: "queres um bocadinho? eu já lambi a sande, o frango é seco, o pão tem três dias e deixei-o cair ao chão e, para além disso, tu não vais gostar... não queres, POIS NÃO?!?" enquanto continuamos a comer delicidados aquela que, para nós, é de facto a melhor sangue de frango do mundo. A isto, meus amigos, eu chamo egoísmo puro!
Não é o casamento um acto espiritual? A ligação entre duas almas mais do que os dois corpos? Não é a igreja católica a primeira a dizer que, hoje em dia, se liga mais à cerimónia e ao espectáculo a ela inerente que ao significado da mesma propriamente dito? E acima de tudo, não é a igreja Católica que, por principio, proíbe o casamento religioso entre casais do mesmo sexo? E, sendo o estado português laico e o casamento civil um assunto (como próprio nome indica) civil e de estado? Não serão estas declarações consideradas ingerência, como foram as proferidas aquando do assunto aborto?
Somos um país que enche a boca para falar de liberdade mas, quando chega a hora do "vamos ver" a nossa liberdade de sermos preconceituosos pesa sempre muito mais que a liberdade dos outros em relação a nós. Eu só gostava que me explicassem em que é que duas pessoas do mesmo sexo contrairem matrimónio condiciona a vida de terceiros. Gostava também de entender no que é que o casa "descasa" de casais ditos normais "forma a sociedade". Como diria alguém que eu conheço muito bem, Cristo disse: "crescei e multiplicai-vos" não disse "crescei e casai-vos com pessoas do mesmo sexo para formarem e enformarem a sociedade e se der para o torto divorciam-se passados uns meses e está tudo bem porque, pelo menos, são de sexos opostos!".
Sou fervorosamente contra o referendo nestes casos, aqueles que nos representam no Parlamento bem ou mal foram eleitos por nós, para decidir por nós para governar por nós, se lhes confiamos um orçamento do estado, políticas de saúde e educação porque não lhes havemos de confiar a decisão de uma questão que para a sociedade tem a importância de um grão de areia? O facto de admitirmos o casamento homossexual vai fazer com que a homossexualidade se espalhe como um virus? NÃO! O facto de termos consciência que há pessoas do mesmo sexo que SE AMAM e querem ter uma vida em comum com os direitos e deveres inerentes a ela faz com que tenhamos de concordar com esse estilo de vida e admitir a hipótese para nós mesmos? NÃO! Então, por favor, alguém me explica esta (perdoem-me o termo) merdice toda?
Portugal é uma sociedade de bons costumes, vão uns argumentar, e eu respondo: "Tretas! Bons costumes de ficar na cama ao domingo porque dá muito trabalho ir escolher bons governantes para o país? Bons costumes de viver de futebol e fado presos a valores de há séculos atrás porque somos PREGUIÇOSOS, COMODISTAS E PRECONCEITUOSOS para mudar?" Deixemo-nos de hipocrisias, meus senhores, preocupemo-nos com os problemas que realmente o são e deixemos a liberdade de existirmos como somos (sempre com respeito pelos outros, q é essa a regra da vida em sociedade) e fazermos as nossas próprias escolhas NO QUE À VIDA PRIVADA CONCERNE para todo e cada um de acordo com a sua consciência e prestando contas somente a elas....
O casamento é um direito e não um privilégio heterossexual!
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OrCa:
"um apontamento a latere: o problema e questão que se me colocam é essa cena do casamento, como acto ajuramentado, comercial e jurídico, até que a morte nos separe ou a(o) vizinha(o) do lado nos bata à porta...
Casamento-instituição, a bem dizer, para quê? Para que uns rabiscos no papel ou uns pingos de água benzida de duvidosa proveniência cimentem dois afectos? Ora, adeus...
Gosta quem gosta e fornique quem possa. Acabe-se, isso sim, com a hipocrisia instituída que distingue os «casados» dos «não-casados»... e o resto são tretas.
Experimente-se referendar o seguinte, aos «hetero»: divorciar-se-ia do seu cônjuge se ficasse isento de IRS durante 10 anos? Gostava de ver quantos casais se manteriam, se o sim ganhasse.
E esses, então sim, seriam canonizados e havíamos de lhes fazer muitas procissões..."