03 novembro 2009

Mãos


O tempo estava de feição:

Corria morno o ar
Difusa a luz
E a mesa não balançava,
A sangria escorregava
Pelas gargantas

Era um final de tarde vulgar
Não fossem as nossas pernas
Por debaixo da mesa
Da esplanada cheia de gente

E as pernas tocavam-se,
Torciam-se
Uma por cima de outra

Tu ou eu
Tu e eu

E a mão

A minha mão indiscreta
E o teu sexo
À mão de semear...

Foto e poesia de Paula Raposo
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OrCa: "Ah, por debaixo das mesas das esplanadas já fui tão feliz!... Entornava-se-me era sempre o café, com os nervos. Agora, agarrar, propriamente, aquilo que se diz agarrar, senhores, ah, isso era coisa de poesia. Mais tarde, lá em casa, era coisa de outras coisas, eu e a mão, a mão e eu... Ia para a janela e fartava-me de acenar a quem passava, esperando Carochinha que de mim se apiedasse. Por vezes, lá alinhava uma e até que os hélitros e as antenas me enchessem de coceira, a vida era bela...
As coisas que o poema da Paula me faz dizer!"

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