Contos de fadas? Contos de fodas são melhores.
27 novembro 2009
26 novembro 2009
Derrotas
Levantava-se mais cedo que o mundo. Engolia o café a custo, pequenos goles que se arrastavam na garganta a descerem empastados pelo fluido da solidão que o mantinha engasgado. Apeteceu-lhe acordar a mulher. Abraçá-la e cheirar a sua combinação azul, macia, tão macia. Dormia, respirava pesadamente - certamente do ar que os rodeava, não devia ser apenas imaginação dele, aquele peso de uma densidade cinzenta e infeliz - ainda bela, ainda perfeita, agora perfeitamente distante e amorfa, alheada dele no seu vestido de frigidez completa. Cheirava ao amante, certamente um novo, o perfume e as feromonas masculinas eram diferentes. Acariciou-lhe o cabelo longo, beijou-lhe o pescoço de gazela. Ela balbuciou o nome do amante anterior. Amaldiçoou a boa sorte que lhe trouxe fortuna. Foram tão felizes no pequeno apartamento, lutavam os dois, lado a lado e abraçavam-se todos os dias. Suavam juntos. Conseguiu. As noites no escritório. As ausências. O cansaço. O afastamento. Sua culpa. Deu-lhe jóias, deu-lhe carros; ela perguntava se ele chegava cedo, se jantavam juntos. Afastou-se dele, lentamente. O homem derrotado pela vitória levantou-se da cama, onde se tinha sentado. Saiu devagar, fechou cuidadosamente a porta para não a acordar. A meio da ponte pediu ao motorista que parasse, que estava mal disposto. E voou...
A Frase
No calor da paixão, enquanto lhe enfiava a mão dentro das cuecas e lhe sentia as nádegas e o rego do cu, acho que lhe disse – acho, porque não tenho bem a certeza: “Anda… Despe-te! Despe-te e abanca-te na minha fuça!”. E ela parou. Parou imediatamente como se tivesse sido fulminada por um raio, ainda que não tivesse caído para o chão a fumegar. Parou e, por um momento, olhou-me fixamente como, além da surpresa de ter sido atingida por um raio, descobrisse de repente que estava a beijar um alienígena – eu, pelo menos, sob o olhar escrutinador dela senti-me como se fosse de Marte.
E eu também parei, claro – era ridículo continuar sozinho – mas não percebi a razão da paragem abrupta, pois, claramente, ela não tinha sido abrasada por um raio, nem eu sou de Marte – ainda que, às vezes, consiga levá-las à Lua.
Então, depois do curto mas confrangedor silêncio que enquadrou a inexplicável interrupção do nosso caminho para o satélite, do olhar nada devoto com que me brindou como se eu tivesse dito alguma coisa espantosa, ela tentou conter uma onda de risinho nervoso que explodiu em tão descabidas quanto sonoras gargalhadas, entre pedidos de desculpa e tentativas infrutíferas de abafar com a mão na boca as gargalhadas que não paravam. E eu já nem me sentia de Marte, não percebendo nada de nada, nem o motivo de fosse o que fosse, parecia-me que tinha passado a infância, a adolescência e quase toda a idade adulta em Urano ou coisa parecida. “Mas que fiz eu? O que terei dito de tão estapafúrdio que a leve a isto?”, perguntava-me em ânsias, afogado na dúvida, na sexualidade interrompida e na certeza de que nada daí em diante iria ser como eu previra.
E, claro, ainda que já o antecipasse, também não percebi a razão do “desculpa-me, não consigo” que ela disse enquanto se levantava e compunha sem parar de rir – menos os olhos, que me parece que os olhos dela nunca riram como a boca, o corpo ou a garganta; os olhos nunca abandonaram uma espécie de desolada e opaca irritação que ganharam depois de um primeiro e fugaz brilho de espanto.
“E eu fico assim?” perguntei, perplexo mas com bons modos que não me apetecia manter.
Ela olhou-me e as pálpebras ainda se afastaram um pouco mais, se isso era possível, o que eu, pensando agora à posteriori e lembrando-me do seu primeiro olhar, duvido muito. “Assim como?” perguntou sem parar de rir, enquanto endireitava a saia e repunha as cuecas no seu sítio.
E eu calado, sem perceber o motivo da interrupção, sem compreender a razão do esfriamento gargalhado da paixão, sem entender o motivo de ela em vez de se despir estar a compor o que ainda mantinha vestido, procurava com esforço e concentração normalizar a respiração, que o afogueamento não é uma boa base para iniciar um diálogo.
Há anos assim, de seca e penúria, como se as calotes polares já tivessem derretido e andássemos todos em calções e camisolas de cavas aos buraquinhos à espera de uma pinga de chuva e, de repente, quando estamos na rua a apanhar os primeiros pingos na tromba, numa felicidade inominável, num expectativa deslumbrada, apanhamos com um bloco de gelo em cima que nos esmaga todos os ossinhos, que nos congela quase instantaneamente e que nos mirra o membro para proporções microscópicas. Não sei se ela é do bloco mas que me esmigalhou todinho, lá isso esmigalhou.
Se ainda não perceberam nada do que se estava a passar e chegaram até aqui, tenho de vos dizer duas coisas: a primeira é que vos gabo a paciência, a segunda é que vos estais a sentir um pouco como eu me senti: perdido, aparvalhado e arrependido de estar ali – no vosso caso, aí.
Se, por acaso, chegaste agora, segue daqui que eu resumo: homem, mulher, sozinhos, beijos, amassos, mãos exploratórias, roupa a começar a sair, até que ele lhe diz “abanca-te na minha fuça” e, depois, silêncio, imobilidade e, de repente, risos, perplexidade, risos, perplexidade… já deves ter percebido e se queres continuar estás por tua conta e risco.
Agora que uma pausa emperrou a narrativa, podia aproveitar e abrir um parêntesis para falar de sentimentos, dos sentimentos naquela ocasião, mas acho que não vale a pena; se os havia acabaram ali – ou talvez não, o que sabe um narrador, ainda que escreva na primeira pessoa?
Fechado o parêntesis e ultrapassada a pausa para o narrador se dirigir a vossas excelências, poderia seguir a narrativa mas a realidade – a realidade é tantas vezes tão bisonha, tão absurda, tão marcada por uma frase infeliz, por um gesto de que logo nos arrependemos. A realidade é má e atropela-nos! – A realidade, dizia, é que não há mais nada para contar. Nada.
É certo que ainda houve coisas mas nada mais foi o mesmo, os olhos dela não ganharam brilho, eu não percebi nada (e continuo sem perceber) e o que houve – que é como se não tivesse havido – foi feito a despachar: vamos lá a acabar com isto e adeus.
Que pouca sorte a minha...
E eu também parei, claro – era ridículo continuar sozinho – mas não percebi a razão da paragem abrupta, pois, claramente, ela não tinha sido abrasada por um raio, nem eu sou de Marte – ainda que, às vezes, consiga levá-las à Lua.
Então, depois do curto mas confrangedor silêncio que enquadrou a inexplicável interrupção do nosso caminho para o satélite, do olhar nada devoto com que me brindou como se eu tivesse dito alguma coisa espantosa, ela tentou conter uma onda de risinho nervoso que explodiu em tão descabidas quanto sonoras gargalhadas, entre pedidos de desculpa e tentativas infrutíferas de abafar com a mão na boca as gargalhadas que não paravam. E eu já nem me sentia de Marte, não percebendo nada de nada, nem o motivo de fosse o que fosse, parecia-me que tinha passado a infância, a adolescência e quase toda a idade adulta em Urano ou coisa parecida. “Mas que fiz eu? O que terei dito de tão estapafúrdio que a leve a isto?”, perguntava-me em ânsias, afogado na dúvida, na sexualidade interrompida e na certeza de que nada daí em diante iria ser como eu previra.
E, claro, ainda que já o antecipasse, também não percebi a razão do “desculpa-me, não consigo” que ela disse enquanto se levantava e compunha sem parar de rir – menos os olhos, que me parece que os olhos dela nunca riram como a boca, o corpo ou a garganta; os olhos nunca abandonaram uma espécie de desolada e opaca irritação que ganharam depois de um primeiro e fugaz brilho de espanto.
“E eu fico assim?” perguntei, perplexo mas com bons modos que não me apetecia manter.
Ela olhou-me e as pálpebras ainda se afastaram um pouco mais, se isso era possível, o que eu, pensando agora à posteriori e lembrando-me do seu primeiro olhar, duvido muito. “Assim como?” perguntou sem parar de rir, enquanto endireitava a saia e repunha as cuecas no seu sítio.
E eu calado, sem perceber o motivo da interrupção, sem compreender a razão do esfriamento gargalhado da paixão, sem entender o motivo de ela em vez de se despir estar a compor o que ainda mantinha vestido, procurava com esforço e concentração normalizar a respiração, que o afogueamento não é uma boa base para iniciar um diálogo.
Há anos assim, de seca e penúria, como se as calotes polares já tivessem derretido e andássemos todos em calções e camisolas de cavas aos buraquinhos à espera de uma pinga de chuva e, de repente, quando estamos na rua a apanhar os primeiros pingos na tromba, numa felicidade inominável, num expectativa deslumbrada, apanhamos com um bloco de gelo em cima que nos esmaga todos os ossinhos, que nos congela quase instantaneamente e que nos mirra o membro para proporções microscópicas. Não sei se ela é do bloco mas que me esmigalhou todinho, lá isso esmigalhou.
Se ainda não perceberam nada do que se estava a passar e chegaram até aqui, tenho de vos dizer duas coisas: a primeira é que vos gabo a paciência, a segunda é que vos estais a sentir um pouco como eu me senti: perdido, aparvalhado e arrependido de estar ali – no vosso caso, aí.
Se, por acaso, chegaste agora, segue daqui que eu resumo: homem, mulher, sozinhos, beijos, amassos, mãos exploratórias, roupa a começar a sair, até que ele lhe diz “abanca-te na minha fuça” e, depois, silêncio, imobilidade e, de repente, risos, perplexidade, risos, perplexidade… já deves ter percebido e se queres continuar estás por tua conta e risco.
Agora que uma pausa emperrou a narrativa, podia aproveitar e abrir um parêntesis para falar de sentimentos, dos sentimentos naquela ocasião, mas acho que não vale a pena; se os havia acabaram ali – ou talvez não, o que sabe um narrador, ainda que escreva na primeira pessoa?
Fechado o parêntesis e ultrapassada a pausa para o narrador se dirigir a vossas excelências, poderia seguir a narrativa mas a realidade – a realidade é tantas vezes tão bisonha, tão absurda, tão marcada por uma frase infeliz, por um gesto de que logo nos arrependemos. A realidade é má e atropela-nos! – A realidade, dizia, é que não há mais nada para contar. Nada.
É certo que ainda houve coisas mas nada mais foi o mesmo, os olhos dela não ganharam brilho, eu não percebi nada (e continuo sem perceber) e o que houve – que é como se não tivesse havido – foi feito a despachar: vamos lá a acabar com isto e adeus.
Que pouca sorte a minha...
25 novembro 2009
Flor de Luna
Como terra húmida e temperada
Pincelo uma lua
Na tua boca
E no teu sorrir-me
em forma d' espelho
cintilam brilhos refractários
difundidos pelos teus dentes
trincando-me com os luares
advindos dessa doce seiva
de pronome tu
de nome incansável à minha fala
mastiga-me,come-me,
quase te imploro !
rebenta-me em movimento espasmódico !
sinuoso delírio dum despertar-te
quando o crepúsculo adormece
e rendida
despedida de cansada
a noite falece
engolida pela luz ainda disfarçada
da manhã despontando
na dobra
da mais colorida,espessa e vital flor :
- A junta das tuas coxas escorrendo ...
Enquanto , num tom de epopeia
o sino da Sé,
ao longe,
se une ao cantar do galo...
Luiz Sommerville
É a minha estreia... não são palavras minhas mas foram-me enviadas há uns tempos e achei que este era o sítio perfeito para as partilhar. A todos vocês um muito caloroso: "Olá! É bom estar aqui neste cantinho!" :)
Pincelo uma lua
Na tua boca
E no teu sorrir-me
em forma d' espelho
cintilam brilhos refractários
difundidos pelos teus dentes
trincando-me com os luares
advindos dessa doce seiva
de pronome tu
de nome incansável à minha fala
mastiga-me,come-me,
quase te imploro !
rebenta-me em movimento espasmódico !
sinuoso delírio dum despertar-te
quando o crepúsculo adormece
e rendida
despedida de cansada
a noite falece
engolida pela luz ainda disfarçada
da manhã despontando
na dobra
da mais colorida,espessa e vital flor :
- A junta das tuas coxas escorrendo ...
Enquanto , num tom de epopeia
o sino da Sé,
ao longe,
se une ao cantar do galo...
Luiz Sommerville
É a minha estreia... não são palavras minhas mas foram-me enviadas há uns tempos e achei que este era o sítio perfeito para as partilhar. A todos vocês um muito caloroso: "Olá! É bom estar aqui neste cantinho!" :)
Um padre do Carvalho
O padre da aldeia do Carvalho (Celorico de Basto) fugiu sem deixar rasto com uma jovem da terra, acabada de completar os dezoito anos de idade.
A população local, ainda que atónita com este despir da batina, parece relativamente conformada e houve até quem perante as câmaras de televisão tenha afirmado que o padre nosso (deles) ao fazer o que fez acabou por ser muito homem, explicando que muitos no seu lugar não teriam coragem de assumir assim a relação pecadora (o que diz muito da imagem do clero nos dias que correm).
Sendo pouco provável que ainda seja virgem, esta jovem maria, bem como o seu ex-celibatário josé, é igualmente de esperar que exista nesta altura entre o casal alguma crise de fé.
A população local, ainda que atónita com este despir da batina, parece relativamente conformada e houve até quem perante as câmaras de televisão tenha afirmado que o padre nosso (deles) ao fazer o que fez acabou por ser muito homem, explicando que muitos no seu lugar não teriam coragem de assumir assim a relação pecadora (o que diz muito da imagem do clero nos dias que correm).
Sendo pouco provável que ainda seja virgem, esta jovem maria, bem como o seu ex-celibatário josé, é igualmente de esperar que exista nesta altura entre o casal alguma crise de fé.
Rasga-me a razão
Escuta o pulsar
Deste meu corpo
Que se tinge
No teu lirismo
E se derrama
Na minha pele
Rasga-me a razão
E tolhe-me os sentidos
Acolhe-me na paixão
E na suavidade
Dos teus gemidos
Desnudo-me enquanto
Aguardo por ti
E pelos ensejos delirantes
Do fogo que despertas em mim
Maria Escritos - blog Escritos e Poesia
Foto de Carlos Pereira do Álbum "W"
A posta precoce mas nada prematura
Tinha ouvido um médico referir essa nova expressão e até ouvi a sua explicação num noticiário qualquer acerca da pertinência desta troca.
Dizia ele que basta aplicar o conceito de precoce a uma criança, por exemplo. E visto dessa forma até faria sentido, mas eu preferi interrogar-me porque é que numa língua onde se chamam coisas tão feias a coisas tão bonitas logo haviam de se debruçar sobre esta...
Na interpretação literal, precoce e prematuro implicam algo que chega antes do tempo previsto ou “normal” para esse algo acontecer. Nesse caso querem dizer praticamente a mesma coisa.
Contudo, se deixarmos as crianças de fora de um tema mais para adultos ocorre-nos pensar que o problema em causa não se compadece de correcções na nomenclatura.
Ejaculação precoce seria a de um puto com quatro anos, ainda que só acontecesse duas horas depois de estimulada. E se esse puto tivesse nascido aos seis meses de gestação até seria mais razoável chamar-lhe prematura (à ejaculação, não ao puto). Mas em ambos os casos estaríamos perante um fenómeno digno do 24 Horas ou da TVI e o exemplo em causa volta a meter menores neste debate em torno da cena.
Uma ejaculação prematura será, portanto, aquela que nasce antes do tempo previsto. Até aí tudo bem. Mas então vamos lá falar de rigor científico: que tempo é esse? Vinte minutos? Meia hora? Hora e meia?
Não creio que alguém esteja em condições de me responder a essa pergunta, até porque depende da perspectiva e estou certo de que as minhas em cinco minutos, quando as obtinha a sós e à pressa para não ser caçado, não eram prematuras mas se transportarmos esses mesmos cinco minutos para estes dias podiam chamar-lhe precoce, extemporânea ou outra coisa qualquer que no final iria sempre ter que lhes chamar um grande transtorno ou uma enorme maçada.
Quero com isto dizer que me preocupa que a malta ande à procura de nomes porreiros para dar ao problema em vez de se debruçar sobre a respectiva resolução, num tique bem portuga mas que só resulta em esbanjamento desnecessário de tempo e de cornadura.
Por outro lado, o novo nome não facilita de todo a vida às vítimas do sucedido. Precoce ou prematura vai ser sempre complicada de assumir na condição, de verbalizar essa realidade tão confrangedora que o povo parodia com a célebre é tão bom, não foi?.
Mas basta-nos imaginar um cromo qualquer debruçado sobre o tema: é pá, isto de ejaculação precoce não soa nada bem. Xacávêr se arranjo uma alternativa porreira...
Qual terá sido o processo de raciocínio? E a motivação?
E uma pessoa tentar visualizar tudo isto e ao mesmo tempo pensar que o bacano achou que “ejaculação” estava bem e nessa parte não seria preciso mexer?
Dizia ele que basta aplicar o conceito de precoce a uma criança, por exemplo. E visto dessa forma até faria sentido, mas eu preferi interrogar-me porque é que numa língua onde se chamam coisas tão feias a coisas tão bonitas logo haviam de se debruçar sobre esta...
Na interpretação literal, precoce e prematuro implicam algo que chega antes do tempo previsto ou “normal” para esse algo acontecer. Nesse caso querem dizer praticamente a mesma coisa.
Contudo, se deixarmos as crianças de fora de um tema mais para adultos ocorre-nos pensar que o problema em causa não se compadece de correcções na nomenclatura.
Ejaculação precoce seria a de um puto com quatro anos, ainda que só acontecesse duas horas depois de estimulada. E se esse puto tivesse nascido aos seis meses de gestação até seria mais razoável chamar-lhe prematura (à ejaculação, não ao puto). Mas em ambos os casos estaríamos perante um fenómeno digno do 24 Horas ou da TVI e o exemplo em causa volta a meter menores neste debate em torno da cena.
Uma ejaculação prematura será, portanto, aquela que nasce antes do tempo previsto. Até aí tudo bem. Mas então vamos lá falar de rigor científico: que tempo é esse? Vinte minutos? Meia hora? Hora e meia?
Não creio que alguém esteja em condições de me responder a essa pergunta, até porque depende da perspectiva e estou certo de que as minhas em cinco minutos, quando as obtinha a sós e à pressa para não ser caçado, não eram prematuras mas se transportarmos esses mesmos cinco minutos para estes dias podiam chamar-lhe precoce, extemporânea ou outra coisa qualquer que no final iria sempre ter que lhes chamar um grande transtorno ou uma enorme maçada.
Quero com isto dizer que me preocupa que a malta ande à procura de nomes porreiros para dar ao problema em vez de se debruçar sobre a respectiva resolução, num tique bem portuga mas que só resulta em esbanjamento desnecessário de tempo e de cornadura.
Por outro lado, o novo nome não facilita de todo a vida às vítimas do sucedido. Precoce ou prematura vai ser sempre complicada de assumir na condição, de verbalizar essa realidade tão confrangedora que o povo parodia com a célebre é tão bom, não foi?.
Mas basta-nos imaginar um cromo qualquer debruçado sobre o tema: é pá, isto de ejaculação precoce não soa nada bem. Xacávêr se arranjo uma alternativa porreira...
Qual terá sido o processo de raciocínio? E a motivação?
E uma pessoa tentar visualizar tudo isto e ao mesmo tempo pensar que o bacano achou que “ejaculação” estava bem e nessa parte não seria preciso mexer?
24 novembro 2009
Conto simples
Amanhecia quando abandonou as ruas desalmadas. Já a queimava o sol quando entrou em casa. Doze machos que a atravessaram, de onze já nem se lembrava, tinha guardado a memória na carteira. Apenas uma reminiscência do agitar frenético e violento em cima dela, dos caninos salivados e brilhantes no escuro. Ah! Mas o décimo segundo! Foi ela que se agitou frenética, lânguida na sua brandura. Permitiu-se, apenas uma vez, sonhar um bocadinho. E, dessa que era a décima oitava (sim, contava-as desde que se conheceram) devolveu, às escondidas, a memória que costumava guardar na carteira, ao bolso do casaco dele. Em troca levou a recordação para casa.
Subscrever:
Mensagens (Atom)