27 dezembro 2009
26 dezembro 2009
Lume
Lume,
por favor, fala;
por favor,
nunca te cales,
que a indiferença não te alimenta;
qualquer chama
é demasiado frágil
sem a lenha da palavra que a acalenta,
e fica lenta
a vida à tua volta
quando, para arderes,
os teus próprios sonhos consomes.
Lume,
por favor, estala;
por favor,
nunca desmaies,
que a apatia não te aumenta;
qualquer vela
é demasiado volátil
sem a cera macia que a sustenta
e fica tonta,
a vida nessa anoxia,
quando, para acenderes
os teus próprios desejos, implodes.
Lume,
por favor, fala;
por favor,
nunca te cales,
que a indiferença não te alimenta;
qualquer chama
é demasiado frágil
sem a lenha da palavra que a acalenta,
e fica lenta
a vida à tua volta
quando, para arderes,
os teus próprios sonhos consomes.
Lume,
por favor, estala;
por favor,
nunca desmaies,
que a apatia não te aumenta;
qualquer vela
é demasiado volátil
sem a cera macia que a sustenta
e fica tonta,
a vida nessa anoxia,
quando, para acenderes
os teus próprios desejos, implodes.
Lume,
Monte
Chamas de Vénus
ao monte que acaricias,
que beijas e mordes,
onde te enterras
e quente, te diluis um pouco;
chamarás o que quiseres,
quando as palavras
já forem poucas
- sendo o gesto tudo -
e lamberás de prazer
as entranhas desse monte
onde te vens,
perdendo até
(os tempos não mudam)
a noção de ti.
Foto e poesia de Paula Raposo
25 dezembro 2009
As Músicas de Natal Enjoam
Esperei que ele coxeasse até mim e, sem lhe dar tempo de fechar o sorriso apalermado tão manco como o andar, lancei-lhe de chofre:
– Além de coxo, és parvo! Coxo e parvo! É demais…
Ele abriu muito os olhos, congelou o sorriso num esgar de perplexidade e, depois de um tímido olá que lhe saiu automaticamente, limitou-se a esperar que eu continuasse.
– Anda sentar-te – disse-lhe, toquei-lhe no braço e ordenei, sem esperar por ele: – Vamos para aquele banco!
Segui em ritmo acelerado, para o obrigar a caminhar aos saltinhos para me acompanhar e dirigi-nos a um banco do jardim.
Esperei que se sentasse e recomecei.
– És parvo, não és?! – Ele olhava-me fixamente, sem expressão. – Sabes que as coisas não são assim!
– Não? O...
– Não! Claro que não. As coisas não se passam assim e ninguém te deu liberdade para dizeres o que disseste! Pelo menos, eu não dei!
Ele baixou o olhar, acabrunhado, coçou a perna manca junto ao joelho, fazendo força para fazer parar o pé que batia descontroladamente, lançou alguns grunhidos quase inaudíveis que não chegaram a transformar-se em palavras e tornou a levantar a cabeça e a olhar-me de frente, com ar derrotado.
– Vocês, os homens, estragam tudo – disse-lhe baixinho –, parece que nunca percebem nada.
Ele anuiu com um trejeito dos lábios, encolheu ligeiramente os ombros, entristeceu o olhar ainda mais, estendeu a perna manca, pois não conseguia controlar o nervoso movimento do pé e, após ganhar coragem, perguntou num murmúrio:
– Mas estás a falar exactamente de quê, Clara?
– De quê? – explodi.
– É por eu ser coxo, não é? – sugeriu ele, quase a medo.
– Coxo!? – espantei-me com a sua franqueza e desatei a rir, como se fosse engraçado, mas arrependi-me logo das gargalhadas, acho que me excedi na crueldade, bastava um riso abafado, cínico, menos óbvio, mas mais consequente. – Se todos os teus problemas fossem seres coxo da perna…
E eu disse-lhe. Expliquei-lhe quase tudo sem poupar nas palavras. Fustiguei-o sem dó nem piedade ainda que soubesse que nem tudo era merecido, se calhar, nem metade era devido. Enfim, quando me entusiasmo, quando me defendo atacando, quando quero marcar o meu terreno, quando quero que eles mostrem que me querem apesar de mim, acho que perco as estribeiras… Acho que me perco.
Mas ele era coxo e não ripostava. Tinha um olhar profundamente embaraçado e ouvia-me sem se defender, ainda que esclarecesse o que lhe dizia respeito e me confrontasse, sempre com excessiva educação, com a pouca ou nenhuma fundamentação das minhas opiniões e juízos.
No fim, envolvidos no frio do princípio da noite e no silêncio embaraçoso em que se desvaneceu o meu discurso estupidamente crispado, reduzido aos escombros dos frágeis mal-entendidos, dos vulgares juízos errados e das tristes e medrosas opiniões e preconceitos, ele repetiu, sem censura ou antipatia na voz:
– É por eu ser coxo, não é?
– Não, não é – afirmei, sincera: o olhar dele vencera-me. – Se calhar é por eu ter medo de estar aqui… De estarmos aqui.
– Podemos ir para outro lado – disse ele, com um sorriso trocista, límpido e perfeito. – Está frio…
– E a música de natal em repeat enjoa – completei, com itálico e tudo, devolvendo-lhe o sorriso.
– Vamos, Clara?
– Vamos, André – concordei, igualmente formal mas, como ele, sem desfazer o sorriso.
Ele apoiou-se levemente no braço da minha cadeira de rodas, levantou-se e pediu se me podia empurrar. Eu aceitei com um aceno.
E, mancando e rodando, fugimos do frio e das enjoativas músicas de Natal.
– Além de coxo, és parvo! Coxo e parvo! É demais…
Ele abriu muito os olhos, congelou o sorriso num esgar de perplexidade e, depois de um tímido olá que lhe saiu automaticamente, limitou-se a esperar que eu continuasse.
– Anda sentar-te – disse-lhe, toquei-lhe no braço e ordenei, sem esperar por ele: – Vamos para aquele banco!
Segui em ritmo acelerado, para o obrigar a caminhar aos saltinhos para me acompanhar e dirigi-nos a um banco do jardim.
Esperei que se sentasse e recomecei.
– És parvo, não és?! – Ele olhava-me fixamente, sem expressão. – Sabes que as coisas não são assim!
– Não? O...
– Não! Claro que não. As coisas não se passam assim e ninguém te deu liberdade para dizeres o que disseste! Pelo menos, eu não dei!
Ele baixou o olhar, acabrunhado, coçou a perna manca junto ao joelho, fazendo força para fazer parar o pé que batia descontroladamente, lançou alguns grunhidos quase inaudíveis que não chegaram a transformar-se em palavras e tornou a levantar a cabeça e a olhar-me de frente, com ar derrotado.
– Vocês, os homens, estragam tudo – disse-lhe baixinho –, parece que nunca percebem nada.
Ele anuiu com um trejeito dos lábios, encolheu ligeiramente os ombros, entristeceu o olhar ainda mais, estendeu a perna manca, pois não conseguia controlar o nervoso movimento do pé e, após ganhar coragem, perguntou num murmúrio:
– Mas estás a falar exactamente de quê, Clara?
– De quê? – explodi.
– É por eu ser coxo, não é? – sugeriu ele, quase a medo.
– Coxo!? – espantei-me com a sua franqueza e desatei a rir, como se fosse engraçado, mas arrependi-me logo das gargalhadas, acho que me excedi na crueldade, bastava um riso abafado, cínico, menos óbvio, mas mais consequente. – Se todos os teus problemas fossem seres coxo da perna…
E eu disse-lhe. Expliquei-lhe quase tudo sem poupar nas palavras. Fustiguei-o sem dó nem piedade ainda que soubesse que nem tudo era merecido, se calhar, nem metade era devido. Enfim, quando me entusiasmo, quando me defendo atacando, quando quero marcar o meu terreno, quando quero que eles mostrem que me querem apesar de mim, acho que perco as estribeiras… Acho que me perco.
Mas ele era coxo e não ripostava. Tinha um olhar profundamente embaraçado e ouvia-me sem se defender, ainda que esclarecesse o que lhe dizia respeito e me confrontasse, sempre com excessiva educação, com a pouca ou nenhuma fundamentação das minhas opiniões e juízos.
No fim, envolvidos no frio do princípio da noite e no silêncio embaraçoso em que se desvaneceu o meu discurso estupidamente crispado, reduzido aos escombros dos frágeis mal-entendidos, dos vulgares juízos errados e das tristes e medrosas opiniões e preconceitos, ele repetiu, sem censura ou antipatia na voz:
– É por eu ser coxo, não é?
– Não, não é – afirmei, sincera: o olhar dele vencera-me. – Se calhar é por eu ter medo de estar aqui… De estarmos aqui.
– Podemos ir para outro lado – disse ele, com um sorriso trocista, límpido e perfeito. – Está frio…
– E a música de natal em repeat enjoa – completei, com itálico e tudo, devolvendo-lhe o sorriso.
– Vamos, Clara?
– Vamos, André – concordei, igualmente formal mas, como ele, sem desfazer o sorriso.
Ele apoiou-se levemente no braço da minha cadeira de rodas, levantou-se e pediu se me podia empurrar. Eu aceitei com um aceno.
E, mancando e rodando, fugimos do frio e das enjoativas músicas de Natal.
Cortesã (By: Florlinda Espancada)
Sou da cor que tu me deres
da cor da lua, se lua me queres,
ou da cor tua, quando nua, meu Rei,
se o teu reinado me deres,
se nua em teu manto me envolveres
que a minha roupa já debotei.
Sou o nome que me chamares
o nome da louca, se louca me quiseres
o nome de ti, quando submissa te reinei,
se o teu nome me cederes,
se anónima em teu manto me teceres,
que a minha coroa já rasguei.
E agora? Terminou a peça,
sai do meu palco de estranhos;
que logo, logo recomeça
nova peça, para novos reinos...
da cor da lua, se lua me queres,
ou da cor tua, quando nua, meu Rei,
se o teu reinado me deres,
se nua em teu manto me envolveres
que a minha roupa já debotei.
Sou o nome que me chamares
o nome da louca, se louca me quiseres
o nome de ti, quando submissa te reinei,
se o teu nome me cederes,
se anónima em teu manto me teceres,
que a minha coroa já rasguei.
E agora? Terminou a peça,
sai do meu palco de estranhos;
que logo, logo recomeça
nova peça, para novos reinos...
24 dezembro 2009
Postal de natal porno da padaria
"A padaria da Didas deseja a todos os clientes e amigos um feliz e santo Natal na companhia do(s) que mais gostam"
Didas
Blog Farinha Amparo, a padaria da família
Didas
Blog Farinha Amparo, a padaria da família
Conselho da Maria Árvore para o Natal
"Vamos poupar o abate de árvores para este Natal.
Por favor usem esta!"
Maria Árvore
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