28 dezembro 2009
27 dezembro 2009
O que eu queria !
Queria poder dar-te o impossível,
Agarrar todas as estrelas que há no céu!
E mostrar-te que o Universo é tangível,
Oferecer-te, num beijo, tudo o que é meu!
Queria ver, nos teus olhos, mil desejos...
E, nos teus lábios, palavras de loucura!
Queria encher-te a boca com meus beijos,
Deixar-te o corpo com frémitos de tremura!
Queria preencher os recônditos espaços
Onde guardas, para mim, os teus tesoiros!
E queria abraçar-te com meus braços,
Afagar, sim, os teus cabelos loiros!
Queria possuir-te numa noite de luar,
Desenhar-te, traço a traço, num esboço...
Queria, meu amor, tanta coisa pra te dar,
Queria...oh, se queria! Mas não posso...
Agarrar todas as estrelas que há no céu!
E mostrar-te que o Universo é tangível,
Oferecer-te, num beijo, tudo o que é meu!
Queria ver, nos teus olhos, mil desejos...
E, nos teus lábios, palavras de loucura!
Queria encher-te a boca com meus beijos,
Deixar-te o corpo com frémitos de tremura!
Queria preencher os recônditos espaços
Onde guardas, para mim, os teus tesoiros!
E queria abraçar-te com meus braços,
Afagar, sim, os teus cabelos loiros!
Queria possuir-te numa noite de luar,
Desenhar-te, traço a traço, num esboço...
Queria, meu amor, tanta coisa pra te dar,
Queria...oh, se queria! Mas não posso...
Tatuagem
Marcas-me a vida
Como uma tatuagem,
No meu corpo
Sem reencontro,
Deixas-me num minuto
E as palavras sobram
Num livro sem imagens.
Figurante nesta peça,
Saio de cena sem alarde,
Voltando à casa
De onde nunca parti,
Perdendo-me no caminho
Do meu corpo.
Febrilmente marcas-me
Os sentidos
E deixas-me só, muda
Sem saber
Onde me encontro agora.
A tatuagem permanece,
Mas eu não....
Foto e poesia de Paula Raposo
Tintas @MissJoanaWell
Tintas: não passes por cima do castanho, o cinzento desaparece.
Tintas: de que cor é perto?
Tintas: a que cheira a tinta da cor de ti?
Tintas: pintei uma ponte da cor dos teus joelhos. Escondi-me debaixo dela.
Tintas: agora, é a tua vez. Pinta-me a roupa, para a poder tirar.
Estás a escolher as tintas, como palavras, cauteloso. Escolhi-te porque consegues jorrar, livre.
Mergulhei as pernas no teu tinteiro. Carimbei as tuas ancas, as tuas costas.
Entinteci.
O tinteiro do tempo. Branco. Mergulhei as mãos. Agarrei o teu cabelo. Envelheci-te.
Mistura bem as nossas tintas. Mas deixa linhas dos nossos tons.
Carimbei as asas no teu lençol. Mas não me deitei.
Não vês as minhas asas marcadas na tua janela. Porque ainda estou aqui. A pintar estrelas de amarelo e branco. A tingir-te.
Sou de leite, sou de água, sobre o papel; sou do leito, sou de tábua, sob o teu pincel.
Silêncio é bom quando não seca a tinta.
Sou tinta a escorrer-te em palavras. Contas as cores?
«Penicos de Prata»
Olhem que grupo que a Maria Árvore me apresentou.
"Cordas, Falas e Falos
Músicas marotas...
sonetos com garotos e garotas...
"poesias porcalhotas"!
Erotismo e Sátira!
Grandes poetas escreveram,
Os Penicos de Prata compuseram!"
"Cordas, Falas e Falos
Músicas marotas...
sonetos com garotos e garotas...
"poesias porcalhotas"!
Erotismo e Sátira!
Grandes poetas escreveram,
Os Penicos de Prata compuseram!"
26 dezembro 2009
Lume
Lume,
por favor, fala;
por favor,
nunca te cales,
que a indiferença não te alimenta;
qualquer chama
é demasiado frágil
sem a lenha da palavra que a acalenta,
e fica lenta
a vida à tua volta
quando, para arderes,
os teus próprios sonhos consomes.
Lume,
por favor, estala;
por favor,
nunca desmaies,
que a apatia não te aumenta;
qualquer vela
é demasiado volátil
sem a cera macia que a sustenta
e fica tonta,
a vida nessa anoxia,
quando, para acenderes
os teus próprios desejos, implodes.
Lume,
por favor, fala;
por favor,
nunca te cales,
que a indiferença não te alimenta;
qualquer chama
é demasiado frágil
sem a lenha da palavra que a acalenta,
e fica lenta
a vida à tua volta
quando, para arderes,
os teus próprios sonhos consomes.
Lume,
por favor, estala;
por favor,
nunca desmaies,
que a apatia não te aumenta;
qualquer vela
é demasiado volátil
sem a cera macia que a sustenta
e fica tonta,
a vida nessa anoxia,
quando, para acenderes
os teus próprios desejos, implodes.
Lume,
Monte
Chamas de Vénus
ao monte que acaricias,
que beijas e mordes,
onde te enterras
e quente, te diluis um pouco;
chamarás o que quiseres,
quando as palavras
já forem poucas
- sendo o gesto tudo -
e lamberás de prazer
as entranhas desse monte
onde te vens,
perdendo até
(os tempos não mudam)
a noção de ti.
Foto e poesia de Paula Raposo
25 dezembro 2009
As Músicas de Natal Enjoam
Esperei que ele coxeasse até mim e, sem lhe dar tempo de fechar o sorriso apalermado tão manco como o andar, lancei-lhe de chofre:
– Além de coxo, és parvo! Coxo e parvo! É demais…
Ele abriu muito os olhos, congelou o sorriso num esgar de perplexidade e, depois de um tímido olá que lhe saiu automaticamente, limitou-se a esperar que eu continuasse.
– Anda sentar-te – disse-lhe, toquei-lhe no braço e ordenei, sem esperar por ele: – Vamos para aquele banco!
Segui em ritmo acelerado, para o obrigar a caminhar aos saltinhos para me acompanhar e dirigi-nos a um banco do jardim.
Esperei que se sentasse e recomecei.
– És parvo, não és?! – Ele olhava-me fixamente, sem expressão. – Sabes que as coisas não são assim!
– Não? O...
– Não! Claro que não. As coisas não se passam assim e ninguém te deu liberdade para dizeres o que disseste! Pelo menos, eu não dei!
Ele baixou o olhar, acabrunhado, coçou a perna manca junto ao joelho, fazendo força para fazer parar o pé que batia descontroladamente, lançou alguns grunhidos quase inaudíveis que não chegaram a transformar-se em palavras e tornou a levantar a cabeça e a olhar-me de frente, com ar derrotado.
– Vocês, os homens, estragam tudo – disse-lhe baixinho –, parece que nunca percebem nada.
Ele anuiu com um trejeito dos lábios, encolheu ligeiramente os ombros, entristeceu o olhar ainda mais, estendeu a perna manca, pois não conseguia controlar o nervoso movimento do pé e, após ganhar coragem, perguntou num murmúrio:
– Mas estás a falar exactamente de quê, Clara?
– De quê? – explodi.
– É por eu ser coxo, não é? – sugeriu ele, quase a medo.
– Coxo!? – espantei-me com a sua franqueza e desatei a rir, como se fosse engraçado, mas arrependi-me logo das gargalhadas, acho que me excedi na crueldade, bastava um riso abafado, cínico, menos óbvio, mas mais consequente. – Se todos os teus problemas fossem seres coxo da perna…
E eu disse-lhe. Expliquei-lhe quase tudo sem poupar nas palavras. Fustiguei-o sem dó nem piedade ainda que soubesse que nem tudo era merecido, se calhar, nem metade era devido. Enfim, quando me entusiasmo, quando me defendo atacando, quando quero marcar o meu terreno, quando quero que eles mostrem que me querem apesar de mim, acho que perco as estribeiras… Acho que me perco.
Mas ele era coxo e não ripostava. Tinha um olhar profundamente embaraçado e ouvia-me sem se defender, ainda que esclarecesse o que lhe dizia respeito e me confrontasse, sempre com excessiva educação, com a pouca ou nenhuma fundamentação das minhas opiniões e juízos.
No fim, envolvidos no frio do princípio da noite e no silêncio embaraçoso em que se desvaneceu o meu discurso estupidamente crispado, reduzido aos escombros dos frágeis mal-entendidos, dos vulgares juízos errados e das tristes e medrosas opiniões e preconceitos, ele repetiu, sem censura ou antipatia na voz:
– É por eu ser coxo, não é?
– Não, não é – afirmei, sincera: o olhar dele vencera-me. – Se calhar é por eu ter medo de estar aqui… De estarmos aqui.
– Podemos ir para outro lado – disse ele, com um sorriso trocista, límpido e perfeito. – Está frio…
– E a música de natal em repeat enjoa – completei, com itálico e tudo, devolvendo-lhe o sorriso.
– Vamos, Clara?
– Vamos, André – concordei, igualmente formal mas, como ele, sem desfazer o sorriso.
Ele apoiou-se levemente no braço da minha cadeira de rodas, levantou-se e pediu se me podia empurrar. Eu aceitei com um aceno.
E, mancando e rodando, fugimos do frio e das enjoativas músicas de Natal.
– Além de coxo, és parvo! Coxo e parvo! É demais…
Ele abriu muito os olhos, congelou o sorriso num esgar de perplexidade e, depois de um tímido olá que lhe saiu automaticamente, limitou-se a esperar que eu continuasse.
– Anda sentar-te – disse-lhe, toquei-lhe no braço e ordenei, sem esperar por ele: – Vamos para aquele banco!
Segui em ritmo acelerado, para o obrigar a caminhar aos saltinhos para me acompanhar e dirigi-nos a um banco do jardim.
Esperei que se sentasse e recomecei.
– És parvo, não és?! – Ele olhava-me fixamente, sem expressão. – Sabes que as coisas não são assim!
– Não? O...
– Não! Claro que não. As coisas não se passam assim e ninguém te deu liberdade para dizeres o que disseste! Pelo menos, eu não dei!
Ele baixou o olhar, acabrunhado, coçou a perna manca junto ao joelho, fazendo força para fazer parar o pé que batia descontroladamente, lançou alguns grunhidos quase inaudíveis que não chegaram a transformar-se em palavras e tornou a levantar a cabeça e a olhar-me de frente, com ar derrotado.
– Vocês, os homens, estragam tudo – disse-lhe baixinho –, parece que nunca percebem nada.
Ele anuiu com um trejeito dos lábios, encolheu ligeiramente os ombros, entristeceu o olhar ainda mais, estendeu a perna manca, pois não conseguia controlar o nervoso movimento do pé e, após ganhar coragem, perguntou num murmúrio:
– Mas estás a falar exactamente de quê, Clara?
– De quê? – explodi.
– É por eu ser coxo, não é? – sugeriu ele, quase a medo.
– Coxo!? – espantei-me com a sua franqueza e desatei a rir, como se fosse engraçado, mas arrependi-me logo das gargalhadas, acho que me excedi na crueldade, bastava um riso abafado, cínico, menos óbvio, mas mais consequente. – Se todos os teus problemas fossem seres coxo da perna…
E eu disse-lhe. Expliquei-lhe quase tudo sem poupar nas palavras. Fustiguei-o sem dó nem piedade ainda que soubesse que nem tudo era merecido, se calhar, nem metade era devido. Enfim, quando me entusiasmo, quando me defendo atacando, quando quero marcar o meu terreno, quando quero que eles mostrem que me querem apesar de mim, acho que perco as estribeiras… Acho que me perco.
Mas ele era coxo e não ripostava. Tinha um olhar profundamente embaraçado e ouvia-me sem se defender, ainda que esclarecesse o que lhe dizia respeito e me confrontasse, sempre com excessiva educação, com a pouca ou nenhuma fundamentação das minhas opiniões e juízos.
No fim, envolvidos no frio do princípio da noite e no silêncio embaraçoso em que se desvaneceu o meu discurso estupidamente crispado, reduzido aos escombros dos frágeis mal-entendidos, dos vulgares juízos errados e das tristes e medrosas opiniões e preconceitos, ele repetiu, sem censura ou antipatia na voz:
– É por eu ser coxo, não é?
– Não, não é – afirmei, sincera: o olhar dele vencera-me. – Se calhar é por eu ter medo de estar aqui… De estarmos aqui.
– Podemos ir para outro lado – disse ele, com um sorriso trocista, límpido e perfeito. – Está frio…
– E a música de natal em repeat enjoa – completei, com itálico e tudo, devolvendo-lhe o sorriso.
– Vamos, Clara?
– Vamos, André – concordei, igualmente formal mas, como ele, sem desfazer o sorriso.
Ele apoiou-se levemente no braço da minha cadeira de rodas, levantou-se e pediu se me podia empurrar. Eu aceitei com um aceno.
E, mancando e rodando, fugimos do frio e das enjoativas músicas de Natal.
Cortesã (By: Florlinda Espancada)
Sou da cor que tu me deres
da cor da lua, se lua me queres,
ou da cor tua, quando nua, meu Rei,
se o teu reinado me deres,
se nua em teu manto me envolveres
que a minha roupa já debotei.
Sou o nome que me chamares
o nome da louca, se louca me quiseres
o nome de ti, quando submissa te reinei,
se o teu nome me cederes,
se anónima em teu manto me teceres,
que a minha coroa já rasguei.
E agora? Terminou a peça,
sai do meu palco de estranhos;
que logo, logo recomeça
nova peça, para novos reinos...
da cor da lua, se lua me queres,
ou da cor tua, quando nua, meu Rei,
se o teu reinado me deres,
se nua em teu manto me envolveres
que a minha roupa já debotei.
Sou o nome que me chamares
o nome da louca, se louca me quiseres
o nome de ti, quando submissa te reinei,
se o teu nome me cederes,
se anónima em teu manto me teceres,
que a minha coroa já rasguei.
E agora? Terminou a peça,
sai do meu palco de estranhos;
que logo, logo recomeça
nova peça, para novos reinos...
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