É curioso que um livro intitulado «Didon, Tragedie», publicado em 1747 (sim, sim, há mais de 250 anos!) tenha, depois de 94 páginas de tragédia e antes das páginas finais com mais uma tragédia («Adelaide de Hongrie»), um pequeno oásis de 46 páginas com um poema erótico em quatro cantos - «Les oiseaux chéris, ou la fidélité récompensée» - precedido de umas «réflexions sur la poésie érotique».
Mas o erotismo é, também, isso: um oásis no meio de tragédias.
Mais um livrinho da minha colecção.
11 janeiro 2010
10 janeiro 2010
Janeiras, ainda...
(À São, essa alma impoluta, que me entendeu uma ausência e a quem nunca eu daria uma nega...)
não fui cantar as Janeiras
meu amor porque não pude
fiquei-me pelas lareiras
aquecendo uma atitude
mas hei-de ir um destes dias
mais quente de cima abaixo
se tu me deres garantias
de me achares tu como eu te acho
que Janeiras bem cantadas
são um manto de emoções
neve hão-de ter nas estradas
mas aquecem corações
e ao dares de ti dó de peito
junto a mim no teu cantar
havemos de dar um jeito
do dó em sol se tornar
não fui cantar as Janeiras
meu amor porque não pude
fiquei-me pelas lareiras
aquecendo uma atitude
mas hei-de ir um destes dias
mais quente de cima abaixo
se tu me deres garantias
de me achares tu como eu te acho
que Janeiras bem cantadas
são um manto de emoções
neve hão-de ter nas estradas
mas aquecem corações
e ao dares de ti dó de peito
junto a mim no teu cantar
havemos de dar um jeito
do dó em sol se tornar
Conto das acusações (III)
Amo-te! - Disse o amante, de corpo suado, nu, em cima dela. Aguardou, parado, expectante. Ela abriu a boca; não conseguiu falar, o som morreu engasgado no atrito dos pensamentos. Revoltado, gemeu a acusação impiedosa - amas um morto, é ele que tu amas! Respiraste-lhe as cinzas, os teus ossos absorveram-nas, entranharam-nas e faz tanto parte de ti que agora é o teu esqueleto. Ela lembrou-se. O grito lançado pela garganta, como se o corpo não lhe pertencesse, parecia planar sobre si mesma; debater-se, os empurrões em quem tentava fechar o caixão, o desespero...e fechou-se com ele para ser cinza. O ultimo soluço, a ultima lágrima secou e solidificou nas outras; formaram uma lâmina aguda, invisível, na garganta e no peito. Dispensou o amante. A todos os outros disse o mesmo: amava um morto. Há acusações que revoltam, que fazem espernear, são uma pele que não se nos cola, enjoa-nos o cheiro sebáceo e a sua cor quando os tentam misturar com o nosso; outras, em que acreditamos, transformam-nos naquilo que morava nos dedos apontados, essas têm o verdadeiro veneno.
Certo/errado?
Não vale a pena questionar-se.
O encontro foi na hora errada;
o homem era o errado;
o encontro foi na hora errada;
o homem era o certo (coisa que não sabemos).
Não vale a pena duvidar.
O encontro foi na hora certa;
o homem era o errado;
o encontro foi na hora errada;
o homem ainda(!) era o errado.
Não vale a pena desmoralizar.
O encontro mesmo na hora certa
nunca é com o homem certo (!);
e na hora errada,
nunca está certo:
o homem é sempre errado.
Foto e poesia de Paula Raposo
Abençoada mãe galinha...
09 janeiro 2010
Fantasma(le)górico
O fantasma aproximou-se devagar, para não se apresentar como uma assombração. Limitou-se a estender uma mão e a fingir que a tocava, mesmo sabendo que jamais ela despertava do seu torpor.
E ele sabia que os fantasmas sentem o amor mas não o conseguem transmitir a quem não pode sentir um toque de outra dimensão, na ausência do calor naquela mão transparente de um holograma ausente que se contentava em sonhá-la assim, não existia uma sensação física como ela desejaria.
O fantasma nunca passaria de uma ilusão distante, de um simulacro de amante sem substância e incapaz de a reconfortar nos momentos mais necessários. Ele fazia parte dos desejos imaginários e mesmo nessa perspectiva há muito deixara de ser activa a sua participação.
O fantasma só tinha um coração sem consistência e isso conduzia-o de forma irreversível à desistência que combatia apenas com a energia do seu amor espiritual, de uma fé alimentada pelo ritual de a observar em silêncio por detrás do seu biombo onde se entretinha a espreitar o filme onde não havia lugar para um actor tão secundário, o figurante irrisório no contexto de um guião onde a sua interpretação se resumia a compor melhor o cenário.
Em silêncio, o fantasma desnecessário na maior parte do tempo fazia de figura decorativa e nem sequer falava a quem fingia que tocava, estendendo uma mão para o vazio, uma mão que não combatia o frio e por isso de pouco ou nada valia à pessoa a quem a estendia a partir do seu universo irreal e longínquo.
E ele sabia que os fantasmas sentem o amor mas não o conseguem transmitir a quem não pode sentir um toque de outra dimensão, na ausência do calor naquela mão transparente de um holograma ausente que se contentava em sonhá-la assim, não existia uma sensação física como ela desejaria.
O fantasma nunca passaria de uma ilusão distante, de um simulacro de amante sem substância e incapaz de a reconfortar nos momentos mais necessários. Ele fazia parte dos desejos imaginários e mesmo nessa perspectiva há muito deixara de ser activa a sua participação.
O fantasma só tinha um coração sem consistência e isso conduzia-o de forma irreversível à desistência que combatia apenas com a energia do seu amor espiritual, de uma fé alimentada pelo ritual de a observar em silêncio por detrás do seu biombo onde se entretinha a espreitar o filme onde não havia lugar para um actor tão secundário, o figurante irrisório no contexto de um guião onde a sua interpretação se resumia a compor melhor o cenário.
Em silêncio, o fantasma desnecessário na maior parte do tempo fazia de figura decorativa e nem sequer falava a quem fingia que tocava, estendendo uma mão para o vazio, uma mão que não combatia o frio e por isso de pouco ou nada valia à pessoa a quem a estendia a partir do seu universo irreal e longínquo.
Química
Das palmas da mãos
saem as palavras mais belas;
falam de amor
e de saudade também;
pronuncio-as ao longo do teu corpo:
dedilhando as cordas
de uma guitarra.
Canto o doce mistério do sexo
- a química de nós -,
das palmas das mãos
solto-te em amor
- hálito agridoce -
que sempre penetra.
Foto e poesia de Paula Raposo
Conto das máscaras (II) - As mãos da noite no cabelo
Fumei as tuas palavras e o cigarro morreu-me nos dedos; acenderam-se os corpos. Demorar a noite, demorar a noite que é bom acordar assim, pernas e braços entrelaçados, almas entranhadas; mas a manhã que não é inicio do dia de nós é inicio do adeus da paz. Até quando? Pergunta-se ao vento e à maré; uma casca de noz nunca sabe, é apenas uma mendiga do tempo. E o vento e maré gozam, vão gargalhando até logos e até nuncas, satisfeitos com o seu domínio completo da felicidade alheia. As mãos da noite demoram-se no cabelo para demorarem a sombra que suaviza as linhas do rosto. As mãos da noite demoram-se no cabelo e beijam os sulcos dolorosos causados pelo aparafusar das máscaras.
08 janeiro 2010
Excertos do Twitter ainda a propósito do dia de hoje
luispedronunes - Já perdi alguma Boda?
afundasao - @luispedronunes Nas bodas dos casamentos homossexuais também há penetras?
afundasao - @luispedronunes Nas bodas dos casamentos homossexuais também há penetras?
Excertos do Facebook a propósito do dia de hoje
NILTON - Será bom para a criança?! Ouvir o Pai a dizer para o outro Pai: "Zé Carlos, anda dar de mamar ao teu filho!"
Carlos Teixeira - Mas ó Nilton e se for no caso de serem... duas mães? É à escolha do freguês!
Carlos Teixeira - Mas ó Nilton e se for no caso de serem... duas mães? É à escolha do freguês!
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