26 janeiro 2010
Lábios
Quando vi a foto
de sorriso entusiasmante(!)
e a grossura dos lábios,
vi-te no filme:
a boca ideal para o broche.
Imagino-te noutro cenário,
talvez uma casa abandonada,
os ossos no chão gelado
e tu, mesmo assim, empenado,
a pedires qualquer coisa.
Aqueles lábios, bolas,
mesmo num chão gelado,
numa casa abandonada
(nos confins)
têm que mostrar do que são capazes!
Ou não é?!
Foto e poesia de Paula Raposo
Quero o cheiro das rosas
Hoje, não quero falar de amor
Quero carícias sussurradas
Por entre os lençóis
Quero morder tua orelha
E beijar teu pescoço
Quero agarrar-me ao teu dorso
E puxar-te para mim.
Hoje, quero virar fera
Quero sentir tua língua
Entranhando na minha boca
O doce grado do teu beijo
Quero que sorvas do meu peito
E me arranques com jeito
Um grito deliciado de prazer
Hoje não quero falar do amanhã
Quero sentir-te no madrugar
E guardar bem a lembrança
Quero sentir os corpos embrenhados
Num abismo culminante
Hoje, quero o cheiro das rosas
Gravado num sorriso de alegria
Maria Escritos - 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com/
25 janeiro 2010
Quando for grande também quero ter uma fundação...
... como a F.I.N.A.L.E. - Fondation Internationale d'Arts et Littératures Erotiques, na Suiça, do meu amigo Michel Froidevaux, dono da editora e galeria de arte HUMUS e do Cabinet Érotique, "une librairie spécialisée dans la création inspirée du plaisir des corps. Avec un fonds de quelque 4'000 ouvrages, le Cabinet propose aussi gravures, dessins, photographies, cartes postales, bandes dessinées, bibelots. En robe ou en uniforme, les ecclésiastiques, procureurs et militaires sont dispensés de visite...".
Tal como a funda São, a fundação F.I.N.A.L.E. tem como objectivos "réunir les créations inspirées par l'érotisme, sous forme d'écrits, d'oeuvres d'art, d'objets ou de divers supports". "La Fondation désire être un centre de documentation et de conservation des expressions érotiques et des comportements amoureux". A fundação F.I.N.A.L.E. tem uma excelente colecção de ex-libris eróticos antigos e contemporâneos.
Podem ver algumas fotos do espaço aqui. Tem essencialmente obras em francês e também em alemão, inglês, espanhol "...mais presque rien en portugais". Pois a partir de agora já têm um exemplar autografado do «diciOrdinário ilusTarado». E o Michel gostou: "Il est drôle, plaisant, documenté et, certainement, très savant pour le langage et les jeux de mots. (...) J'ai beaucoup apprécié, au dos de la quatrième de couverture, la façon en hommage à Courbet avec laquelle le code barre a été adapté".
E não esteve com meias medidas: enviou-me uma grande caixa com onze livros da sua editora HUMUS, qual deles o mais delicioso.
Quem quiser pode comprá-los aqui.
Onze miminhos da HUMUS para a minha colecção
(há detalhes deliciosos, como o livro «Le sexe des anges» que traz uma pluma...)
Merci beaucoup, Michel! On se verra un de ces jours en Suisse ou au Portugal.
Boca de areia
Cede que quem cede quebra
a vontade de pedra,
e é na minha cama que cai,
e é na minha cama que se esvai;
cede-me nos lábios a palavra
do desejo que te trai.
Cede que quem me cede a sede
não seca a boca de areia,
e é no meu corpo que bebe
o liquido instável que o meu desejo cede;
cede-me esse sal na traqueia
onde escorre a tua vontade.
a vontade de pedra,
e é na minha cama que cai,
e é na minha cama que se esvai;
cede-me nos lábios a palavra
do desejo que te trai.
Cede que quem me cede a sede
não seca a boca de areia,
e é no meu corpo que bebe
o liquido instável que o meu desejo cede;
cede-me esse sal na traqueia
onde escorre a tua vontade.
A importância da auto-estima para a relação com os outros
Apesar de não lhe darmos o devido valor, a auto-estima tem uma grande influência na nossa vida e especialmente na nossa vida afectiva. Estarmos bem connosco permite-nos estar muito melhor com os outros.
Em consulta é muito frequente ver pessoas com uma auto-estima frágil, o que condiciona obviamente a intimidade com os outros. Esta constatação é muito frequente no sexo feminino. Para uma sexualidade satisfatória é preciso que a nossa auto-estima seja positiva e que o nosso auto-conceito seja igualmente positivo. Quando gostamos de nós, da nossa imagem, sentimos-nos mais atraentes aos outros.
A construção da nossa auto-estima começa muito cedo, com as primeiras experiências que trocamos com os nossos cuidadores; depois o sucesso ou o seu insucesso condiciona-nos para sempre.
Mostro-vos por isto a fantástica campanha da DOVE no Brasil que visa melhorar a auto-estima das jovens meninas.
Em consulta é muito frequente ver pessoas com uma auto-estima frágil, o que condiciona obviamente a intimidade com os outros. Esta constatação é muito frequente no sexo feminino. Para uma sexualidade satisfatória é preciso que a nossa auto-estima seja positiva e que o nosso auto-conceito seja igualmente positivo. Quando gostamos de nós, da nossa imagem, sentimos-nos mais atraentes aos outros.
A construção da nossa auto-estima começa muito cedo, com as primeiras experiências que trocamos com os nossos cuidadores; depois o sucesso ou o seu insucesso condiciona-nos para sempre.
Mostro-vos por isto a fantástica campanha da DOVE no Brasil que visa melhorar a auto-estima das jovens meninas.
24 janeiro 2010
A posta nas coisas pequenas
Coisas pequenas, a que nem ligamos na maioria do tempo em que nos deixamos alienar por um conjunto de obrigatoriedades que nos impomos, ou assim o permitimos pela vida lá fora, e nos distraem das questões (verdadeiramente importantes) de pormenor.
Pode ser a luz de um sorriso de boas vindas como a constatação de ser sempre perfeita a primeira escolha, a reacção instintiva a um estímulo qualquer.
Pode ser uma coisa típica de mulher, uma simples manifestação da sua inteligência emocional ou da intuição fora do comum que as torna ainda mais fascinantes do que já resultam à vista desarmada de um corpo bonito ou de uma tirada brilhante que nos impressiona.
Pequenas coisas a que só damos valor quando nos deixamos levar pelo amor até à visão clara de tudo aquilo que alguém possui para nos presentear ao longo do tempo em que partilhamos um momento que seja da existência.
Gigantes na dimensão, quando abrimos o coração ao que interessa e renegamos aquilo que a cabeça nos propõe em alternativa, carregada do esterco normal que o papel social acarreta. A deturpação das prioridades que o quotidiano implica, mais os medos que a perda de confiança nos outros primeiro e em nós próprios em consequência nos somam quando a pressão se faz sentir com força demais.
A dificuldade extrema de gerir vidas a dois, num mundo talhado para uma atitude individual, solitária a bem dizer, e que torna cada história de amor numa missão (quase) impossível faz parte do mesmo problema, dessa amálgama de influências que nos dispersa e em última análise nos afasta da simplicidade das emoções. Uma catadupa de complicações nascida do nada, do exterior, que nos afasta aos poucos do amor genuíno e sem reservas, que nos inibe de aceitar que é normal esse perigo de alguém se apaixonar pela pessoa ou no tempo errados e que é bom sentirmo-nos apaixonados pois essa é uma das formas mais bonitas de percebermos como é bom ser feliz.
Coisas pequenas, ou nem por isso, que fazem toda a diferença perceber ou sentir. A alegria de fazer alguém rir das nossas chalaças, de constatar o prazer que provocam as nossas presenças na sua vida e tudo em vice-versa.
Coisas que sempre o coração e jamais a cabeça poderá descodificar para a linguagem acessível da felicidade que é mesmo possível quando sabemos distinguir a mensagem que o peito tenta transmitir da que o outro centro emissor (que nada percebe do amor) nos impinge para afinal nos arrastar para a má onda e a tristeza.
Mas eu tenho a certeza que um dia conseguiremos alcançar a vitória e assim mudaremos a História com o poder que o amor pode revelar quando nada interfere com a sua actuação.
Jamais na cabeça, sempre no coração.
Pode ser a luz de um sorriso de boas vindas como a constatação de ser sempre perfeita a primeira escolha, a reacção instintiva a um estímulo qualquer.
Pode ser uma coisa típica de mulher, uma simples manifestação da sua inteligência emocional ou da intuição fora do comum que as torna ainda mais fascinantes do que já resultam à vista desarmada de um corpo bonito ou de uma tirada brilhante que nos impressiona.
Pequenas coisas a que só damos valor quando nos deixamos levar pelo amor até à visão clara de tudo aquilo que alguém possui para nos presentear ao longo do tempo em que partilhamos um momento que seja da existência.
Gigantes na dimensão, quando abrimos o coração ao que interessa e renegamos aquilo que a cabeça nos propõe em alternativa, carregada do esterco normal que o papel social acarreta. A deturpação das prioridades que o quotidiano implica, mais os medos que a perda de confiança nos outros primeiro e em nós próprios em consequência nos somam quando a pressão se faz sentir com força demais.
A dificuldade extrema de gerir vidas a dois, num mundo talhado para uma atitude individual, solitária a bem dizer, e que torna cada história de amor numa missão (quase) impossível faz parte do mesmo problema, dessa amálgama de influências que nos dispersa e em última análise nos afasta da simplicidade das emoções. Uma catadupa de complicações nascida do nada, do exterior, que nos afasta aos poucos do amor genuíno e sem reservas, que nos inibe de aceitar que é normal esse perigo de alguém se apaixonar pela pessoa ou no tempo errados e que é bom sentirmo-nos apaixonados pois essa é uma das formas mais bonitas de percebermos como é bom ser feliz.
Coisas pequenas, ou nem por isso, que fazem toda a diferença perceber ou sentir. A alegria de fazer alguém rir das nossas chalaças, de constatar o prazer que provocam as nossas presenças na sua vida e tudo em vice-versa.
Coisas que sempre o coração e jamais a cabeça poderá descodificar para a linguagem acessível da felicidade que é mesmo possível quando sabemos distinguir a mensagem que o peito tenta transmitir da que o outro centro emissor (que nada percebe do amor) nos impinge para afinal nos arrastar para a má onda e a tristeza.
Mas eu tenho a certeza que um dia conseguiremos alcançar a vitória e assim mudaremos a História com o poder que o amor pode revelar quando nada interfere com a sua actuação.
Jamais na cabeça, sempre no coração.
Raios
Quando começo a dizer
coisas sem ‘nexo’
(convictamente),
é precisamente quando a vontade
se impõe e toma conta
da racionalidade.
Chamam-lhe impulsividade,
falta de educação, loucura,
raiva, ciúmes;
um sem número de epítetos.
Nesse ponto:
quero que o raio te parta
e que te lixes.
Sem mais.
Foto e poesia de Paula Raposo
23 janeiro 2010
Outra margem de mim
E é nesta dormência demente
Que me assola o corpo inteiro,
Que estremeço e enlouqueço
Sentindo falta do teu toque
No espaço vazio
Deixado na minha pele.
Despojada assim do meu pensar
Vagueando à deriva
Nesta vasta imensidão
Ensandeço, atordoada
Ansiando avidamente
Pelo calor do teu olhar
Pousado suavemente em mim.
Grito em silêncio o teu nome
E tudo que escuto
É o eco emudecido
Desta demente dormência
Que me deixa adormecida,
Morando perpetuadamente
Neste êxtase sonhado,
Aguardando o teu corpo no meu
Extinguindo este defeito
De ter feito de ti
A nascente que me suporta
E me transporta
À outra margem de mim.
Maria Escritos – 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com/
Eugénia
Desenhava almas mas disse que não queria desenhar. Nunca conseguiria esboçar o cheiro da transpiração do homem minúsculo na sua pele. Nunca conseguiria pintar as constantes lavagens, até que o cheiro dele se misturou no sabão e, depois, no banho - agora esfolado na sua pele. Nunca conseguiria contornar o peso, a força gelatinosa arremessada, o vai-vem duro, a lua vermelha quando apelava ao céu que ele não a magoasse muito, que acabasse depressa. Sr. Dr. - disse - eu consigo desenhar um cão e um homem, mas nunca conseguirei retratar a criatura híbrida parida do pior dos dois. Sou capaz, contudo, de desenhar a fome que tenho e o pão que me oferecer. Era um cavaleiro; montou-a nele para se salvarem e transformou-se num cavalo.
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