Largamos as mãos de palavras ainda dadas. Ainda chove. Ainda tudo. Ainda não. Não gosto desta chuva; é uma chuva de cabelos brancos a enrugar-nos a pele; é uma chuva que avisa: o nosso (pouco) tempo já quase se acabou. Parece que percebes. Percebes? Porque o ar fica nítido; o ar fica cinzento no azul no vermelho e os meus ombros ficam nus. Olho os teus, o tronco abre-se. Basta olhar e já nunca te digo adeus. Mesmo que saiba essas coisas coisas todas que tu queres dizer, sento-me na janela e tu ficas imóvel, de corpo nu, encostado ao vidro quente; sempre soubeste que te vejo como se estivesse do lado de fora; então puxas-me e dizes que sou de vidro. Depois sorris, terno, parado. Dizes que nunca tinhas visto vidro nu. Dedos de penas. Já é amanhã. Não podemos ficar mais. Largamos as mãos de palavras ainda dadas. É por isso que me doem os olhos, muitas vezes as noites são escuras e eu não os desvio das palavras escritas, marcadas pelos dedos molhados, no vidro. Sabes, meu amor, sempre te quis explicar que a brisa e o vento só as aves e as árvores distinguem. As pessoas não. Quem és, quando não te distingues de mim?
13 fevereiro 2010
Técnica para ele não esfolar os joelhos na alcatifa
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12 fevereiro 2010
nocturno
na escuridão da noite mais profunda
o teu corpo acendeu luz entre lençóis
e no véu negro e denso de penumbra
rasgou-se em grito a fímbria de mil sóis
esplendoroso o voo que trouxeste
e a tua ardência – ah um galope ardendo ao vento
de sabor tão doce quanto agreste
e um gemido muito além do sofrimento
um quarto tão vazio de inconstâncias
e depois tu a enchê-lo só de olhares
dois copos meio cheios e as fragrâncias
dos vinhos dos desejos dos lugares
percorri-te em cada alento na voragem
e senti o estremecer para aquém do frio
e és sempre tu o teu corpo essa viagem
que nem sei bem porque faz de mim um rio.
o teu corpo acendeu luz entre lençóis
e no véu negro e denso de penumbra
rasgou-se em grito a fímbria de mil sóis
esplendoroso o voo que trouxeste
e a tua ardência – ah um galope ardendo ao vento
de sabor tão doce quanto agreste
e um gemido muito além do sofrimento
um quarto tão vazio de inconstâncias
e depois tu a enchê-lo só de olhares
dois copos meio cheios e as fragrâncias
dos vinhos dos desejos dos lugares
percorri-te em cada alento na voragem
e senti o estremecer para aquém do frio
e és sempre tu o teu corpo essa viagem
que nem sei bem porque faz de mim um rio.
Faltas-me tu
Tenho tanto, que diria ter tudo
Tenho amigos, tenho amores
Tenho a bênção da vida
E até o sangue que escorre da ferida.
Tenho o abraço da gente que me envolve
Com um beijo e um sorriso
Dão-me um ombro, dão-me a mão
Palavras quentes, sem sermão.
Mas tudo que eu quero
E tudo que eu preciso
È a louca da sorte
Que está á minha frente
E se cola na minha pele, bem rente.
Sinto o fundo do mar vazio
Precisando da chuva
E das correntes do rio
Regando esta semente
Levando-a Mar adentro
Correndo lenta num fio.
Vivo num mundo
Que simplesmente flutua
Onde as rochas são pedra
E a areia é poeira
As flores, são meros espinhos
Que adornam a rua onde caminho.
Sem aromas coloridos
Sem os teus beijos sentidos
Sem tuas carícias em meu corpo
Sem tua respiração em meu rosto
Sem teu rosto nas minhas mãos
Trilho as pedras da minha vereda
Consumida por esta labareda
Que me faz sentir totalmente só!
Maria Escritos - 2010
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com
Presente
Como imaginarias o presente
se te falasse ontem do futuro?!
Sei que a tua imaginação
te elevaria muito longe
e te levaria ainda mais longe;
gosto da tua imaginação:
fértil.
Um enredo permanente,
nessa tua cabeça (essa sim, a que pensa);
na outra, pela outra e com a outra:
trato eu.
Foto e poesia de Paula Raposo
11 fevereiro 2010
A Aliança
– Tira a aliança – resmungou ela, vendo-lhe a mão esquerda aberta sobre o colchão e o anelar marcado a ouro.
– O quê? – perguntou ele.
– Tira a aliança – repetiu ela.
– Porquê? – questionou ele.
Ela encolheu os ombros, fez uma careta e acenou com a cabeça.
– Tira! – ordenou.
Ele inspirou de lábios cerrados, olhou para a mão esquerda, para os dedos, para o anelar, para a aliança e hesitou.
– Está a fazer-te diferença? – acabou por perguntar.
– Não podes tirar?
– Agora?
– Sim, bolas – replicou ela, ligeiramente irritada. – Tiras ou não?
– Isso é uma ameaça?
– Era uma pergunta.
– Já não é?
– Continua a ser – respondeu ela, sentindo que ele preparava para se erguer e, provavelmente, sair de dentro de si.
Ele ergueu o tronco, recolhendo as mãos, que ela deixou de ver, dobrou as pernas, separando os sexos, e colocou-se de joelhos entre as pernas da mulher, pousando as mãos nas coxas dela. Ela subiu lentamente os quadris, até os corpos se voltarem a encostar, esticou o braço direito entre as pernas, pegou-lhe no sexo e penetrou-se.
– Tiraste? – perguntou ela, após uns momentos em que, em silêncio, se moviam um contra o outro suavemente, sem que ela lhe sentisse as mãos no corpo.
Ele não respondeu mas a pergunta pareceu espevitá-lo e agarrou-lhe as nádegas com força, separando-as enquanto aumentava a velocidade e intensidade dos movimentos basculantes das suas ancas de encontro às nádegas dela, sendo retribuído com igual aumento de intensidade da parte da mulher. Começaram a gemer e a respirar mais ruidosamente, dando uma banda sonora acelerada e ruidosa ao acto. Ele viu-lhe a mão esquerda agarrar-se com força à borda do colchão, enquanto, de quando em quando, lhe sentia as unhas da mão direita atingirem e espetarem-se ligeiramente o sexo na agitação frenética com ela se esfregava com os dedos esticados, e viu-lhe o rosto a querer enterrar-se na almofada. Não evitou um esgar de satisfação que não se transformou num sorriso por falta de tempo e concentração e continuou, mais rápido, mais forte.
– Foda-se! – gritou rouco, enquanto lhe dava palmadas nas nádegas, de baixo para cima, como ela gostava. – Foda-se – murmurava. – Foda-se!
– Sim! Sim! Fode-me! – gritava ela contra a almofada, espetando-lhe cada vez mais vezes e mais rapidamente as unhas no sexo. – Fode-me com força! Sim! Fode-me! Fode-me!
Sem parar, ele cruzou os braços: a mão esquerda segurou-lhe a nádega direita e a mão direita a nádega esquerda e aumentou ainda mais o ritmo, lançando-se de encontro a ela (e ela de encontro a ele) com cada vez maior impetuosidade.
A cabeceira em ferro da cama começou a embater com estrondo na parede e, entre suspiros, gritos, gemidos, palavrões, palavras divinas, rangidos da cama e de ferro contra a parede, ouviu-se o fraco tinir da aliança a cair no chão de madeira e ela veio-se e ele também.
– O quê? – perguntou ele.
– Tira a aliança – repetiu ela.
– Porquê? – questionou ele.
Ela encolheu os ombros, fez uma careta e acenou com a cabeça.
– Tira! – ordenou.
Ele inspirou de lábios cerrados, olhou para a mão esquerda, para os dedos, para o anelar, para a aliança e hesitou.
– Está a fazer-te diferença? – acabou por perguntar.
– Não podes tirar?
– Agora?
– Sim, bolas – replicou ela, ligeiramente irritada. – Tiras ou não?
– Isso é uma ameaça?
– Era uma pergunta.
– Já não é?
– Continua a ser – respondeu ela, sentindo que ele preparava para se erguer e, provavelmente, sair de dentro de si.
Ele ergueu o tronco, recolhendo as mãos, que ela deixou de ver, dobrou as pernas, separando os sexos, e colocou-se de joelhos entre as pernas da mulher, pousando as mãos nas coxas dela. Ela subiu lentamente os quadris, até os corpos se voltarem a encostar, esticou o braço direito entre as pernas, pegou-lhe no sexo e penetrou-se.
– Tiraste? – perguntou ela, após uns momentos em que, em silêncio, se moviam um contra o outro suavemente, sem que ela lhe sentisse as mãos no corpo.
Ele não respondeu mas a pergunta pareceu espevitá-lo e agarrou-lhe as nádegas com força, separando-as enquanto aumentava a velocidade e intensidade dos movimentos basculantes das suas ancas de encontro às nádegas dela, sendo retribuído com igual aumento de intensidade da parte da mulher. Começaram a gemer e a respirar mais ruidosamente, dando uma banda sonora acelerada e ruidosa ao acto. Ele viu-lhe a mão esquerda agarrar-se com força à borda do colchão, enquanto, de quando em quando, lhe sentia as unhas da mão direita atingirem e espetarem-se ligeiramente o sexo na agitação frenética com ela se esfregava com os dedos esticados, e viu-lhe o rosto a querer enterrar-se na almofada. Não evitou um esgar de satisfação que não se transformou num sorriso por falta de tempo e concentração e continuou, mais rápido, mais forte.
– Foda-se! – gritou rouco, enquanto lhe dava palmadas nas nádegas, de baixo para cima, como ela gostava. – Foda-se – murmurava. – Foda-se!
– Sim! Sim! Fode-me! – gritava ela contra a almofada, espetando-lhe cada vez mais vezes e mais rapidamente as unhas no sexo. – Fode-me com força! Sim! Fode-me! Fode-me!
Sem parar, ele cruzou os braços: a mão esquerda segurou-lhe a nádega direita e a mão direita a nádega esquerda e aumentou ainda mais o ritmo, lançando-se de encontro a ela (e ela de encontro a ele) com cada vez maior impetuosidade.
A cabeceira em ferro da cama começou a embater com estrondo na parede e, entre suspiros, gritos, gemidos, palavrões, palavras divinas, rangidos da cama e de ferro contra a parede, ouviu-se o fraco tinir da aliança a cair no chão de madeira e ela veio-se e ele também.
Fantasmas
Meu amor,
nós não fazemos amor
porque fazem amor
os nossos fantasmas,
com as nossas batalhas,
com as nossas muralhas,
com a nossa dor;
eles fazem amor,
chamam-nos almas penadas,
separam-nos as almas,
e afiam-nos as navalhas.
Meu amor,
nós não fazemos amor
porque esses fantasmas
nos enganam,
nos reclamam
para as suas moradas;
nós não fazemos amor
porque eles não deixam,
porque eles nos matam,
porque quando fazemos amor
matamos esses fantasmas.
nós não fazemos amor
porque fazem amor
os nossos fantasmas,
com as nossas batalhas,
com as nossas muralhas,
com a nossa dor;
eles fazem amor,
chamam-nos almas penadas,
separam-nos as almas,
e afiam-nos as navalhas.
Meu amor,
nós não fazemos amor
porque esses fantasmas
nos enganam,
nos reclamam
para as suas moradas;
nós não fazemos amor
porque eles não deixam,
porque eles nos matam,
porque quando fazemos amor
matamos esses fantasmas.
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