30 março 2010
Insatisfação
Foi paixão,
encanto, voz doce,
palavras de despertar:
encontro e magia.
Foi tentar despertar-te,
loucura e impotência,
querer-te e não ser capaz:
desejar-te.
Foi tudo, foi nada,
foi pouco e não muito,
um parágrafo,
um destilar de emoções:
voltar ao zero.
Foi e é: insatisfação.
Foto e poesia de Paula Raposo
Grupo Senior quer mostrar peça sobre Sexualidade na Terceira Idade noutros palcos. Convidam-nos?
Estreou no primeiro dia de Primavera. Seniores quebraram o tabu em «Respeitinho que sou tua Mãe...», "encenação de Luísa Monteiro - Grupo de Teatro Renascente".
Esteve um dia óptimo, o sol deu as boas vindas anunciando uma tarde diferente. Chegada aos bastidores, foi fantástico ver a animação, sem nervos à vista. As nossas séniores vestiram robes, toucas de "ir para a cama" e prometeram agitar a sala.
Chegada a hora, a sala ficou quase cheia! Obrigada a todos pela divulgação! As pessoas aceitaram o convite e vieram ver este grupo que tanto se empenhou nesta peça. O principal objectivo foi quebrar o tabu da sexualidade no envelhecimento. Com muita determinação, subiram ao palco, falaram de virgindade, de homossexualidade, de problemas sexuais, de solidão e de tantos outros temas, que se adivinharam, nas entrelinhas.
A meio da peça entrei eu. Levei um lubrificante, um óleo que aquece, umas algemas com peninhas, plumas e uns brinquedinhos vibrantes. Os brinquedos serviram de moldura para a conversa sobre prevenção das IST nos séniores, dos perigos da toma do Viagra sem orientação médica, da importância da lubrificação, entre outros...
A principal mensagem ficou lançada...Todos temos direito ao desejo e ao prazer... isto é apenas indicador que queremos ser felizes e que estamos vivos...
Excelente forma de começar a Primavera com este despertar de mentalidades...
Agora queremos correr o país, apenas estamos à espera de convites.
Precisamos apenas de uma sala e de público que nos queira conhecer.
Até breve, quem sabe se numa cidade perto de vós!
Convidem-nos... que nós vamos...
Divulgam o nosso projecto?
www.belizsexologia.blogspot.com
29 março 2010
A prostituta azul (II)
Todos os dias escreve linhas. Escreve linhas para cozer peitos abertos. O homem viu os fios das palavras desfiadas a formar linhas que desejou que lhe fossem dedicadas. Olhou para o peito, já pouca coragem tinha de se encarar pelo coração. Deitou-lhe os dedos ao braço para fingir que tinha caninos nas falanges; olhava-lhe os seios, de olhos ofegantes, fingia que só os desejava e entraram na pensão. Mas quando se deitou na cama, só despiu a camisa.
Sempre que a amava
Sempre que a olhava percebia o privilégio. Sempre que a deixava cometia um sacrilégio e cumpria penitência, perturbado pela sua ausência, abrindo o peito aos requintes da maldade de um algoz chamado saudade que o consumia na câmara lenta, uma sensação que atormenta, um relógio imaginário com os ponteiros em sentido contrário, em rota de colisão com o caminho do coração acelerado pelo tempo quase parado, paradoxal, numa ansiedade fora do normal que o agitava por dentro e lhe baralhava as reacções.
Sempre que a pensava incutia mais tentações na vontade que já sentia de a tocar de verdade e de a arrepiar como se sabia capaz. Sempre que a deixava para trás, no seu ponto de partida, sentia a despedida como um castigo, a saudade sem abrigo exposta no olhar que a revelava, a imagem de um calendário com os dias em sentido contrário, no beijo demorado que anseia o tempo parado, contra-senso, e dessa forma acaba por anunciar, intenso, a chegada de um outro tempo que tanto custa a passar.
Sempre que a pensava incutia mais tentações na vontade que já sentia de a tocar de verdade e de a arrepiar como se sabia capaz. Sempre que a deixava para trás, no seu ponto de partida, sentia a despedida como um castigo, a saudade sem abrigo exposta no olhar que a revelava, a imagem de um calendário com os dias em sentido contrário, no beijo demorado que anseia o tempo parado, contra-senso, e dessa forma acaba por anunciar, intenso, a chegada de um outro tempo que tanto custa a passar.
Pétalas do meu desejo
Toma os meus seios perfeitos
Que cabem inteiros nas tuas mãos
Passa tuas mãos no meu corpo cansado
Sente os meus seios gelados
Que são mais teus do que meus
Beija meu peito inquieto
Tal como a asa procura a flor
Empresta-me o doce trago da tua boca
Da tua língua humedecida
Onde se esconde o teu mel
Chamo-te com as mãos
E abro-te meu peito
Desce de onde estiveres, meu amor
Sorve de meus beijos, regatos tranquilos
Onde se abrem nenúfares brancos e perfumados
Fecha tuas asas de luz
Nas pétalas do meu desejo
Amado da minha Alma
Desejada visão que me acompanha
Como um sonho de amor
Tu, minha espiga de oiro
Que o sol beija pela manhã
Sente meus seios macios e rijos
Prova a doçura da minha boca
Fecha esta porta tão aberta como meu peito
No meu leito não há muros
Nem meus braços se cruzarão
Quando tocares meu corpo
Pois que tu és meu senhor
E eu a escrava que te espera
Guarda meus seios
Nas palmas das tuas mãos
Meu desejo é que me desejes
Agarrada à tua carne
Selo meu para que não me percas
Maria Escritos
© Todos os direitos reservados
http://escritosepoesia.blogspot.com
28 março 2010
A prostituta azul
O homem tinha sido azul, nos tempos em que tinha sol que o aquecia. Agora, o azul empalideceu de cinzento. Agarrava todos os bocadinhos dessa cor que ainda lhe sobravam; nos cinzentos doía sempre uma dor vestida de prata aguçada, vestida da vida que sonhou um dia e que agora tinha e não sentia. Disse-lhe que lhe queria o corpo. Deu-lhe muitos daqueles papéis coloridos de feio que tinha na carteira. Deitou-a na cama e procurou os pedacinhos de azul que moravam no calor do sol dela.
Rimas
Daqui em diante
a tua palavra será muda
e surdos seremos,
porque nos teremos
em breve voz aguda.
Não voltes, não fales
(dirás coisas sem nexo)
cala-te, desaparece
deixa, esquece
e atira-te ao sexo.
Um dia não são dias
(já os avós diziam),
levemos de bem a vida
na linha enriquecida
dos romances que nos liam.
Nestas rimas tão simples
aflorou o sexo (por acaso),
era bom que assim fosse
um luar e um doce:
e adeus… acabou o prazo!
Foto e poesia de Paula Raposo
Vila Mimoza
Documentário de 2001 de Felipe Nepomuceno (6 minutos) sobre a Vila Mimoza, tradicional área de prostituição no Rio de Janeiro.
Outrora a Zona, o Mangue, o Baixo Meretrício. Cantada por poetas e sambistas de antanho, a mais tradicional área de prostituição do Rio de Janeiro agora ganha um documentário.
» Orquídeas do despudor - Património Erótico do Brasil
Link directo para o filme aqui.
Outrora a Zona, o Mangue, o Baixo Meretrício. Cantada por poetas e sambistas de antanho, a mais tradicional área de prostituição do Rio de Janeiro agora ganha um documentário.
» Orquídeas do despudor - Património Erótico do Brasil
Link directo para o filme aqui.
Porno para toda a família, mas desta vez mais perfeitinho
27 março 2010
Amor de puta: depois de mil "alguéns" ama alguém (II)
Claro que uma mulher que se prostitui também se apaixona. Que pergunta! Aliás, sempre se soube que o amor tem essa característica, a ironia e, se por todo o lado vai dando um ar de sua graça, nos lados a que não é chamado, quando se torna completamente inconveniente, quando tem nódoas de impossibilidade, dá um furacão de sua graça. Depois? Olhamos para ele, perfeita criatura, e perguntamos-lhe se, por acaso, não dará para guardar para tarde? Ri-se e, duas gargalhadas depois, instala-se na primeira fila e contempla entusiasmado. Claro que não se comove, segue de olhar atento, faminto de angústia apaixonada, o amante que agora se entrega ao descontrole cardíaco com que se confessa perdido e que, de vontade racional ajoelhada, (se) tenta convencer que sim, que é possível, que pode e conseguirá aceitar a partilha física da mulher amada, que é só a parte física, que os afectos são dele e que, vendo assim, se se concentrar muito nisso, até pode concluir que é o único que toca, verdadeiramente, a mulher querida. Vai tentar abstrair-se, não atribuir peso ou importância, ela é ela e ele ama e isso é o que realmente importa. Depois... talvez seja na primeira chamada não atendida. Que estará ela a fazer? E a imagem assalta, furiosa, nítida, com cheiro e som. Ciume. Dor. As perguntas rodopiam na cabeça. Quer saber. Não quer saber. Quer. Não quer. Ela chega ao fim da tarde. Um "como-foi-o-teu-dia-querida-?" é agora um drama. Sai disso, sai disso, sai disso. Não posso. Não posso. Não posso. Não quero. Não quero. Não quero. Não importa, nada me interessa, só tu. Não importa, nenhum me interessa, só tu. O amor cresce bem alimentado de afecto inchado de intensidade dramática, a carga emocional bem densa, tão típica dos amantes que se têm que agarrar com muita força. Ah, belo amor, diz-me, quanta pancada aguentas? Quantos corpos, quantos quartos alheios sugeridos à tua imaginação? Quantos corpos reais, surgidos por acidente, perante ti como amigos e familiares, já conhecem a mulher amada? E as dúvidas... Algum dia? Demora muito? Chegaremos lá? Voltará atrás? No meio de tantos, poderá conhecer um melhor? E o medo, o medo que nos descubram, que chegue a ouvidos alheios? Por isso, se ficares aí bem quietinho, senhor amor, não sou eu quem te vai buscar, não devo, não posso, não tenho promessas para fazer nem direcções para mostrar; nada, mesmo nada na mão que poderia estender. Posso, mas não devo, era tremendamente injusto. Se vieres sozinho, poupa-me a consciência o saber que tais coisas de tão grande vontade alheia a nós, não se permitem - mesmo que eu peça - guardarem-se para mais tarde, dominam o aqui e agora.
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