Alexandre Affonso - nadaver.com
26 abril 2010
25 abril 2010
aqui é de Abril
Aqui nos fica Abril
aqui nos fica Abril
aqui se inquieta
aqui na margem sul
de outro viver
que é mais azul
diz um poeta
só por nos ser
nos ser
maior
fazer melhor e ter de ser
por ser do riso
e ser a meta
e ser a meta
de outro viver
aqui
no singular plural
dos meus sentidos
que é mais Abril
por sermos nós
por nós
unidos
- poema e fotocomposição de Jorge Castro
_______________________________________________
E nos comentários houve mais quem odesse ao 25 de Abril:
"fica de Abril o sonho da mudança.
fica de Abril o ar de liberdade.
fica em Abril pedaços de vida... e acreditar ainda é possível!
um beijo meu
uminuto"
"Fiz de Abril a minha manta
Onde os corpos se libertaram
Em pinhais e matos de esperança
E manhãs verdes que se encarnaram.
Fiz do mundo a minha palma
e das palmas nos peitos; o mundo
Dos olhares, lábios de fome
saciados em corpos de lume.
Fiz do tempo o passar lento
Travo na boca a cada segundo.
Ser-se livre não é um momento
é ter asas sempre em tudo
E crescemos em ilusão
de era para sempre ser
sermos donos do nosso pão
e senhores do nosso querer
Ai e onde é que está o sol
que Abril a todos deu?
Agora onde ele seria maior
só o grande é que o pode ver.
Ah, mas cresce mais a vontade
de voar alto e quente sempre
Não deixemos a liberdade
Fugir de Abril pr'a um frio Dezembro
Charlie"
O Santoninho traz-nos Ary:
"***** R E G E N E R A Ç Ã O *****
Já não vagueia em mim a escuridão
E transformou-se a dúvida em certeza.
Bastou um gesto só de minha mão,
Para secar as fontes de tristeza.
No filtro redentor da oração,
Deixei ficar o manto da incerteza;
E agora, tendo a Deus no coração
Sou maior que a própria natureza.
Estrada de luz, sem guia nem farol,
Apenas o clarão do rubro Sol
E as minhas asas que ninguém mais vê.
E no esplendor da minha mocidade,
Eu vou além da própria eternidade,
Sem limite, sem espaço, sem porquê.
José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética, Ed. Caminho"
Vem(e)vai
Sentada à beira mar
Com as pernas flectidas
Num gesto frequente,
Os cotovelos sobre os joelhos
E as mãos na cara.
Ela olha aquela imensidão
Sentindo nos pés
Uma frescura de mar
Que vem e vai suave,
Salpicando-a um pouco.
Exercício diário
Naquela praia
Olhando a imensidão
Não pensando em nada,
A boca salgada de plenitude
E as mãos plenas de sal,
Num vai e vem suave.
Foto e poesia de Paula Raposo
Com as pernas flectidas
Num gesto frequente,
Os cotovelos sobre os joelhos
E as mãos na cara.
Ela olha aquela imensidão
Sentindo nos pés
Uma frescura de mar
Que vem e vai suave,
Salpicando-a um pouco.
Exercício diário
Naquela praia
Olhando a imensidão
Não pensando em nada,
A boca salgada de plenitude
E as mãos plenas de sal,
Num vai e vem suave.
Foto e poesia de Paula Raposo
InVocações (V)
Acordei ontem quando já não era de manhã nos dias dos outros. Ao espelho tentei aumentar os olhos; os meus apareceram pequenos. A roupa está fria. Todos os dias cresce o corredor das horas penduradas na parede. Hoje falei com um homem nu. Acho que é um homem nu porque nasceu folha e cresceu árvore. Há poucos homens nus, muito poucos. Sentem mais o frio e sucumbem à tentação da roupa. Perdoa-me homem nu, eu disse tantas coisas e a verdade é que não sei nada. Mas sei que pode fazer muito frio, sei que o frio pode magoar e sei que as palavras mágicas são abrigos. As minhas ainda não são mágicas; ainda não chegam muito fundo no vosso corredor das horas penduradas na parede. E eu tenho muitos medos. Já te disse que tenho medo do escuro e dos barulhos estranhos? Já te disse que o mágico ainda não veio? Sabes, quando mudei de nome, estava sentada numa sala pequena, a luz era amarela e a janela estava fechada. À entrada tinha conhecido a recepcionista numa enorme secretária e esperei ver na saleta a cadeira de um dentista. Não! Um "almista". Extraía almas e inventava próteses. Vi mulheres que achei iguais a mim, surpreendentemente normais. Também entraram e saíram alguns homens; passaram por mim mas, estranhamente, não os vi, não tinham rosto nem corpo. Nessa noite, sentada no balcão de um café, olhei para muitos homens. Como seriam? Tentava percebê-los porque, doravante, todos me poderiam ter. Era melhor vê-los bem, antes. Era melhor ver um alguém do que um estranho a tocar-me. Era um mês, no máximo dois. Conseguiria se os visse bem. Consegui. Mas não consegui mais nada, ainda aqui estou. Nunca mais voltei ao teu mundo. Agora conheço três: o teu, o das casas de janelas fechadas que é a fronteira e o meu. O meu parece absurdo porque tem coelhos sem orelhas e jangadas que levam castelos na corrente; mas os outros também são tão mais estranhos - repara - andam sempre cheios de pressa mas, quando correm, raramente é para onde desejem ir. Entendes que acordem e se levantem ainda exaustos? Só falo disso, agora; mas há muito pouco que faça sentido; o absurdo do meu mundo faz todo o sentido: os coelhos tiram as orelhas porque o silêncio tem uma música única - as orelhas têm sempre vontade própria, ouvem o que querem, quando querem - e todos sabemos que os castelos, muitas vezes, têm que se soltar na corrente. Não tenho magia para te abrigar mas, se quiseres, mostro-te as minhas horas penduradas na parede. Pode ser que, um dia, entendas o outro sentido das coisas. Se vires o meu mágico, no teu mundo, dizes-lhe que não me ouve? Acho que ele pensa que ouve. Sabes, foi ele que fez as minhas palavras nascerem. Foi ele que as educou quando lhe caíram nas mãos que devolvia ao meu colo nu. Não, não era um toque, era um regresso. De vez em quando, perde-se mas, de vez em quando, sabe regressar.
«O Fauno e a Flora»
Já tenho vários desenhos originais do Laurent na minha colecção.
Este é mais um mimo:
«O Fauno e a Flora»
tinta da china sobre papel
Detalhe
E, por ser 25 de Abril, o OrCa dá-nos outro mimo:
"a Flora aflora o fulano
o Fauno desflora a Flora
e nesse vai-vem sem hora
cresce um Abril mais ufano"
Este é mais um mimo:
«O Fauno e a Flora»
tinta da china sobre papel
Detalhe
E, por ser 25 de Abril, o OrCa dá-nos outro mimo:
"a Flora aflora o fulano
o Fauno desflora a Flora
e nesse vai-vem sem hora
cresce um Abril mais ufano"
24 abril 2010
Se conseguires ver para lá da pornografia...
... há um mundo de design de interiores excelente para apreciarmos uma dada época.
É o que nos demonstra o d!o com uma página de 90 imagens retiradas de revistas porno dinamarquesas dos anos 70.
Aqui vos deixo alguns exemplos:
É o que nos demonstra o d!o com uma página de 90 imagens retiradas de revistas porno dinamarquesas dos anos 70.
Aqui vos deixo alguns exemplos:
Ema: conto de entender
Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é porque há sempre tanto para entender. As palavras a vaguear? Porque são vagas, essas tuas vagabundas que moram nas ruas de mulher em mulher. E tu moras nelas, nas tuas palavras. E as tuas palavras moram aqui. A pele de aluno só cresce quando reconhece o tecido secreto da palavra de um Mestre. A minha pele é um vestido tecido de tudo o que dizes. O vestido que teces em ruas de perder o tempo. Sim, amor. Eu entendo tudo, amor. Claro que entendo. O que eu não entendo, meu amor, é como é que julgas ter a armadura do tempo a prender-te as mãos e a soltar-te o corpo. Era uma pergunta? Era? Sim, amor.
23 abril 2010
no dia mundial do livro...
de autor desconhecido, mas muito a propósito:
Tudo depende da posição...
Fazê-lo parado fortalece a coluna,
de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,
de barriga para cima é mais agradável,
fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,
em grupo pode ser divertido,
no w.c. é muito digestivo,
no automóvel pode ser perigoso…
Fazê-lo com frequência desenvolve a imaginação,
a dois, enriquece o conhecimento,
de joelhos, torna-se doloroso…
Enfim, sobre a mesa ou sobre a secretária,
antes de comer ou à sobremesa,
sobre a cama ou numa rede,
despidos ou vestidos,
na relva ou sobre o tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no roupeiro:
Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica... o que importa é que...
.
.
.
.
.
.
Ler é um prazer!
Tudo depende da posição...
Fazê-lo parado fortalece a coluna,
de barriga para baixo estimula a circulação do sangue,
de barriga para cima é mais agradável,
fazê-lo sozinho é enriquecedor, mas egoísta,
em grupo pode ser divertido,
no w.c. é muito digestivo,
no automóvel pode ser perigoso…
Fazê-lo com frequência desenvolve a imaginação,
a dois, enriquece o conhecimento,
de joelhos, torna-se doloroso…
Enfim, sobre a mesa ou sobre a secretária,
antes de comer ou à sobremesa,
sobre a cama ou numa rede,
despidos ou vestidos,
na relva ou sobre o tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no roupeiro:
Fazê-lo é sempre um acto de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem o credo, nem o sexo, nem a
posição económica... o que importa é que...
.
.
.
.
.
.
Ler é um prazer!
Sex Crime (1984)
O rapaz atirou-se para o chão logo da primeira vez que os nós de uns dedos se encontraram com a madeira da porta do quarto.
– Sim? – conseguiu a rapariga dizer, concentrando-se para que o som saísse.
O pai abriu a porta, viu a cama desmanchada como num cenário de filme e a filha pudicamente tapada com o lençol quase até ao pescoço, olhando-o desorbitada e afogueada mas com um livro na única mão visível.
– Ah… – O pai sonorizou assim a sua surpresa e embaraço e, sem largar a porta, nem entrar no quarto, comunicou em tom pastoso mas sem baixar as sobrancelhas que se colaram à franja: – É só para avisar que eu e a mãe vamos sair agora. Se precisares de alguma coisa, liga-nos, a mãe deixou o número ao pé do telefone.
– Está bem – respondeu a filha, tentando que se definisse um sorriso normal no seu rosto. – Se for preciso eu ligo – confirmou, no meio de esgares e caretas indefinidas.
– Não vais sair? – perguntou o pai, começando a fechar a porta do quarto.
– Não, hoje não – disse prontamente a filha, com ar angelical.
– Até amanhã, então – despediu-se o pai e fechou a porta.
O namorado ergueu a cabeça com lenta cautela e ela sorriu-lhe luminosamente:
– Eu bem te disse que devíamos ter esperado que eles saíssem.
– Achas que ele desconfiou? – perguntou o rapaz, num sussurro, ainda deitado ao lado da cama.
– Achas?! – respondeu ela, já segura de si e troçando do ar apavorado dele. – Achas que eles se iam assim embora se desconfiassem que estavas aqui?
Ele concordou com a cabeça mas não se mexeu. Viu-lhe o livro na mão e olhou para a porta fechada.
– Só saio daqui quando ouvir a porta e o portão da rua – declarou e, voltando a fixar o livro, perguntou: – Que livro é esse que estás a fingir que lês?
– 1984 de George Orwell – disse a rapariga, levantando o livro. – E não estou a fingir, estou mesmo a ler!
O rapaz abriu um sorriso em resposta ao tom sério e quase sentido da última frase e gracejou:
– Mas hoje não... – O rapaz calou-se ao ouvir a porta da rua bater.
Olharam-se e, entre sorrisos silenciosos, esperaram e ouviram o portão e o automóvel a arrancar.
– Não, esta noite não – concluiu ela, largando o livro. – Esta noite não é noite de leituras!
– Sim? – conseguiu a rapariga dizer, concentrando-se para que o som saísse.
O pai abriu a porta, viu a cama desmanchada como num cenário de filme e a filha pudicamente tapada com o lençol quase até ao pescoço, olhando-o desorbitada e afogueada mas com um livro na única mão visível.
– Ah… – O pai sonorizou assim a sua surpresa e embaraço e, sem largar a porta, nem entrar no quarto, comunicou em tom pastoso mas sem baixar as sobrancelhas que se colaram à franja: – É só para avisar que eu e a mãe vamos sair agora. Se precisares de alguma coisa, liga-nos, a mãe deixou o número ao pé do telefone.
– Está bem – respondeu a filha, tentando que se definisse um sorriso normal no seu rosto. – Se for preciso eu ligo – confirmou, no meio de esgares e caretas indefinidas.
– Não vais sair? – perguntou o pai, começando a fechar a porta do quarto.
– Não, hoje não – disse prontamente a filha, com ar angelical.
– Até amanhã, então – despediu-se o pai e fechou a porta.
O namorado ergueu a cabeça com lenta cautela e ela sorriu-lhe luminosamente:
– Eu bem te disse que devíamos ter esperado que eles saíssem.
– Achas que ele desconfiou? – perguntou o rapaz, num sussurro, ainda deitado ao lado da cama.
– Achas?! – respondeu ela, já segura de si e troçando do ar apavorado dele. – Achas que eles se iam assim embora se desconfiassem que estavas aqui?
Ele concordou com a cabeça mas não se mexeu. Viu-lhe o livro na mão e olhou para a porta fechada.
– Só saio daqui quando ouvir a porta e o portão da rua – declarou e, voltando a fixar o livro, perguntou: – Que livro é esse que estás a fingir que lês?
– 1984 de George Orwell – disse a rapariga, levantando o livro. – E não estou a fingir, estou mesmo a ler!
O rapaz abriu um sorriso em resposta ao tom sério e quase sentido da última frase e gracejou:
– Mas hoje não... – O rapaz calou-se ao ouvir a porta da rua bater.
Olharam-se e, entre sorrisos silenciosos, esperaram e ouviram o portão e o automóvel a arrancar.
– Não, esta noite não – concluiu ela, largando o livro. – Esta noite não é noite de leituras!
E este ditirambo?!
É grosso, longo e furado,
Pinga mas não se derrete,
Enxuto e duro se mette,
Tira-se molle e molhado;
É à cobra assimilhado,
Mas tem seu que com a espiga;
Penetra até à barriga,
Sacia a vontade à gente;
Porém, ser cousa indecente.
Não se creia nem se diga.
Pinga mas não se derrete,
Enxuto e duro se mette,
Tira-se molle e molhado;
É à cobra assimilhado,
Mas tem seu que com a espiga;
Penetra até à barriga,
Sacia a vontade à gente;
Porém, ser cousa indecente.
Não se creia nem se diga.
E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente ??????
Tudo isto quer dizer mui simplesmente ??????
Publicado originalmente por Belchior Manuel Curvo de Semedo em Composições Poéticas e citado por BARATA, António Francisco (1894) Viagem na minha livraria - Barcelos: Typ. Aurora do Cavado, pág. 40.
_______________________________
O Mano 69, depois de todos vermos só caralhos nisto, dizia "frio, frio....". Quando perguntei se era um caralho frio, esclareceu do que se trata:
"E não se creia, não, senhores.
Tudo isto quer dizer mui simplesmente macarrão!"
Subscrever:
Mensagens (Atom)