As minhas palavras são poema. Os meus braços são poema. Os meus passos são poema. E ainda sonho o teu poema, o poema de ti; o teu corpo é o meu poema, só pode ser poema. E sei do meu poema - tu - atirado ao chão como carne em chaga, inflamado pela vermelhidão roxa e feia das hormonas, esfregado contra um corpo fêmea inchado de cio, animais engalfinhados sem o ritmo da música, espasmos de criaturas acres, entumescidas num prazer feio de unhas em pele irritada. A beleza violada, desmanchada, envenenada. Um rouxinol que, de repente, pousa na árvore e ronca. Por isso, eu que te fiz poema, pergunto-te: o que fazes do poema de ti? Como podes fazer-lhe coisas tão feias?
09 maio 2010
Conto de um poema
08 maio 2010
Engate chapa três
«Eu sou heterossexual!» - AnAndrade
"Título estúpido, este, não é?!
Pois.
Mas aposto que se, em vez deste, tivesse escolhido um "eu sou lésbica e tenho muito orgulho nisso" ou "não sei se prefiro gajos, se gajas", isto amanhã teria uma porrada de visitas (aí umas dez, vá, mas ainda assim seria o dobro das habituais).
Vem isto a propósito da quantidade de "saídas do armário" de que ultimamente se tem notícia: "fulano de tal assume a sua homossexualidade"; "sicrano afirma-se gay e pensa casar com o companheiro mal a lei seja promulgada pelo P.R." e coisas que tais.
Se isto me interessa? É que nem um bocadinho, caramba.
A sexualidade de cada um é mais ou menos como o tamanho da cueca, o cheiro da boca depois de meio dia sem lavar a dentana (após a ingestão de um bife com molho de alho) e o calo que se tem no mindinho: interessa ao próprio e, no caso do hálito, aos que o circundam, se ele decidir respirar pela boca.
Nota: o facto de o José Carlos Malato ter aparecido, numa alegada festa gay, em Madrid, em tronco nu, só me assusta por ele ter tido a coragem de mostrar tanta banhoca. Malato, filho, vai mas é tratar do corpinho, não vá outro sacana apropriar-se da tua imagem sem dares por isso e expor ao país a quantidade de gordura que tem de saltar fora, que até és um gajo bem apessoado e tudo, pá...
AnAndrade
Blog Câimbras Mentais"
Pois.
Mas aposto que se, em vez deste, tivesse escolhido um "eu sou lésbica e tenho muito orgulho nisso" ou "não sei se prefiro gajos, se gajas", isto amanhã teria uma porrada de visitas (aí umas dez, vá, mas ainda assim seria o dobro das habituais).
Vem isto a propósito da quantidade de "saídas do armário" de que ultimamente se tem notícia: "fulano de tal assume a sua homossexualidade"; "sicrano afirma-se gay e pensa casar com o companheiro mal a lei seja promulgada pelo P.R." e coisas que tais.
Se isto me interessa? É que nem um bocadinho, caramba.
A sexualidade de cada um é mais ou menos como o tamanho da cueca, o cheiro da boca depois de meio dia sem lavar a dentana (após a ingestão de um bife com molho de alho) e o calo que se tem no mindinho: interessa ao próprio e, no caso do hálito, aos que o circundam, se ele decidir respirar pela boca.
Nota: o facto de o José Carlos Malato ter aparecido, numa alegada festa gay, em Madrid, em tronco nu, só me assusta por ele ter tido a coragem de mostrar tanta banhoca. Malato, filho, vai mas é tratar do corpinho, não vá outro sacana apropriar-se da tua imagem sem dares por isso e expor ao país a quantidade de gordura que tem de saltar fora, que até és um gajo bem apessoado e tudo, pá...
AnAndrade
Blog Câimbras Mentais"
Posicionamento
O ato de posicionar é uma arte.
Acha que estou mentindo? Veja o caso desse jornaleiro:
Viu?
Capinaremos.com
Acha que estou mentindo? Veja o caso desse jornaleiro:
Viu?
Capinaremos.com
07 maio 2010
c&a e os orgasmos que começam pelos pés
c&a: "Os melhores orgasmos são aqueles que começam nos pés... não haja dúvida!"
São Rosas: "Faz um desenho..."
c&a: "Ora aqui vai.
Todos sabemos que há muitos tipos de orgasmos: mais intensos, menos intensos, mais localizados, menos localizados...
Os meus são variados, como convém: às vezes melhores, outras vezes nem por isso...
Mas... quando começam no lado de dentro dos pés e a sensação vai subindo por cada perna, lentamente, como dois relâmpagos que se vão encontrar no topo e explodir!... eu sei que vai ser fabuloso!
O pior é quando começo a sentir cócegas nos pés em locais impróprios... o que é bastante frequente... eheheh (percebeste o desenho?)"
São Rosas: "Que curioso...
Gostava de saber se há mais malta com esse tipo de orgasmos."
(a propósito disto)
São Rosas: "Faz um desenho..."
c&a: "Ora aqui vai.
Todos sabemos que há muitos tipos de orgasmos: mais intensos, menos intensos, mais localizados, menos localizados...
Os meus são variados, como convém: às vezes melhores, outras vezes nem por isso...
Mas... quando começam no lado de dentro dos pés e a sensação vai subindo por cada perna, lentamente, como dois relâmpagos que se vão encontrar no topo e explodir!... eu sei que vai ser fabuloso!
O pior é quando começo a sentir cócegas nos pés em locais impróprios... o que é bastante frequente... eheheh (percebeste o desenho?)"
São Rosas: "Que curioso...
Gostava de saber se há mais malta com esse tipo de orgasmos."
(a propósito disto)
Céu: conto da coreografia das mãos
Nas mãos tenho a dança das mãos nas tuas. Mas sem as tuas, sem as tuas; decorou a coreografia a memória dos dedos, essa que guarda em detalhes a textura e a textura do cheiro - quando os dedos dançam junto aos lábios, dança a dança do cheiro teu. Nas mãos tenho a dança das mãos tuas mas só nas minhas, sem as tuas, sem as tuas; dançam-te os dedos, dançam-te as memórias; no piso envernizado das unhas rosadas dançou o fim mas as mãos não o viram. Nas mãos tenho a dança das mãos nas tuas. Mas sem as tuas, sem as tuas...
Noite
Na penumbra deste quarto vazio, só eu escuto o silêncio duma casa sem ruído, sem vozes, sem presenças, sem afectos, sem abraços e sem rumo. Só eu escuto o vento lá fora, a chuva que cai e bate nas vidraças, o relâmpago que por breves instantes entra sem pedir licença.
Na escuridão da noite fria de Inverno, abafou-se o silêncio naquele toque da campainha da porta. Pensei quem seria que me pedia licença para entrar, naquela noite, trazendo os relâmpagos do meu passado.
Não respondi. Não podias ser tu. Tu não estavas aqui, tu nunca mais estarias aqui, não irias bater à minha porta naquela noite tão fria de Inverno. Nada mais me interessava, só tu. Por isso não abri, não falei, não deixei que entrasses.
Foto e texto de Paula Raposo
IBIZA FUCKING ISLAND
06 maio 2010
o fotógrafo estava lá...
Garanto, pela bolinha da santa, que nem há aqui trucagem, nem arranjo de ocasião. E tenho testemunhas. Ali estavam, ele e ela, lado a lado, na bancada do quiosque onde vou em romagem diária em busca da redenção das notícias frescas.
De um lado o Courrier, do outro a Playboy, a quem faço aqui publicidade gratuita por me terem proporcionado um começo de dia algo diferente e vagamente polémico...
eu cá que nem sou de intrigas
ao passar pelo meu quiosque
dei de caras (bem ambíguas)
com um papa e um rabiosque
foi decerto mão divina
chamariz p’ra quem os lê
ao juntar naquela esquina
ao juntar naquela esquina
Playboy e Courrier
o pontífice discreto
na capa a cara nos vela
mas espreita circunspecto
o quanto a bela revela
malfadada informação
que causa tal desatino
… mas mais vale aquele senão
do que algum de algum menino…
____________________________
O Santoninho sai do seu santo ninho para oder também:
"Nem foi mão divina, decerto
Nem foi discreto o pontífice.
Arma-se em chico esperto
Com a técnica do artífice
E o que a bela lhe revela,
O espírito lhe ouriça.
Pudesse ele meter-lhe nela
Não os olhos... mas a piça!"
Ao abrigo do direito de resposta, o OrCa reode:
"faz-me tanta confusão
- vou até beber da Freeze -
ter um papa de roldão
aqui no meio da crise...
fará falta a quem o santo?
ao parlamento, à justiça
ao celibato, ao quebranto?
a quem faz ele falta, chiça?!
em gravadores, Alcochetes,
sucatas e o que mais salta
engraxadores, tiranetes...
ao Primeiro é que ele faz falta...
pelas crianças não digo
mas nem perdem p'la demora
apesar de ter comigo
que aqui há gato... ora... ora..."
A Olinda odeu na página da funda São no Facebook:
"Mas que tentador rabiosque
estava no teu quiosque
inocente Papa
só passeava no bosque
tu maldizente pensavas...
papa-a, papa"
E o Santoninho reode:
"De Prada, o papa se calça
Na calça que imita saia.
E que numa veste... realça
Vontade de um fruto: papaia!
De acordo... que papaia
É melhor do que mamão.
Está debaixo da saia
Mesmo ao alcance da mão!
Ratz... rato... fuças esconsas,
Linguajar... ora pro nobis!
Tontas lérias, meio sonsas...
Escalda a mão no clitóris...
Abrenuntio! Que pecado...
Esconde a boca com a mão.
Dá marradas no bocado
Truca truca... com tesão!
Dominus vobiscum... num aceno
De manifesta irregularidade.
Fodeu-se! E num gesto obsceno,
Perdeu-se... sem ver a idade..."
O OrCa desta vez até ode três:
"miraculosa mirada
entrefolhos de entreacto
anda a igreja aguada
à conta do celibato
vade mecum de sotaina
vade retro, Satanás
uma labuta - uma faina
p'ra salvar tanto rapaz
venha o Demo que os leve
ou Satã que os transporte...
a cruz não temem mas deve
haver quem lhes dê e forte
olhai bem para o que eu digo
a apregoar ladaínhas
mas fazer, deixem comigo:
«vinde a mim, ó criancinhas...»"
A Palavra
“A palavra chegava-lhe aos lábios, enchia-lhe o olhar e desabava-lhe na expressão do rosto e do corpo mas nunca era dita. Nunca.
A palavra estava ali e era ele e ele era a palavra mas não a dizia.
Os seus olhos, o seu rosto e o seu corpo eram o reflexo da palavra. Um espelho era o que ele era naqueles momentos. Apenas um espelho que reflectia uma única palavra. Uma palavra muda, sem som, sem corpo, sem existência.
As palavras que não se dizem não existem.
E os espelhos não são o que reflectem.
Depois, depois da palavra não dita mas representada, vinham as explicações, as justificações, as tergiversações, as promessas e as juras. Tudo, tudo como se se abrissem as comportas de uma barragem, como se, por milagre, o mudo ganhasse voz. Ele seria outro e a palavra que não fora dita jamais seria necessária. Jamais!
Até que a palavra lhe chegava de novo aos lábios, lhe enchia mais uma vez o olhar e se repetia para lhe desabar a expressão do rosto e do corpo sem, como sempre, ser dita. Nunca foi.
E era tão fácil, doutor, tão fácil.” Concluiu a arguida, correndo o olhar pelo colectivo de juízes e, fixando-se no juiz-presidente, desabafou: “O que é que lhe custava, nem que fosse por uma vez, pedir desculpa?”
“Agora já não pode.” Deixou escapar o magistrado.
“Agora já não.” Concordou a arguida.
A palavra estava ali e era ele e ele era a palavra mas não a dizia.
Os seus olhos, o seu rosto e o seu corpo eram o reflexo da palavra. Um espelho era o que ele era naqueles momentos. Apenas um espelho que reflectia uma única palavra. Uma palavra muda, sem som, sem corpo, sem existência.
As palavras que não se dizem não existem.
E os espelhos não são o que reflectem.
Depois, depois da palavra não dita mas representada, vinham as explicações, as justificações, as tergiversações, as promessas e as juras. Tudo, tudo como se se abrissem as comportas de uma barragem, como se, por milagre, o mudo ganhasse voz. Ele seria outro e a palavra que não fora dita jamais seria necessária. Jamais!
Até que a palavra lhe chegava de novo aos lábios, lhe enchia mais uma vez o olhar e se repetia para lhe desabar a expressão do rosto e do corpo sem, como sempre, ser dita. Nunca foi.
E era tão fácil, doutor, tão fácil.” Concluiu a arguida, correndo o olhar pelo colectivo de juízes e, fixando-se no juiz-presidente, desabafou: “O que é que lhe custava, nem que fosse por uma vez, pedir desculpa?”
“Agora já não pode.” Deixou escapar o magistrado.
“Agora já não.” Concordou a arguida.
De silenciar
Deita o teu silêncio
sobre o corpo da voz minha
antes lágrima sozinha.
Deita-te num silêncio
inteiro corpo num olhar meu
sereno de olhar teu
que corta o fôlego
que corta o vão
que corta o nada
na lâmina do sossego
peito de gume na mão
e eu atravessada.
Deita o teu silêncio
sob o ventre da paz minha
e ela, nua, o teu adivinha.
sobre o corpo da voz minha
antes lágrima sozinha.
Deita-te num silêncio
inteiro corpo num olhar meu
sereno de olhar teu
que corta o fôlego
que corta o vão
que corta o nada
na lâmina do sossego
peito de gume na mão
e eu atravessada.
Deita o teu silêncio
sob o ventre da paz minha
e ela, nua, o teu adivinha.
Subscrever:
Mensagens (Atom)