19 maio 2010
vai fermosa e bem segura...
descalça saiu à praça
Bruna Real professora
vem fermosa e com tal graça
que traz tudo o mais de fora
a pauta nas mãos de prata
mas também um vira-lata
disfarçado de decote
ou de sedoso saiote
mais inocente não fora
vai fermosa e professora
descobre os pés e a garganta
e pelo meio dourado
o corpo todo mostrado
tão linda que o mundo espanta
chove nela a fúria santa
e tanta cabeça à nora
vai fermosa e professora
- que me perdoe o Luís Vaz, mas acabei agorinha mesmo de pedir autorização ao Camões…
O fenómeno de Mirandela
Sabendo quem me lê que sou Católico, poderia esperar de mim uma forte condenação, uma posição firme de apoio à rejeição desta senhora como professora que deveria dar o exemplo, um exemplo (não sei qual, mas um exemplo), e manter uma conduta regrada, adequada à sua condição de professora que influi na formação de crianças que amanhã serão adultas e farão com as suas vidas muito daquilo com que foram crescendo. Podia, podia assumir essa posição. Mas não a assumo.
O sexo (muito mais o sexo do que o erotismo) está em todo o lado. As crianças levam com o sexo desde muito cedo. Quem é que não viu, já, filmes na televisão, durante o fim-de-semana em horas familiares, com cenas de sexo, insinuação de sexo ou algum tipo de nudez? Quem não passou já na rua, com crianças pela mão, em frente a outdoors publicitários que procuram vender algum tipo de produto com mensagens mais ou menos descaradas de carácter sexual? Pergunto ainda: mesmo assumindo que a Playboy não é uma revista que se tenha em cima da mesa ao lado da TVGuia ou da Science, quantas das pessoas que se dizem chocadas com esta situação, não se incomodam de ter, nas suas casas, ao acesso das suas crianças, revistas daquelas de "dona-de-casa" (para que saibam quais são, que não me apetece referi-las pelo nome) que, nas secções de aconselhamento, referem coisas porventura mais complicadas de explicar a uma criança do que a nudez de uma pessoa?
Não consigo ter uma ideia formada sobre isto. Não está provado, para mim, que a nudez desta professora a torne pior profissional, incapaz de dar aulas e formar bem as crianças. Não está provado, para mim, que ser professora é incompatível com nudez. Mas também não está provado, para mim, que isto não suscite, em algumas crianças, uma curiosidade acrescida pelo sexo, numa altura em que talvez não lhes seja benéfico. Mas, se assim acontecer, talvez já aconteça por muitas outras coisas, sendo isto apenas a gota final que transborda.
Mais. Não será isto, para as gentes de Mirandela, uma boa oportunidade para contextualizar as coisas? Para fazer um esforço em quebrar as dificuldades do diálogo sobre sexo e fazer as criancinhas entender a nudez, entender a sexualidade, o erotismo, e como estas coisas podem estar (ou não) e devem estar (ou não) associadas a outros sentimentos de alguma nobilidade?
Espero que o benefício financeiro obtido com estas fotografias tenha sido, para a professora, minimamente compensador. Porque enquanto o tal alarme social não passa, vai precisar aguentar-se. Tenho mais dúvidas que certezas. Uma coisa não faço: não a condeno nem julgo. Nem como pessoa, nem como profissional.
Blenorragia ou Gonorréia
1. A blenorrhagia ou esquentamento apega-se com muita facilidade, é uma doença muito contagiosa. Um individuo atacado desta doença, em nome da moral social, não deve ter relações sexuaes.
2. O doente terá cuidado de lavar as mãos sempre que tocar no membro, deve evitar, chegá-las aos olhos; o pus blenorrhagico produz uma inflammação nos olhos tão forte que já muitas pessoas têm ficado cegas, por ignorancia ou descuido deste preceito de hygiene.
3. O doente deve abster-se de carne de porco, comidas salgadas e apimentadas ou fortemente condimentadas, bebidas alcoolicas (vinhos finos, cognac, cerveja, aguardente, etc.). Pode beber às refeições um pouco de vinho tinto traçado com muita agua.
4. O doente não deve andar a cavallo, não deve dançar, não deve andar em bicycleta nem de automovel.
5. É muito conveniente usar um suspensorio para os testiculos.
(..)
8. A blenorrhagia que merece pouco cuidado da gente moça, póde ser causa de muitos desgostos para o individuo e para a familia. (…) Um individuo que se case, tendo a gota militar (blenorrhagia ou esquentamento chronico) contagiará fatalmente a esposa. (…) Muitas doenças próprias das mulheres reconhecem como causa a gota militar dos maridos que estes desprezaram ou não quizeram tratar em solteiros. (…) Nos casos chronicos favoraveis, o marido fica sujeito a ser reinfectado a cada passo pela mulher, na occasião das relações sexuaes.
(…)
10. É de maxima urgencia que os individuos, atacados de blenorrhagia, procurem um medico, única pessoa competente para os tratar não com drogas maravilhosas e secretas, mas com remedios conhecidos pelos médicos de todos os paizes.
Prophylaxia sanitaria e moral: II Blenorrhagia
Porto: Typographia Santos, 1913 – 2.ª Edição, pp.1-7
Ouvir é andar o discurso dos passos
18 maio 2010
E por falar em (in)docente
Sim, porque é que a Playboy não tinha uma edição portuguesa no tempo das aulas com a minha professora de Inglês do décimo primeiro ano?
Porquê, digam-me?!
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Joao: "Em complemento à pergunta do Shark, tenho igual interrogação acerca da minha professora de matemática do 5º ano, em cujas aulas havia um disparate de lápis e canetas a cair ao chão apenas para um vislumbre daquelas pernas, das minhas professoras de Francês, do 8º e 9º anos, e, finalmente, da minha professora de informática, no 10º ano. Teria sido interessante.
Quase me esquecia da professora de Educação Visual, no 5º ano.
Só teria precisado de 5 números da Playboy para resolver estas curiosidades. Todos estes anos volvidos, pergunto-me se alguma delas ainda guardará os seus predicados. (...) Apercebi-me, de repente, que assumindo que elas teriam, naquela altura, trinta e poucos anos, já serão todas cinquentonas ou muito perto disso. Bolas, que o tempo passa... e se tiver errado na estimativa, pode até acontecer que alguma delas já tenha cruzado os 50 muito a caminho dos 60. Caramba."
Gomalaca: "«É quando começam a ter rugas que as uvas são mais doces» - Confúcio"
PortugalEstáFodido: "Esta professora é uma «lasca», aquilo que chamo de verdadeira mulher, daquelas que enchem o olho e não só! Esta mulher é um monumento à beleza feminina, até me dá vontade de chorar.
Deviam era substituir aquela figura triste e deprimente que nas procissões levam nos andores, por esta mulher de carne e osso, capaz de fazer milhares de crentes percorrer imensos quilómetros de joelhos!"
OrCa: "Ah... e a minha professora de Ciências Naturais, do 4º ano liceal, que apoiava o ventre à esquina da minha carteira - era assim que se chamava - na primeira fila, sempre que se dirigia aos galfarros... E eu fiquei sempre sem saber se aquelas aulas lhe davam mais gozo a ela ou a nós... E quando levantava os braços para pendurar o mapa do esqueleto do coelho ou do pombo, a bata e a saia, já de si curtas, alçavam-se a esplendores anatómicos que produziam um incontrolável bru-á-á na rapaziada que seria impossível não ouvir... Chegaram a oferecer-me dinheiro para trocar de lugar comigo, na aula de Ciências Naturais!"
shark: "É bom, uma pessoa ter assim memórias do tempo de escola em que éramos tão sedentos de aprendizagem e assim..."
São Rosas: "Eu hei-de sempre lembrar-me de uma professora, de cabelos compridos, que passava a aula enrolar os cabelos e depois deixava-os cair soltos pelo corpo todo.
Se na altura já eu era lésbica assumida, depois disso assumi a irreversibilidade e assim..."
Santoninho: "Olha, eu tive um professor que partia nozes com a piça em cima do tampo da secretária e nunca ninguém o chamou à atenção por isso..."
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Entretanto, criei no Facebook o grupo Bruna Real a ministra da Educação». Quem vota a favor?
da professora toda despida e desta apagada e vil tristeza que nos veste a todos...
O director do Agrupamento de Escolas da Torre de Dona Chama, clarinho como a água de tanta ribeira poluída deste País, nos afiançou: "Aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de professora e de educadora". E daí a anunciar a rescisão do respectivo contrato foi um ápice.
E logo sequenciado por pudibunda e pressurosa vereadora que de pronto retirou a senhora da escola e catrafiou-a num arquivo, a bem da moral e dos bons costumes, quiçá ao abrigo dos olhares concupiscentes, protegendo-a a ela da gula dos concidadãos e aos concidadãos do pecado da gula (para além de outros menores, claro). Fica-me, confesso, a inveja dos bichinhos-de-prata, useiros e vezeiros nestas coisas dos livros e papéis velhos e que poderão desfrutar à vontade de quanto ao comum cidadão foi sonegado…
Precisamente
Precisamente hoje:
embala-me, abraça-me,
aguça-me o apetite;
volta, meia volta,
volta e meia
preciso que venhas
e me aguces assim.
Um verbo, um delírio,
o som e o gemido audível,
preciso - precisamente - hoje
que me perturbes o sono.
Foto e poesia de Paula Raposo
Conto do desencontro
17 maio 2010
Pensamento do dia
Tradução: "Pensamento do dia: A percepção do mundo e da convivência social altera-se profundamente quando percebemos que na boca das mulheres com quem falamos já entraram um ou mais pénis".
Contos já sem pontes no azul
Sou apenas um fósforo. E tu sabes. Eu sei, agora sei.
Ele deu-me amor. Mas tu deste-me azul. E azul é mais que amor. É mais que qualquer amor.
É mais que todos os amores. É azul. E tu sabes.
E eu? O que te dei? Dizes-me? E tu sabes?
Quem vai aumentar as palavras para te demorares nelas? Se não lês, o silêncio pode não demorar. Diz-me do princípio. Prometo não contar a ninguém. Nem a mim. Eu não conto. Quem vai domar os versos para te servirem? O que foi feito dos pássaros que escrevi na tua gaiola?
Fala-me do princípio.
O gelo no azul queima os olhos presos nas páginas. O fogo sempre procurou os teus para se escrever; agora, acredita que não tens. Saberás? Não.