19 maio 2010

O fenómeno de Mirandela

Não tenho nenhuma opinião inteiramente formada sobre o que tanto se discute nestes dias: uma professora ter pousado para a Playboy e, por essa razão, ter ficado afastada do contacto com as crianças, supostamente pelo alarme social que as suas fotos causaram. E "alarme social" não é uma expressão minha, foi o que ouvi no rádio pela boca de alguém que comentava a situação.

Sabendo quem me lê que sou Católico, poderia esperar de mim uma forte condenação, uma posição firme de apoio à rejeição desta senhora como professora que deveria dar o exemplo, um exemplo (não sei qual, mas um exemplo), e manter uma conduta regrada, adequada à sua condição de professora que influi na formação de crianças que amanhã serão adultas e farão com as suas vidas muito daquilo com que foram crescendo. Podia, podia assumir essa posição. Mas não a assumo.

O sexo (muito mais o sexo do que o erotismo) está em todo o lado. As crianças levam com o sexo desde muito cedo. Quem é que não viu, já, filmes na televisão, durante o fim-de-semana em horas familiares, com cenas de sexo, insinuação de sexo ou algum tipo de nudez? Quem não passou já na rua, com crianças pela mão, em frente a outdoors publicitários que procuram vender algum tipo de produto com mensagens mais ou menos descaradas de carácter sexual? Pergunto ainda: mesmo assumindo que a Playboy não é uma revista que se tenha em cima da mesa ao lado da TVGuia ou da Science, quantas das pessoas que se dizem chocadas com esta situação, não se incomodam de ter, nas suas casas, ao acesso das suas crianças, revistas daquelas de "dona-de-casa" (para que saibam quais são, que não me apetece referi-las pelo nome) que, nas secções de aconselhamento, referem coisas porventura mais complicadas de explicar a uma criança do que a nudez de uma pessoa?

Não consigo ter uma ideia formada sobre isto. Não está provado, para mim, que a nudez desta professora a torne pior profissional, incapaz de dar aulas e formar bem as crianças. Não está provado, para mim, que ser professora é incompatível com nudez. Mas também não está provado, para mim, que isto não suscite, em algumas crianças, uma curiosidade acrescida pelo sexo, numa altura em que talvez não lhes seja benéfico. Mas, se assim acontecer, talvez já aconteça por muitas outras coisas, sendo isto apenas a gota final que transborda.

Mais. Não será isto, para as gentes de Mirandela, uma boa oportunidade para contextualizar as coisas? Para fazer um esforço em quebrar as dificuldades do diálogo sobre sexo e fazer as criancinhas entender a nudez, entender a sexualidade, o erotismo, e como estas coisas podem estar (ou não) e devem estar (ou não) associadas a outros sentimentos de alguma nobilidade?

Espero que o benefício financeiro obtido com estas fotografias tenha sido, para a professora, minimamente compensador. Porque enquanto o tal alarme social não passa, vai precisar aguentar-se. Tenho mais dúvidas que certezas. Uma coisa não faço: não a condeno nem julgo. Nem como pessoa, nem como profissional.

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