Um miminho oferecido pela São Patrício.
23 junho 2010
22 junho 2010
Vinho Amante
O teu corpo, meu amante, é vinho e êxtase. Quando te entornas sobre mim, dos teus olhos a arder, rompem-se pombas...
[um aberto poço]
Artéria grossa o sangue lateja,
Quarto, poema, deitado, poeta e bebedor.
Num só olhar teu, fecundas-me, um por um, os meus lábios, quentes, escarlates.
[A boca perversa pensa]
Vem, suplico-te,
Vem descobrir a pomba escondida na fenda da rocha...
[Blog Vermelho Canalha]
Inadiável
Deixaste-me sem palavras.
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
21 junho 2010
Comer Com Boca
A boca. Paralisa. Fecha-se. Come-te, o cavalo, o trovão. Nervo a nervo, uma massa em silêncio, no ar desesperado, a anestesia súbita. Poro com poro, no poro do poro, e sempre em rotação mó...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
[Blog Vermelho Canalha]
Quadro (II) - Autocarros
Aqui, no agora, todos os pássaros pousaram. Os autocarros vão passando cheios de vazios que engoliram; já ninguém vê as pessoas. Os amantes não souberam amar nem sequer uma eternidade. O copo quase vazio, os corpos embriagados de lugares comuns. Um lobo uivou à lua entristecida confundindo-a com o reflexo no lago. Lá, no longe, o azul da lua tremeu. Não chores, minha lua pintada, não chores. Já chove.
20 junho 2010
Xadrez
A face magoada
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
Tradução do fundo
Quando estou aqui, olho em volta, olho o céu e sonho mais. Quando não estou aqui, estou a olhar em volta, a olhar o céu e a sonhar mais. E se tudo isto não for ainda estupidamente, absolutamente perfeito, ainda assim, será apenas porque é.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
Posso não possuir o Mundo mas o Mundo, sim, o Mundo ainda me possui e o movimento ajoelha-me, pasmada, estupefacta, ofegante. E a lua, na solidão doce que me acolhe os medos desta imensidão que me tem, é ainda um milagre.
Não caí nem cairei na cegueira dos disciplinados pelo passar de horas de sessenta minutos que subtraem dos anos tudo menos o tempo. Eu ainda sei que tudo isto que me come, que me come a pele, que me come os dias, é de pasmar, é o Mundo, é o Reino, o dia que anoitece, a noite que amanhece, a brutalidade da existência nítida nestas retinas.
Entendes? Tudo isto que te digo consigo sentir. Não tenho garras nem âncoras para superfícies.
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