Livro «Théatre Erotique de La Rue de la Santé», de Monnier, Tisserant. Edição «Cercle du Livre Précieux, Paris, 1963. Colecção "les Bijoux Indiscrets". Edição original numerada (1240/1500). 344 páginas.
Este livro é uma recolha de peças de teatro erótico.
24 junho 2010
23 junho 2010
Sobre os pecados contra a "castridade"
De há uns tempos a esta parte, tenho andado a ler o “Navegador Solitário”, de João Aguiar, autor que, infelizmente, faleceu algures nas páginas deste livro.
Como adolescente que se preze, Solitão vive obcecado por sexo e a sua primeira relação sexual redunda num acto frustrado, muito por causa do “piçarvativo”. Para piorar tudo, Solitão tem de enfrentar o padre Elias em confissão e é o trecho do relato desse episódio que aqui transcrevo. Ao lê-lo, depois de ter soltado uma gargalhada, achei que seria um excelente motivo para uma posta aqui no blog porcalhoto.
(…) resolvi ir confessar-me hoje e afinal acabei por ter uma discussão com o padre Elias.
Foi assim quando eu me ajoelhei e depois daquelas coisas que se dizem sempre no princípio, então quando é que te confessaste da última vez e tudo isso eu comecei a dizer os pecados e já se vê logo o primeiro foi o da castridade eo padre disse o quê e eu repeti e ele disse com ar chateado pronto já percebi mas tira-lhe o érre e eu é que não percebi logo e ele explicou mas já irritado porque o padre Elias está a ficar um bocado rabugento se calha é da idade e depois disse então fizeste coisas contra a castidade e foi sozinho ou acompanhado e eu respondi desta vez foi acompanhado e então ele perguntou foi com um rapaz ou com uma rapariga e eu respondi com uma rapariga e até aqui eu já estava habituado porque estas perguntas são sempre as mesmas a malta goza sempre com isso só que depois ele queria que eu lhe dissesse o que é que eu tinha feito e com quem e mais uma porção de coisas que eu acho que não deve ser normal perguntar e aí eu disse que não dizia porque afinal eu estava lá para me confessar a mim e não a miúda que essa podia ir confessar-se ela própria e além disso não queria contar os promenores e então o padre Elias ficou mais chateado e discutiu comigo e lá acabou por dar-me a besolvição mas depois deu-me de penitência rezar vinte terços aquilo foi vingança grande sacana e eu acho que não volto a confessar-me e afinal se a gente tem tesão por que é que há-de ser pecado.
O que eu não percebo é por que é que as coisas são assim está tudo muito mal feito se a gente não pode fazer amor nem dar pinocadas à vontade por que é que havemos de ter tesão se era só pra fazer filhos arranjava-se outra maneira e assim as pessoas podiam ter só os filhos que quisessem e se não quisessem não tinham nenhum era bem melhor mas a verdade é que temos tesão e isso afinal é que é o problema e já sei que esta noite não vou conseguir dormir."
Este é o diário de um miúdo púbere, com grandes dificuldades de expressão escrita e que vive atormentado por um contexto muito particular. Para além de se chamar Solitão Francisco e de lidar mal com isso, tem ainda de conviver com uma mãe e um pai em constante discussão e com perspectivas completamente opostas sobre a vida, uma tia com tanto de médium como de mexeriqueira, um avô que, apesar de ter falecido há já algum tempo, insiste em dar conselhos pouco escrupulosos ao seu neto e o facto de o seu melhor amigo ser toxicodependente e prostituto.
Como adolescente que se preze, Solitão vive obcecado por sexo e a sua primeira relação sexual redunda num acto frustrado, muito por causa do “piçarvativo”. Para piorar tudo, Solitão tem de enfrentar o padre Elias em confissão e é o trecho do relato desse episódio que aqui transcrevo. Ao lê-lo, depois de ter soltado uma gargalhada, achei que seria um excelente motivo para uma posta aqui no blog porcalhoto.
(…) resolvi ir confessar-me hoje e afinal acabei por ter uma discussão com o padre Elias.
Foi assim quando eu me ajoelhei e depois daquelas coisas que se dizem sempre no princípio, então quando é que te confessaste da última vez e tudo isso eu comecei a dizer os pecados e já se vê logo o primeiro foi o da castridade eo padre disse o quê e eu repeti e ele disse com ar chateado pronto já percebi mas tira-lhe o érre e eu é que não percebi logo e ele explicou mas já irritado porque o padre Elias está a ficar um bocado rabugento se calha é da idade e depois disse então fizeste coisas contra a castidade e foi sozinho ou acompanhado e eu respondi desta vez foi acompanhado e então ele perguntou foi com um rapaz ou com uma rapariga e eu respondi com uma rapariga e até aqui eu já estava habituado porque estas perguntas são sempre as mesmas a malta goza sempre com isso só que depois ele queria que eu lhe dissesse o que é que eu tinha feito e com quem e mais uma porção de coisas que eu acho que não deve ser normal perguntar e aí eu disse que não dizia porque afinal eu estava lá para me confessar a mim e não a miúda que essa podia ir confessar-se ela própria e além disso não queria contar os promenores e então o padre Elias ficou mais chateado e discutiu comigo e lá acabou por dar-me a besolvição mas depois deu-me de penitência rezar vinte terços aquilo foi vingança grande sacana e eu acho que não volto a confessar-me e afinal se a gente tem tesão por que é que há-de ser pecado.
O que eu não percebo é por que é que as coisas são assim está tudo muito mal feito se a gente não pode fazer amor nem dar pinocadas à vontade por que é que havemos de ter tesão se era só pra fazer filhos arranjava-se outra maneira e assim as pessoas podiam ter só os filhos que quisessem e se não quisessem não tinham nenhum era bem melhor mas a verdade é que temos tesão e isso afinal é que é o problema e já sei que esta noite não vou conseguir dormir."
Isto sem pontuação não é fácil de ler, pois não? Quase merecia um Nobel!
Desenho desanimado
Mulher em borracha faz uma dança do ventre rodando-se uma manivela
Um miminho oferecido pela São Patrício.
22 junho 2010
Vinho Amante
O teu corpo, meu amante, é vinho e êxtase. Quando te entornas sobre mim, dos teus olhos a arder, rompem-se pombas...
[um aberto poço]
Artéria grossa o sangue lateja,
Quarto, poema, deitado, poeta e bebedor.
Num só olhar teu, fecundas-me, um por um, os meus lábios, quentes, escarlates.
[A boca perversa pensa]
Vem, suplico-te,
Vem descobrir a pomba escondida na fenda da rocha...
[Blog Vermelho Canalha]
Inadiável
Deixaste-me sem palavras.
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
É um dom:
deixares-me sem palavras.
Não quer dizer
que sejas alguém especial
(lá por que me deixas sem palavras),
mas talvez sejas
o movimento imperceptível
da minha memória
escorrendo saudade;
um longo caminho desconhecido
que me abre alguma porta;
fazendo das palavras
o regresso.
E, desse dom (teu)
uma paixão inadiável.
Poesia de Paula Raposo
21 junho 2010
Comer Com Boca
A boca. Paralisa. Fecha-se. Come-te, o cavalo, o trovão. Nervo a nervo, uma massa em silêncio, no ar desesperado, a anestesia súbita. Poro com poro, no poro do poro, e sempre em rotação mó...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
Canduras. Vermelhas correm no teu sangue, hesitado, no tesão que em ti voa, passa, come, no orvalhado que sentes desafogadamente.
O corpo tudo expõe. Tão agudo. Nos montes. Nu estendal, grave, tentas manter invisível o suco rebarbativo, lascivo, que queima. Quase... Quase... Doendo!...
A língua enrosca-se tendo por égide um pénis em adoração.
Tétrica convulsão, após o último beijo, que de tão maduro...
Splash!...
Rotação!...
Profundidade!... Deus!...
(e o orgasmo é aparição)
A boca. Nervo a nervo, a sorver a matéria, encharcada e nua até às pálpebras, num delírio, louco, que ensopa o tecto, o soalho, e as minhas devassas fantasias...
[Blog Vermelho Canalha]
Quadro (II) - Autocarros
Aqui, no agora, todos os pássaros pousaram. Os autocarros vão passando cheios de vazios que engoliram; já ninguém vê as pessoas. Os amantes não souberam amar nem sequer uma eternidade. O copo quase vazio, os corpos embriagados de lugares comuns. Um lobo uivou à lua entristecida confundindo-a com o reflexo no lago. Lá, no longe, o azul da lua tremeu. Não chores, minha lua pintada, não chores. Já chove.
20 junho 2010
Xadrez
A face magoada
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
apresenta-se de cor vermelha
- sangue vivo -
e pode doer ou não:
depende da perspectiva.
Cada dor tem a sua cor,
tal como cada face
apresenta a sua mágoa.
E, a face magoada,
traz o sangue vivo
- subjectivo -
doloroso de uma farsa;
marcado num trilho;
disfarçado de rei:
o xadrez do déspota.
Foto e poesia de Paula Raposo
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