Fonte: Sedentario.org
06 julho 2010
05 julho 2010
Carta à Tusa
[Sento-me a escrever à Tusa, palavras, sensações, funduras, equações, numa conversa que fala entre si.
Do delírio, escrevo-te em exaltação, numa ida e volta]
«Tu, que eu não vejo e estás dentro de mim, que me rodeias. Pura e salgada. Uma cega Deusa, que te escondes na fluência dos meus maiores movimentos. No plural. Num momento intenso. Num plural. Raiando. Na minha mão viciada e aluada.
És fel em brasa, potente, nas veias corrente. Correndo. Uma loucura. Na substância elementar que enche, preenche e me delira. Diurna, crua no poema. Água profunda. Nua. Inocente, que debaixo da plaina, o meu macho, transfundes. O inspiras. Respiras e me inspiras, tanto de fora como dentro. Tu, tudo sabes. Tudo desejas, através da voz do meu grito que estala e embriaga todos os meus dedos, na ânsia queimados, nessa tua força absoluta. Arguta, que murmuras cegamente, no saltear que se desprende no meu despir, faminto, de botão em botão. No verbo amar. No verbo foder. No verbo comer. No verbo saber.
Tanto tens de imortal como de absoluta. Eu sou, em ti, uma pequena abertura, um continente oculto, onde as tuas labaredas me alcançam nos aromas, na minha carne fria, difícil.
Escrevo-te porque te amo, acima de tudo porque me amo, no toque, no beijo, num desejo.
Escrevo-te da minha inteligência exterior, da minha secretária quadrúpede, onde sou palavra de energia rápida, embora não tão quente como tu, num gozo...
Um beijo
Da tua sempre amiga
Sensualidade
PS. Responde-me um dia destes...»
Do delírio, escrevo-te em exaltação, numa ida e volta]
«Tu, que eu não vejo e estás dentro de mim, que me rodeias. Pura e salgada. Uma cega Deusa, que te escondes na fluência dos meus maiores movimentos. No plural. Num momento intenso. Num plural. Raiando. Na minha mão viciada e aluada.
És fel em brasa, potente, nas veias corrente. Correndo. Uma loucura. Na substância elementar que enche, preenche e me delira. Diurna, crua no poema. Água profunda. Nua. Inocente, que debaixo da plaina, o meu macho, transfundes. O inspiras. Respiras e me inspiras, tanto de fora como dentro. Tu, tudo sabes. Tudo desejas, através da voz do meu grito que estala e embriaga todos os meus dedos, na ânsia queimados, nessa tua força absoluta. Arguta, que murmuras cegamente, no saltear que se desprende no meu despir, faminto, de botão em botão. No verbo amar. No verbo foder. No verbo comer. No verbo saber.
Tanto tens de imortal como de absoluta. Eu sou, em ti, uma pequena abertura, um continente oculto, onde as tuas labaredas me alcançam nos aromas, na minha carne fria, difícil.
Escrevo-te porque te amo, acima de tudo porque me amo, no toque, no beijo, num desejo.
Escrevo-te da minha inteligência exterior, da minha secretária quadrúpede, onde sou palavra de energia rápida, embora não tão quente como tu, num gozo...
Um beijo
Da tua sempre amiga
Sensualidade
PS. Responde-me um dia destes...»
[Blog Vermelho Canalha]
InVocações (X) - Amarrar
Existem as emoções e as palavras que são delas. Eu sei que amor é amor e a palavra amor é a palavra amor. Eu sei que as emoções podem existir mesmo que não sejam ditas. Sei que existem assim mesmo, na mudez total. Existem mas eu posso sempre tentar amarrá-las; tentar que se mantenham numa existência entre cordas, imóveis e silenciosas num qualquer canto confortável. Por isso é que não digo a palavra. Porque é mais fácil acreditar que posso amarrar a emoção se amarrar a palavra que é dela. Absurdo? Sim, porém enquanto nisto eu conseguir acreditar - há tantas coisas em que acreditamos apenas porque mantêm o mundo arrumado - tentarei amarrar palavras; acreditarei que posso ser cega como os mudos. Tens que entender; eu tenho estas amarras porque tu tens outras amarras e então nós já não temos nós nos laços. Mas, assim, ainda temos nós. Permite-me um placebo, este.
04 julho 2010
As palavras
Um dia existiram palavras.
As palavras ficaram guardadas
-até um outro dia-
e encheram-se de bafio.
São bafientas as palavras
que se guardaram
(porquê?);
porque sim.
As palavras não se devem guardar:
existem para serem ditas
(escritas);
para se machucarem, amarem,
destruírem e se reconstruírem.
As palavras vivem
na vida de nós.
Poesia de Paula Raposo
As palavras ficaram guardadas
-até um outro dia-
e encheram-se de bafio.
São bafientas as palavras
que se guardaram
(porquê?);
porque sim.
As palavras não se devem guardar:
existem para serem ditas
(escritas);
para se machucarem, amarem,
destruírem e se reconstruírem.
As palavras vivem
na vida de nós.
Poesia de Paula Raposo
03 julho 2010
Capacidade de observação é isto
No 13º Encontra-a-Funda, quando visitámos o Museu da Chapelaria em S. João da Madeira, toda a gente viu esta máquina e ouviu atentamente a explicação do nosso guia. Mas a Salomé observou a máquina de um ângulo específico e ofereceu-me a fodografia, que baptizou de...
«Máquina Multifuncional»
Obrigada, Salomé. A ti, ofereço-te esta fodografia da colecção do Museu, em que me limitei a destacar...
O ataque dos conos encavalitados
«Máquina Multifuncional»
Obrigada, Salomé. A ti, ofereço-te esta fodografia da colecção do Museu, em que me limitei a destacar...
O ataque dos conos encavalitados
A prostituta azul (VII)
A dor que não dói na ferida é dor que dói na dor. Quando nem ferida existe é - por vezes - a dor dos que gozam a vida que sentem, porque algo sentem, nem que dor seja. Assim, poderá a dor dar um gozo obsceno, quase violento aos que a sentem, se antes incapazes de algo sentir ou incapazes de outra coisa sentir. Só quem morre não sente; eu vi a dor ressuscitar de prazer quem se julgava condenado a uma morte colada ao nome. O toque cruel, vestido de violência fria, estalava na pele submissa, nua; despertava do sono as gargalhadas de pasmo inundadas, roucas de um desprezo recém-adquirido pelo entorpecimento. Tudo estava duro, nítido; a realidade fervia uma ejaculação precoce que agora poderia escorrer numa doçura de contrastes vivos, tão vivos, apiedados. E ela? Ela bateu-lhe mais, por dó, por pena, por delicadeza, por compaixão; bateu-lhe mais, bateu-lhe até ao princípio. O homem deixou a morte, deixou os papelinhos coloridos de feio e foi-se embora. Ela morreu um pouco que nunca mais reanimou e nunca mais o reanimou.
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