Existem as emoções e as palavras que são delas. Eu sei que amor é amor e a palavra amor é a palavra amor. Eu sei que as emoções podem existir mesmo que não sejam ditas. Sei que existem assim mesmo, na mudez total. Existem mas eu posso sempre tentar amarrá-las; tentar que se mantenham numa existência entre cordas, imóveis e silenciosas num qualquer canto confortável. Por isso é que não digo a palavra. Porque é mais fácil acreditar que posso amarrar a emoção se amarrar a palavra que é dela. Absurdo? Sim, porém enquanto nisto eu conseguir acreditar - há tantas coisas em que acreditamos apenas porque mantêm o mundo arrumado - tentarei amarrar palavras; acreditarei que posso ser cega como os mudos. Tens que entender; eu tenho estas amarras porque tu tens outras amarras e então nós já não temos nós nos laços. Mas, assim, ainda temos nós. Permite-me um placebo, este.
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Uma por dia tira a azia