06 julho 2010

terceiro termo


Quem sou eu?
(ora aí está uma pergunta interessante da tua parte. Talvez interesseira, também. Mas certamente interessada)
De dia, uma executiva irrepreensível. Gosto do meu trabalho. Com ele ganho o dinheiro suficiente para gastar naquilo que me deixa feliz: copos, roupa, sapatos, malas.
Assumo a futilidade do meu ser sem qualquer preconceito. E os meus dois mundos. Mesmo quando estes se cruzam.
(Dois mundos?)
À noite, sou aquela que deixa homens
(e mulheres!)
loucos, excitados, por me verem em palco a realizar as suas fantasias.

[continuem a ler... aqui!]

projecto Olhar a Palavra
texto de Joana Sousa
fotografia de João Paca

Descascar

Apetece-me descascar o que resta de mim
e tentar entender
se o que resta de mim
- tirando a casca eventualmente
existente -,
ainda me pertence.

Vou pensar.

Prometo que um dia,
a casca não será mais
do que uma ilusão estúpida:
a vida que nos corta
- tão bem -
as voltas.

Poesia de Paula Raposo

Uma foto de capa de revista... e a foto original

Vejam as diferenças, que são mesmo muitas:



Fonte: Sedentario.org

40 graus à sombra



HenriCartoon

05 julho 2010

Carta à Tusa

[Sento-me a escrever à Tusa, palavras, sensações, funduras, equações, numa conversa que fala entre si.
Do delírio, escrevo-te em exaltação, numa ida e volta]

«Tu, que eu não vejo e estás dentro de mim, que me rodeias. Pura e salgada. Uma cega Deusa, que te escondes na fluência dos meus maiores movimentos. No plural. Num momento intenso. Num plural. Raiando. Na minha mão viciada e aluada.
És fel em brasa, potente, nas veias corrente. Correndo. Uma loucura. Na substância elementar que enche, preenche e me delira. Diurna, crua no poema. Água profunda. Nua. Inocente, que debaixo da plaina, o meu macho, transfundes. O inspiras. Respiras e me inspiras, tanto de fora como dentro. Tu, tudo sabes. Tudo desejas, através da voz do meu grito que estala e embriaga todos os meus dedos, na ânsia queimados, nessa tua força absoluta. Arguta, que murmuras cegamente, no saltear que se desprende no meu despir, faminto, de botão em botão. No verbo amar. No verbo foder. No verbo comer. No verbo saber.
Tanto tens de imortal como de absoluta. Eu sou, em ti, uma pequena abertura, um continente oculto, onde as tuas labaredas me alcançam nos aromas, na minha carne fria, difícil.
Escrevo-te porque te amo, acima de tudo porque me amo, no toque, no beijo, num desejo.
Escrevo-te da minha inteligência exterior, da minha secretária quadrúpede, onde sou palavra de energia rápida, embora não tão quente como tu, num gozo...
Um beijo
Da tua sempre amiga
Sensualidade

PS. Responde-me um dia destes...»

[Blog Vermelho Canalha]

InVocações (X) - Amarrar

Existem as emoções e as palavras que são delas. Eu sei que amor é amor e a palavra amor é a palavra amor. Eu sei que as emoções podem existir mesmo que não sejam ditas. Sei que existem assim mesmo, na mudez total. Existem mas eu posso sempre tentar amarrá-las; tentar que se mantenham numa existência entre cordas, imóveis e silenciosas num qualquer canto confortável. Por isso é que não digo a palavra. Porque é mais fácil acreditar que posso amarrar a emoção se amarrar a palavra que é dela. Absurdo? Sim, porém enquanto nisto eu conseguir acreditar - há tantas coisas em que acreditamos apenas porque mantêm o mundo arrumado - tentarei amarrar palavras; acreditarei que posso ser cega como os mudos. Tens que entender; eu tenho estas amarras porque tu tens outras amarras e então nós já não temos nós nos laços. Mas, assim, ainda temos nós. Permite-me um placebo, este.

Troca de parceiros


Alexandre Affonso - nadaver.com

Casal em bronze articulado do Nepal

04 julho 2010

As palavras

Um dia existiram palavras.
As palavras ficaram guardadas
-até um outro dia-
e encheram-se de bafio.

São bafientas as palavras
que se guardaram
(porquê?);
porque sim.

As palavras não se devem guardar:
existem para serem ditas
(escritas);
para se machucarem, amarem,
destruírem e se reconstruírem.

As palavras vivem
na vida de nós.

Poesia de Paula Raposo

Pedido de casamento convincente...

... foi como chamou a esta ternurenta imagem a Teresa Soares:

«Que idade me dás?» - postal

Falta de chá?


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