02 setembro 2010

A posta que não dá

Há muitas maneiras de sentir e de viver emoções. Aliás, essa é uma das características que nos distinguem e costuma ser determinante, por exemplo, no acerto de agulhas que cada relação implica.
Tenho aprendido que saber dosear as emoções em função do seu peso nas outras pessoas é a única forma de acautelar desilusões. Isto porque os desequilíbrios emocionais, que cedo ou tarde se traduzem em conflitos ou, no mínimo, em danos na auto-estima de uns e na pachorra de outros são impossíveis de gerir sem perdas associadas.
Há pessoas que se deixam arrastar pela emoção porque só assim sentem que vale a pena. Outras apenas se permitem um ou outro momento de desvario nesse domínio e acabam por revelar uma incapacidade latente para sustentarem níveis elevados de paixão, de amizade ou de qualquer outro tipo de ligação que as obrigue (entre aspas) a cedências ou a qualquer outro tipo de concessão que deveria ser tido como normal no contexto de uma relação séria.
Não são melhores nem piores, uns e outros, mas é inegável que só por milagre se compatibilizam um vulcão e um icebergue sem que um derreta ou o outro arrefeça.
E isto aplica-se a qualquer tipo de ligação entre as pessoas, pois tendemos sempre a impor aos outros o nosso grau confortável de emocionalidade e acabamos por acicatar as divergências que daí resultam, uns demasiado frios e distantes, centrados em si próprios e em interesses tangíveis, outros demasiado intensos e exigentes na reciprocidade que entendem albergar também um esforço de compatibilização a que pessoas mais desprendidas jamais se predispõem.
Claro que tudo isto são teorias, coisas que uma pessoa vai elaborando a partir das suas experiências pessoais, da eterna aprendizagem que a vida nos impõe, muitas vezes à bruta, como contrapartida para os fracassos com que lidamos. Vale o que vale e pode explicar uma ou duas situações que nos magoem ou irritem, de pouco vale para outras pessoas e outras relações nas quais podem estar em causa factores completamente distintos dos que a forma de experimentar emoções pode criar entre as pessoas que entendam partilhá-las.
Mas ninguém me tira da cabeça a ideia de que não é viável, excepto em honrosas excepções que derivam de um amor mais sólido ou de uma amizade mais resistente, a compatibilização entre pessoas que vivam nos antípodas da emoção, quer isso se explique pelo percurso ou pelo feitio de cada um/a.
E qualquer teimosia, na maioria dos casos em que essa incompatibilidade exista, está condenada a uma derrota que apenas depende, nos termos e na rapidez com que aconteça, de factores tão aleatórios que nenhuma estratégia, nenhum cuidado, nenhum esforço podem evitar.

Genes desvendados



HenriCartoon

Inês Poema

Inês
não queiras
quem te fez
assim. Pára; solteiras
são as mágoas
e os caminhos nossos
um e dois e três
amantes, agora destroços
que já nem vês.
Não! Inês,
uma e outra
e outra vez,
assim, foram certeiras
as lâminas cegas
e os teus pedaços
perderam-se de ti, talvez
nem voltem os passos
e a nudez,
Inês,
e a nudez dessas horas
tem as voltas dos laços
em tantas memórias;
até breves histórias
têm fortes traços
sem os cheiros
tão baços
da lucidez.


Cavalinho


01 setembro 2010

Cientistas britânicos transformam urina em electricidade



HenriCartoon

OrCa: "Neste caso, qual é o estatuto de rentabilidade versus desperdício dos incontinentes?
E quando o «chefe de família» for fazer a sua mija, poderemos correr o risco da subversão de conceitos quando, à pergunta da mãe ao filho: «John, onde está o teu pai?», ouvir por resposta: «- O pai foi dar à luz...».
Depois, queixamo-nos de que a juventude não tem referências..."
São Rosas: "E nem quero imaginar que o próximo passo seja descobrirem que podem fazer o mesmo da merda..."

Cabra cega

Sou completamente cega para o que escrevo. Não vejo o que estou a escrever. Não consigo ler o que escrevi. Se me leres alto, podes ler-me para mim?

Austrália reconhece 1ª pessoa de “género não-específico” do mundo

a notícia não é de agora. mas foi hoje que a li no facebook. aqui fica:

«Norrie May-Welby tornou-se a primeira pessoa do mundo que se tem conhecimento a ser reconhecida oficialmente como não pertencente a nenhum dos dois gêneros.
O caso aconteceu na Austrália, onde o governo do Estado de New South Wales emitiu a Welby, que é ativista do grupo Sex and Gender Education (Sage), uma certidão de “Gênero Não-Específico”. As autoridades, assim, reconhecem sua pessoa como não sendo nem homem nem mulher.
Norrie May-Welby, hoje com 48 anos, é natural da Escócia. Em seu registro de nascimento constava como do sexo masculino. Quando tinha 23 anos submeteu-se a tratamentos hormonais e iniciou procedimentos médicos para cirurgia de redesignação sexual, mas decidiu interromper o processo, por insatisfação com os resultados, denominando-se desde então “neutro”. Em meio aos procedimentos para mudança de sexo, entretanto, obteve na Austrália, para onde se mudou, alteração em seus documentos para o sexo feminino.
O grupo no qual Welby milita, o Sage, luta pelos direitos de pessoas com identidades sexuais diferenciadas. “Esses conceitos de homem e mulher simplesmente não se encaixam no meu caso, eles não são a realidade e, se aplicados a mim, são fictícios”, explicou Norrie, que luta há anos pelo reconhecimento agora concedido, ao site The Scavenger na semana passada.
Segundo a imprensa australiana, os médicos que examinaram Welby teriam concluído, em janeiro passado, ser impossível determinar seu sexo, quer seja fisicamente ou por seu comportamento. E um relatório da Comissão de Direitos Humanos da Austrália já tinha recomendado ao governo, no ano passado, a lhe conceder a certidão de gênero não-específico.
A decisão do governo de New South Wales foi comemorada por ativistas australianos e britânicos. Tracie O’Keefe, do grupo Sage, ressaltou a importância da vitória para todos aqueles que não se identificam com nenhum dos dois sexos. O porta-voz do grupo britânico Gender Trust também parabenizou o reconhecimento governamental.»

FONTE: Instituto Adé Diversidade

nada do que disseres...

- porque ele há amores assim, que não são imortais porque são chama mas que são infinitos enquanto duram, como nos dizia Vinícius de Morais…


nada do que disseres faz mais sentido
que o segredares muito junto ao meu ouvido
um sorriso que me dás sem mais aviso
um sorriso de que tu és toda feita
e que meio adormecido me desperta
me acalenta
me seduz
me leva à certa
e me lembra de ti sempre meio à toa
coisa boa de um desejo que me cresce
quase afronta
que me nasce
que me acresce
que me aponta as veredas de outra vida
onde a vida que a todos é devida
cresce em mim sem ter peso
passo ou monta

e és tu toda nesse ardor o mais intenso
num sussurro de pele
que sorvo
tenso
porque a vida me impele
e é sempre tempo
de sorver da vida o mel
do mel o vento
no eterno turbilhão de se querer tanto
nem que seja no infinito de um momento.

beso con smog

31 agosto 2010

Não é um jacuzzi

Calma

Uma calma invade
Os meus sentidos,
Amolece os meus gestos,
Torna-me lânguida
Na suavidade que encontro.

Na onda que se espraia
Docemente em espuma,
Que me beija,
Alimento no meu peito
As vagas que me alteram.
Som ritmado,
Imperceptível
Num azul verde
Profundo ao longo da praia.

Pés descalços
Balanceio
Em movimentos subtis,
Em água que desfaço
Sob o meu corpo entregue.
Olhar e sorriso ao vento
Permaneço nesta paz,
Com a calma que me invade
Numa manhã de Inverno.

Poesia de Paula Raposo