Que barraca...
22 setembro 2010
«Afrodite» - livro de poesia da Paula Moreira
Já li e tenho guardadinho na minha colecção o livro de poesias e contos «Afrodite», de Paula Moreira, a nossa Maria Escritos.
A dedicatória humidificadora da Maria Escritos
A dedicatória humidificadora da Maria Escritos
21 setembro 2010
Quando permiti que entrasses dentro de mim, eu a fingir que não ia dando pela coisa, tu a entrares devagarinho, quando te abri a porta de casa, quando desviei o lençol para que te enfiasses comigo na minha cama, quando te disse em que armário da cozinha guardava os copos, quando te mostrei o caminho mais directo para o meu orgasmo e quando te desenhei os atalhos para que te perdesses em voltas e reviravoltas dentro de mim, não podia adivinhar que me deixarias esta feia cicatriz no peito.
Nua, perante ti, vi um dia o punhal na tua mão, esse punhal que era a mentira que me tinhas contado. Disseste que não devia preocupar-me. Guardarias o punhal, não o usarias em mim. Devagar, deixei o ar sair do peito, e baixei os braços, certa de que não precisaria de me defender.
A minha carne voltou a ser tua e os meus olhos iam deixando de espiar as tuas mãos, em busca do punhal. Acreditei, estava guardado, não o voltarias a empunhar.
Mentira, mentira, mentira. Mentiste-me quando mo prometeste e mentiste depois, quando eu estava distraída e fui surpreendida pela dor aguda, finíssima, profunda do teu golpe. Mentiste quando mascaraste as evidências, mentiste enquanto pudeste. Eu acreditei enquanto pude.
Mentira, mentira, mentira. Mentiste-me quando mo prometeste e mentiste depois, quando eu estava distraída e fui surpreendida pela dor aguda, finíssima, profunda do teu golpe. Mentiste quando mascaraste as evidências, mentiste enquanto pudeste. Eu acreditei enquanto pude.
Agora já não posso. Não posso acreditar-te mas, sei lá como, ainda consigo querer-te. Mas quero-te desta maneira magoada, quero-te zangada, vingativa, quero-te mesmo quando é debaixo de outros que me deito e que me venho.
Toma-me assim.
[Medeia - blog Infidelidades]
Mergulho
Atrás dela, a confusão.
Vozes, burburinho, discussões, queixumes, gritos, sussurros, confusão.
À sua frente, a imensidão, a totalidade, o mar, a potência, o futuro cheio de presentes, o ribombar das ondas nas rochas. O tempo e o espaço abertos, sem quaisquer limites conhecidos.
Ficaria ali, em território confortavelmente conhecido, ou daria o salto?
Ser-lhe-ia permitido arriscar, ainda uma vez?
Sorriu.
Ao mesmo tempo que dava o impulso que lhe lançou o corpo para a frente, sabia que não poderia voltar atrás. E nem por um segundo se arrependeu, como nunca se arrependera dos passos que dera. Sempre em frente, rumo ao desconhecido, ao novo, à descoberta.
Quando despertou, pegou no telefone e marcou o número.
A voz do outro lado deu-lhe as boas vindas, do fundo do mar.
Vozes, burburinho, discussões, queixumes, gritos, sussurros, confusão.
À sua frente, a imensidão, a totalidade, o mar, a potência, o futuro cheio de presentes, o ribombar das ondas nas rochas. O tempo e o espaço abertos, sem quaisquer limites conhecidos.
Ficaria ali, em território confortavelmente conhecido, ou daria o salto?
Ser-lhe-ia permitido arriscar, ainda uma vez?
Sorriu.
Ao mesmo tempo que dava o impulso que lhe lançou o corpo para a frente, sabia que não poderia voltar atrás. E nem por um segundo se arrependeu, como nunca se arrependera dos passos que dera. Sempre em frente, rumo ao desconhecido, ao novo, à descoberta.
Quando despertou, pegou no telefone e marcou o número.
A voz do outro lado deu-lhe as boas vindas, do fundo do mar.
És especial!
Languidamente.
A volta custa o tempo
de um olhar.
As palavras nem se ouvem;
elas marcam um lapso
de segundo
e de lapsos não é feita
a vontade:
estática permanece.
Um olhar não custa
o tempo de uma volta;
as palavras ouvem-se
e a vontade não deixa
lapsos permanentes:
tu és especial!
Poesia de Paula Raposo
A volta custa o tempo
de um olhar.
As palavras nem se ouvem;
elas marcam um lapso
de segundo
e de lapsos não é feita
a vontade:
estática permanece.
Um olhar não custa
o tempo de uma volta;
as palavras ouvem-se
e a vontade não deixa
lapsos permanentes:
tu és especial!
Poesia de Paula Raposo
Isqueiro com cães. Quando o cão dá ao rabo, à cadela até lhe sai fogo pela boca...
Mais um isqueiro para a minha colecção.
20 setembro 2010
Lengalenga para os meninos grandes
Eu acho que os homens são todos mais novos que eu. Nuns dias deitam-se ao meu colo e noutros deitam-se no colo meu. Eu acho que os homens são todos mais novos do que eu. Contam-me da fome e têm sede, beijam-me exigentes mas na exigência de quem pede. E um seio é macio e é nuvem e é céu. E quando se entregam e se colam, ventre no ventre, devolvem-se ao ventre meu. Os de olhos perdidos das mãos, os de dias perdidos dos sonhos, os meus dedos lançados aos cabelos puxam-nos pelos braços, levo-os para terra pelos joelhos, aprendem-me desenhos de pequenos traços em pequenos, por vezes inseguros, passos. Eu acho que os homens são todos mais novos que eu; quando foram meninos, abri-lhes os braços e o meu peito cresceu e agora eu acho que os homens são todos mais novos do que eu.
_________________________________
O Bartolomeu fez um comentário que tenho de transcrever aqui, pela Miss Joana Well... e por todos nós, que temos o privilégio de a ter como membrana deste blog:
"Miss, sabes o que te digo?
A autora deste texto, apesar de pequenino, merece receber, por aquilo que de verdade e de real ele encerra, o nóbel da literatura, acumulado com o nóbel da sabedoria e o nóbel da sensibilidade à essência humana.
Anda práí munta puta armada ao pingarelho, intituladas assistente sociais e mai'não sei quê, que não possuem um avo do teu saber, naquilo que diz respeito ao conhecimento do ser humano em toda a sua plenitude e genuinidade.
E penso que não tenho mai'nada para deixar escrito.
Ou por outra... muito mais haveria, para dizer escrevendo, mas não seriam mais que lugares comuns daquilo que já foi dito."
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O Bartolomeu fez um comentário que tenho de transcrever aqui, pela Miss Joana Well... e por todos nós, que temos o privilégio de a ter como membrana deste blog:
"Miss, sabes o que te digo?
A autora deste texto, apesar de pequenino, merece receber, por aquilo que de verdade e de real ele encerra, o nóbel da literatura, acumulado com o nóbel da sabedoria e o nóbel da sensibilidade à essência humana.
Anda práí munta puta armada ao pingarelho, intituladas assistente sociais e mai'não sei quê, que não possuem um avo do teu saber, naquilo que diz respeito ao conhecimento do ser humano em toda a sua plenitude e genuinidade.
E penso que não tenho mai'nada para deixar escrito.
Ou por outra... muito mais haveria, para dizer escrevendo, mas não seriam mais que lugares comuns daquilo que já foi dito."
«As Mulheres e o Sexo»
"Um grupo de Mulheres dá voz aos temas mais divertidos e polémicos da sua intimidade amorosa. O que elas pensam verdadeiramente sobre o que se passa entre quatro paredes. Serão eles competentes e dedicados o suficiente no que fazem ou prometem?
«Os Homens e os Minetes», uma crónica de Ana Anes"
O Zedasquina mostrou-nos a resposta do Rui Unas:
«Os Homens e os Minetes», uma crónica de Ana Anes"
O Zedasquina mostrou-nos a resposta do Rui Unas:
Sinal de trânsito muito provavelmente exagerado
Encontro muitos pequenos objectos curiosos para a minha colecção nas feiras de velharias. Há dias comprei 20 calendários de bolso (uns com humor erótico e outros a publicitar videos porno dos anos 80), dois isqueiros (de um deles, fiz um video para o blog), um gnomo (fiz também um video) e este sinal de trânsito. Tudo por € 2,50!
19 setembro 2010
«Reprodução» - por Rui Felício
O Coronel Ramires, pai de Vasco Ramires que ganhou uma medalha no Concurso de Saltos Equestres dos Jogos Olímpicos de Munique em 1972,tinha uma quinta no Tramagal onde fazia criação de cavalos de raça lusitana e puros-sangue ingleses cruzados com árabes.
José Cid, cantor de todos conhecido e que possuía uma herdade na Chamusca, terra ribatejana, perto do Tramagal, comprou-lhe vários cavalos.
Por razões que não vêm agora ao caso, honro-me de ter merecido a amizade do Cor. Ramires e do seu filho.
Um fim de semana fui convidado, entre outras pessoas a ir visitar a sua bela Quinta do Tramagal. O Cor. Ramires orgulhava-se dos seus cavalos e queria mostrar-nos a forma como os criava e os ensinava. Dizia-me ele, que era sempre com mágoa que via sair algum dos seus animais, depois de os ter visto nascer e de durante 3 ou 4 anos ter assistido ao seu crescimento e à evolução das suas qualidades como cavalos treinados para provas desportivas equestres. Mas tinha que os vender para rentabilizar a exploração.
Naquele dia, íamos assistir a um fenómeno natural mas a que os homens da cidade, não estão habituados. Uma égua, que andava “saída”, ia ser montada por um cavalo garanhão.
Num terreiro vedado, assistimos aos jogos de sedução da égua e do crescente entusiasmo do cavalo, perfeitamente visível aos olhos de todos quantos observavam.
A Helena, jovem e bonita mulher criada na quinta desde criança, ali vivia e acompanhava a vida dos cavalos nos mais pequenos pormenores. Por isso, tinha sido nomeada pelo Cor. Ramires como “Tratadora Principal”, cargo complexo que ele não lhe atribuiria se ela não fosse realmente, como era, uma competente especialista na matéria.
Perto de mim, e percebendo a minha crescente concentração na patente excitação daqueles dois animais, disse-me, com uma pequena gargalhada:
- O Sr. Dr. parece que também se está a excitar!...
- Para falar a verdade, você não se engana, Helena... – respondi eu meio a sério meio a brincar, lançando-lhe um olhar provocatório.
A Helena atiçou-me ainda mais, dizendo-me, desta vez em voz baixa para que os outros convidados não ouvissem:
- Só depende da sua vontade Sr. Dr.! Uma palavra sua e far-lhe-ei a vontade com todo o prazer.
Um turbilhão de pensamentos revolteava-me a cabeça. Reuni toda a coragem e disse-lhe:
- Oh Helena, não me provoque! Você já percebeu qual é a minha vontade. Diga-me quando e onde!
Responde-me a Helena:
- Onde? Bem, o sitio é este mesmo, que é o mais adequado. Quanto ao "Quando", pode ser já! A égua, que está cheia de cio, é toda sua, Sr. Dr.!
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»
José Cid, cantor de todos conhecido e que possuía uma herdade na Chamusca, terra ribatejana, perto do Tramagal, comprou-lhe vários cavalos.
Por razões que não vêm agora ao caso, honro-me de ter merecido a amizade do Cor. Ramires e do seu filho.
Um fim de semana fui convidado, entre outras pessoas a ir visitar a sua bela Quinta do Tramagal. O Cor. Ramires orgulhava-se dos seus cavalos e queria mostrar-nos a forma como os criava e os ensinava. Dizia-me ele, que era sempre com mágoa que via sair algum dos seus animais, depois de os ter visto nascer e de durante 3 ou 4 anos ter assistido ao seu crescimento e à evolução das suas qualidades como cavalos treinados para provas desportivas equestres. Mas tinha que os vender para rentabilizar a exploração.
Naquele dia, íamos assistir a um fenómeno natural mas a que os homens da cidade, não estão habituados. Uma égua, que andava “saída”, ia ser montada por um cavalo garanhão.
Num terreiro vedado, assistimos aos jogos de sedução da égua e do crescente entusiasmo do cavalo, perfeitamente visível aos olhos de todos quantos observavam.
A Helena, jovem e bonita mulher criada na quinta desde criança, ali vivia e acompanhava a vida dos cavalos nos mais pequenos pormenores. Por isso, tinha sido nomeada pelo Cor. Ramires como “Tratadora Principal”, cargo complexo que ele não lhe atribuiria se ela não fosse realmente, como era, uma competente especialista na matéria.
Perto de mim, e percebendo a minha crescente concentração na patente excitação daqueles dois animais, disse-me, com uma pequena gargalhada:
- O Sr. Dr. parece que também se está a excitar!...
- Para falar a verdade, você não se engana, Helena... – respondi eu meio a sério meio a brincar, lançando-lhe um olhar provocatório.
A Helena atiçou-me ainda mais, dizendo-me, desta vez em voz baixa para que os outros convidados não ouvissem:
- Só depende da sua vontade Sr. Dr.! Uma palavra sua e far-lhe-ei a vontade com todo o prazer.
Um turbilhão de pensamentos revolteava-me a cabeça. Reuni toda a coragem e disse-lhe:
- Oh Helena, não me provoque! Você já percebeu qual é a minha vontade. Diga-me quando e onde!
Responde-me a Helena:
- Onde? Bem, o sitio é este mesmo, que é o mais adequado. Quanto ao "Quando", pode ser já! A égua, que está cheia de cio, é toda sua, Sr. Dr.!
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»
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