Fica-me sempre a pergunta: quererás tu amar ou quererás tu o medo?
Leio-te atentamente, cuidadosamente; gosto. Como tu, eu também sou viajante; tu visitas cidades e eu visito pessoas: cada pessoa é um Mundo. Um Mundo-Casa. Todos os dias me abrem portas ou janelas; sabes, há pessoas que são castelos e outras que apenas têm hall de entrada; há pessoas que apenas mostram uma divisão e outras que me guiam até aos alicerces; há pessoas que me guardam mas não fecham as janelas para que possa sair quando sentir a hora ou a vontade - já fiz visitas em que acabei trancada, presa como um bicho de estimação: pode ser perigoso visitar pessoas! Há visitas que se repetem, há visitas únicas, há visitas mais curtas que outras, há visitas intermináveis; todas são uma viagem nova, acredita.
Fico sempre aqui, tu percorres quilómetros mas nem sei qual de nós viaja mais longe. Sei que me deixas viajar um pouco em ti e agradeço-te a viagem, meu Mundo cheio de pequenos mundos, cheio. Sim, continuo a ler-te.
27 setembro 2010
26 setembro 2010
Sophia: conto do lago
Poderias ser lago. Eu teria água em mim. Vejo-te na folha que cai e guardo-a na minha mão. Poderias ser vazio e eu saberia nada ser. Vejo-te no vento que sopra um toque de dedos nas minhas costas. Poderias ser revolta e eu saberia serenar. Poderias ser o olhar daquele bicho perdido, manso, de ferida na pata; eu saberia encontrar, eu saberia curar. Vejo-te na areia quente, gosto de te sentir mesmo que escorras, talvez numa ampulheta, talvez nas minhas palmas. Em tempos fui uma lavadeira, parece-me que cantei o teu nome e depois o bordei na roupa fresca e branca, bordei-o de cheiro a sabão. E agora que não sei quem és, como ou quando saberei quem ser?
«Quintas Intenções»
Ficção - Director: Maurício Rizzo - 2008 - Duração: 10 minutos
Neco e Vera, amigos da época de faculdade, reencontram-se numa livraria e não conseguem dialogar com a mesma naturalidade de antes. À medida que o tempo passa, o espectador percebe que nem sempre o que é dito entre eles condiz com o que, de facto, estão a pensar.
Link directo para o filme aqui.
Neco e Vera, amigos da época de faculdade, reencontram-se numa livraria e não conseguem dialogar com a mesma naturalidade de antes. À medida que o tempo passa, o espectador percebe que nem sempre o que é dito entre eles condiz com o que, de facto, estão a pensar.
Link directo para o filme aqui.
25 setembro 2010
Virgens
Eram as palavras ainda por usar
Que se espalhavam
Tais estrelinhas de enfeitar
E as cores das palavras
Eram subtis e cintilantes
Não eram ainda usadas
E escreviam-se pela primeira vez
No início do fogo de artifício
E as palavras fugiam no estrondo
De nunca terem sido usadas
E eram ditas num bulício
Confuso de virgindade.
Poesia de Paula Raposo
_______________________________________
E o Bartolomeu não resiste a oder:
"Ah, a virgindade que me roubaste,
Paula
Quando naquela tarde me puxaste
para dentro da sala de aula
E de um puxão, me atiraste,
para longe, a mala
E já louca de tesão, me arrancaste
da môna, o boné de pala
E numa fúria as calças me rasgaste
Para conseguires tirá-la
E de tão sôfrega te engasgaste
quando te chegou à garganta... a tola!
E, desastrada, não cuidaste
De ver, se me tinhas partido a mola
E nem sequer reparaste
Que depois, andei 2 semanas, sem poder jogar à bola!
Paula... dolce Paola"
Que se espalhavam
Tais estrelinhas de enfeitar
E as cores das palavras
Eram subtis e cintilantes
Não eram ainda usadas
E escreviam-se pela primeira vez
No início do fogo de artifício
E as palavras fugiam no estrondo
De nunca terem sido usadas
E eram ditas num bulício
Confuso de virgindade.
Poesia de Paula Raposo
_______________________________________
E o Bartolomeu não resiste a oder:
"Ah, a virgindade que me roubaste,
Paula
Quando naquela tarde me puxaste
para dentro da sala de aula
E de um puxão, me atiraste,
para longe, a mala
E já louca de tesão, me arrancaste
da môna, o boné de pala
E numa fúria as calças me rasgaste
Para conseguires tirá-la
E de tão sôfrega te engasgaste
quando te chegou à garganta... a tola!
E, desastrada, não cuidaste
De ver, se me tinhas partido a mola
E nem sequer reparaste
Que depois, andei 2 semanas, sem poder jogar à bola!
Paula... dolce Paola"
Perversa
[ao Jota]
Perversas as frases escritas em mim, nas queimadas do meu acaso, nas fúrias das minhas raízes sexuais, primárias, onde os incêndios são vida, flamejante, e em mim se ateiam... nos ateiam... te ateiam... no nu, no poema, que geme e oculta a seiva, que dentro em mim, boceja no calor dos laços negros atados.
Deitada no teu dia a púbis, lateja. Pelos versos, os órgãos em silêncio, onde a carne se distrai vinda de um ponto fogoso. Intensa, com os seus grande dedos. No perder desfavorecido de inocentes, segredos.
Num sorriso te abres, mudo e inebriado, ditoso, perplexo, horizontal. Firme. Imperativo. Caças-me nos quadris húmidos, volumosos, ferozmente, com a tua, nua, flecha alta.
Dói-me o ar fresco, a cada afastamento, arde-me cada voo teu, incerto e fugaz, dento das minhas poesias. O ribombar, a violência,a leveza... e a brancura é ameaçada a cada vergada. Perversa, na paixão devorante, tão forte, tão pura, tão viva, no meu vibrante fôlego, mão a mão, boca a boca, nos raios de um orgasmo, que te ceifam o caule,
onde o pau perde o ouro, duro!
[Blog Vermelho Canalha]
BFF - alerta para a violência doméstica
Video da BFF - Bundesverband Frauenberatungsstellen und Frauennotrufe (o João Pais explicou-nos o que quer dizer - «Agência estatal para aconselhamento e emergências de mulheres» - e assim evitei ir ao Google Translator):
"Milhares de mulheres caem todos os dias em escadas. Acreditas mesmo nisso?"
"Milhares de mulheres caem todos os dias em escadas. Acreditas mesmo nisso?"
24 setembro 2010
Mora aqui!
Foto: Epentesis
É aqui que tudo começa. Aqui te peço que mores. Mora aqui. Bem aqui no meu pescoço. Percorre-o. Arrepia-me e repousa. Afunda-te bem aqui. Enrola com firmeza os meus cabelos nas tuas mãos e mergulha no meu pescoço fazendo-me submergir num mar vasto de sensações que nunca antes conheci. Aqui, neste pequeno espaço de pele habita um baú de sensibilidades que me elevam e afastam da realidade concentrando-me apenas no prazer. Gosto deste pequeno lugar. Tem charme na sua curvatura e esconde um íntimo nevrálgico. É fascinante e seduz-me e seguro-o nas minhas mãos quando beijo e abraço.
Mora aqui.
Do novo
Deixar que alguém que não fazia parte de nós nos entre pela vida adentro é uma maçada, um desafio, uma canseira.
Contar estórias e desfiar factos por vezes demais repetidos como se fossem novidade é estranho, é violento, é algo que dispensaríamos.
Permitir que nos desvendem, que nos leiam, que saibam de nós mais do que queremos dar a conhecer (a bicharada, o método de alinhar livros nas estantes, a decoração da faiança, as Ugg Boots) é aterrorizador.
Verificar que alguém que não conhecíamos bem constitui todo um mundo de coisas novas a descobrir faz-me encolher no casulo, sem que me apeteça sair de lá e, concomitantemente, obriga-me a pôr a cabeça de fora, porque a curiosidade há-de matar-me.
Deixar que alguém que não fazia parte de nós nos entre pela vida, pela casa, pelo modo de estar adentro é algo que me atemoriza. E, no entanto, as borboletas no estômago dizem-me que não me fará mal de maior.
Contar estórias e desfiar factos por vezes demais repetidos como se fossem novidade é estranho, é violento, é algo que dispensaríamos.
Permitir que nos desvendem, que nos leiam, que saibam de nós mais do que queremos dar a conhecer (a bicharada, o método de alinhar livros nas estantes, a decoração da faiança, as Ugg Boots) é aterrorizador.
Verificar que alguém que não conhecíamos bem constitui todo um mundo de coisas novas a descobrir faz-me encolher no casulo, sem que me apeteça sair de lá e, concomitantemente, obriga-me a pôr a cabeça de fora, porque a curiosidade há-de matar-me.
Deixar que alguém que não fazia parte de nós nos entre pela vida, pela casa, pelo modo de estar adentro é algo que me atemoriza. E, no entanto, as borboletas no estômago dizem-me que não me fará mal de maior.
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