14 outubro 2010
Carta ao Viajante (III)
Vim aqui para te adormecer, se falamos é como se nos t(r)ocássemos; tu acordas-me (durmo demais), eu adormeço-te (nunca dormes). Eu leio-te sempre, não o sabias? Tu que falas no meu tom cantado, tu que pontuas com a minha emoção, a ti - não cedi o beijo - beijo todos os dias.
Não te posso curar, queres cegar (o que é aprender o desprendimento senão uma lição de cegueira?) e eu caminho para tocar nos pássaros cegos, os meus dedos nas penas até que me doam e mais ainda. Dormi contigo ontem, beijei-te e sonhei acordada.
Não te vejo e gosto de ti, não estou e caminho a teu lado; gosto da tua viagem e da nossa, Viajante. Um dia, um destes dias, ainda viajarei para ti, serás o cais antes de partirmos separados; nesse dia, porém, já não poderei dizer que te vou conhecer; a nossa viagem a dois já soma incontáveis dias e infinitas linhas das nossas entrelinhas.
Não te posso curar, queres cegar (o que é aprender o desprendimento senão uma lição de cegueira?) e eu caminho para tocar nos pássaros cegos, os meus dedos nas penas até que me doam e mais ainda. Dormi contigo ontem, beijei-te e sonhei acordada.
Não te vejo e gosto de ti, não estou e caminho a teu lado; gosto da tua viagem e da nossa, Viajante. Um dia, um destes dias, ainda viajarei para ti, serás o cais antes de partirmos separados; nesse dia, porém, já não poderei dizer que te vou conhecer; a nossa viagem a dois já soma incontáveis dias e infinitas linhas das nossas entrelinhas.
13 outubro 2010
Erótico – o que é?
Sempre gostei de recorrer ao dicionário para saber o que querem dizer algumas palavras mais difíceis de explicar. E uso uma metodologia muito pessoal, que é a procura de sinónimos em cascata:
Erótico – relativo ao amor sensual ou sexual.
Ora:
Relativo - que se define em relação a outra coisa.
Amor - sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos.
Sensual – lúbrico.
Sexual - referente ao sexo ou aos órgãos reprodutores.
Assim, numa primeira ronda, temos:
Erótico – que se define em relação a outra coisa ao sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos, lúbrico ou referente ao sexo ou aos órgãos reprodutores.
Segunda ronda:
Relação - ligação afectiva ou profissional.
Coisa - tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente.
Sentimento - estado afectivo que tem por antecedente imediato uma representação mental.
Impelir - dirigir com força.
Objecto – coisa material.
Desejo – vontade.
Lúbrico – escorregadio.
Sexo - conjunto de características físicas e funcionais que distinguem o macho da fêmea.
Órgão - instrumento musical de teclado, formado de tubos que recebem o ar por um sistema de foles.
Reprodutor – que reproduz.
Então, temos:
Erótico – que se define em ligação afectiva ou profissional a outra tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente ao estado afectivo que tem por antecedente imediato uma representação mental que nos dirige com força para a coisa material das nossas vontades, escorregadio ou referente ao conjunto de características físicas e funcionais que distinguem o macho da fêmea ou aos instrumentos musicais de teclado, formados de tubos que recebem o ar por um sistema de foles que reproduzem.
Ainda precisamos de limar algumas arestas. Continuemos, portanto:
Afectivo - que revela afeição. Afeição – sentimento de apego e ternura.
Vontade - actividade ou inibição precedida de reflexão e de decisão.
Físico - relativo às leis e aos modos de ser da natureza.
Macho - animal do sexo masculino.
Fêmea - peça com orifício, sulco ou concavidade que recebe outra saliente (macho) para seu complemento, que lhe é introduzida ou encaixada, como em certas dobradiças ou nos colchetes.
Reproduzir - produzir novamente.
Finalmente, podemos concluir:
Erótico – que se define em ligação afectiva ou profissional a outra tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente ao estado que revela sentimento de apego e ternura que tem por antecedente imediato uma representação mental que nos dirige com força para a coisa material das nossas actividades ou inibições precedidas de reflexão e de decisão, escorregadio ou referente ao conjunto de características relativas às leis e aos modos de ser da natureza e funcionais que distinguem o animal do sexo masculino da peça com orifício, sulco ou concavidade que recebe outra saliente (macho) para seu complemento, que lhe é introduzida ou encaixada, como em certas dobradiças ou nos colchetes ou aos instrumentos musicais de teclado, formados de tubos que recebem o ar por um sistema de foles que produzem novamente.
Obrigada, Infopédia da Porto Editora, por me clarificares o que é erótico!
Erótico – relativo ao amor sensual ou sexual.
Ora:
Relativo - que se define em relação a outra coisa.
Amor - sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos.
Sensual – lúbrico.
Sexual - referente ao sexo ou aos órgãos reprodutores.
Assim, numa primeira ronda, temos:
Erótico – que se define em relação a outra coisa ao sentimento que nos impele para o objecto dos nossos desejos, lúbrico ou referente ao sexo ou aos órgãos reprodutores.
Segunda ronda:
Relação - ligação afectiva ou profissional.
Coisa - tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente.
Sentimento - estado afectivo que tem por antecedente imediato uma representação mental.
Impelir - dirigir com força.
Objecto – coisa material.
Desejo – vontade.
Lúbrico – escorregadio.
Sexo - conjunto de características físicas e funcionais que distinguem o macho da fêmea.
Órgão - instrumento musical de teclado, formado de tubos que recebem o ar por um sistema de foles.
Reprodutor – que reproduz.
Então, temos:
Erótico – que se define em ligação afectiva ou profissional a outra tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente ao estado afectivo que tem por antecedente imediato uma representação mental que nos dirige com força para a coisa material das nossas vontades, escorregadio ou referente ao conjunto de características físicas e funcionais que distinguem o macho da fêmea ou aos instrumentos musicais de teclado, formados de tubos que recebem o ar por um sistema de foles que reproduzem.
Ainda precisamos de limar algumas arestas. Continuemos, portanto:
Afectivo - que revela afeição. Afeição – sentimento de apego e ternura.
Vontade - actividade ou inibição precedida de reflexão e de decisão.
Físico - relativo às leis e aos modos de ser da natureza.
Macho - animal do sexo masculino.
Fêmea - peça com orifício, sulco ou concavidade que recebe outra saliente (macho) para seu complemento, que lhe é introduzida ou encaixada, como em certas dobradiças ou nos colchetes.
Reproduzir - produzir novamente.
Finalmente, podemos concluir:
Erótico – que se define em ligação afectiva ou profissional a outra tudo o que existe ou pode existir real ou abstractamente ao estado que revela sentimento de apego e ternura que tem por antecedente imediato uma representação mental que nos dirige com força para a coisa material das nossas actividades ou inibições precedidas de reflexão e de decisão, escorregadio ou referente ao conjunto de características relativas às leis e aos modos de ser da natureza e funcionais que distinguem o animal do sexo masculino da peça com orifício, sulco ou concavidade que recebe outra saliente (macho) para seu complemento, que lhe é introduzida ou encaixada, como em certas dobradiças ou nos colchetes ou aos instrumentos musicais de teclado, formados de tubos que recebem o ar por um sistema de foles que produzem novamente.
Obrigada, Infopédia da Porto Editora, por me clarificares o que é erótico!
Equações
Ela tem
olhos de luz apagados
vestidos de sonhos amarrotados
tecidos feridos de azuis desbotados
ela tem
e quando te deitas no corpo dela
és ninguém.
Juntos estão rasgados, cosidos, remendados
és ninguém
mais um que habita o lugar dos esquecidos
alguém como ela
números perdidos, estranhos numerados
que ela tem
nos olhos de luz apagados.
olhos de luz apagados
vestidos de sonhos amarrotados
tecidos feridos de azuis desbotados
ela tem
e quando te deitas no corpo dela
és ninguém.
Juntos estão rasgados, cosidos, remendados
és ninguém
mais um que habita o lugar dos esquecidos
alguém como ela
números perdidos, estranhos numerados
que ela tem
nos olhos de luz apagados.
Conversa a 1 e Meio
Telefonei para ti e ouvi a tua voz rouca de mulher vivida a contrastar com os sentimentos que emanavas. As tuas palavras escolhidas, de profissional, filtrei-as porque sim, porque assim o desejei e assim o quis ouvir. Talvez porque preferi outra forma, já que o conteúdo era bonito, transmitindo desejo e emoção. Ou era bonito porque o transformei, adulterando a mensagem que tens gravada e pronta, para aquilo que queria ouvir…? Não estou a falar contigo. Podes rever-te nesta prosa mas não estou definitivamente a falar para ti. Este é um sentimento sem partilha, incontrolável e pessoal. Só interessa que te liguei e falei contigo, conseguindo o meu momento, e chega ficar na ilusão de que estavas a falar comigo e não para mim. Não estou a falar contigo… estou apenas a conversar comigo.
12 outubro 2010
Viva a nossa Miss Joana Well!
O nosso amigo Luís Gaspar comunicou à Miss Joana Well:
"a tua poesia acaba de entrar no “Palavra d’Ouro” da Truca, lugar onde vão parar os poetas lidos no Estúdio Raposa que merecem “medalha”.»
Luís Gaspar e Miss Joana Well, mereceis ambos uma medalha!
"a tua poesia acaba de entrar no “Palavra d’Ouro” da Truca, lugar onde vão parar os poetas lidos no Estúdio Raposa que merecem “medalha”.»
Luís Gaspar e Miss Joana Well, mereceis ambos uma medalha!
Baralhações
Olhou para ele e percebeu que, no momento em que escolhessem, simultaneamente, deixar de lado o medo de perder o que tinham, a vida de ambos mudaria para sempre.
E era tão bom o que tinham como o que poderiam ter. Ou talvez não, por toda uma série de considerações que ela repetia mentalmente, como uma cábula.
Ele perguntou-lhe se estava bem e porque estava tão calada.
Ela abriu uma excepção e devolveu-lhe o toque na mão. Sorriu-lhe e sacudiu o cabelo, como quem volta a pôr os pensamentos em ordem, enquanto lhe assegurava que era cansaço (e se assegurava de que, para já, não tinha de escolher nada).
E era tão bom o que tinham como o que poderiam ter. Ou talvez não, por toda uma série de considerações que ela repetia mentalmente, como uma cábula.
Ele perguntou-lhe se estava bem e porque estava tão calada.
Ela abriu uma excepção e devolveu-lhe o toque na mão. Sorriu-lhe e sacudiu o cabelo, como quem volta a pôr os pensamentos em ordem, enquanto lhe assegurava que era cansaço (e se assegurava de que, para já, não tinha de escolher nada).
Zango-me com quê? Com qual das tuas mentiras me zango mais? Com qual das infidelidades? Com o quê de ti me zango mais? Com que parte de ti posso não me zangar?
Qual das tuas mentiras confronto primeiro? Qual a que primeiro tento vencer? Qual a que primeiro posso enterrar, enterrar viva, para que sofra?
Que imagem tenho que apagar primeiro dos meus olhos? Que frases apago primeiro dos meus ouvidos? Que carne te arranco para aplacar a minha dor?
Em que sorriso teu posso acreditar, em que orgasmo? Qual o orgasmo que te vou negar em troca dos que não me deste? Qual o sorriso em que cravarei as unhas para que morra nos teus lábios mentirosos? Que parte da minha alma me roubaste para que, tão zangada, ainda te ame?
Como me posso vingar se cada punhal que te cravo na carne faz sangrar a minha?
Qual das tuas mentiras confronto primeiro? Qual a que primeiro tento vencer? Qual a que primeiro posso enterrar, enterrar viva, para que sofra?
Que imagem tenho que apagar primeiro dos meus olhos? Que frases apago primeiro dos meus ouvidos? Que carne te arranco para aplacar a minha dor?
Em que sorriso teu posso acreditar, em que orgasmo? Qual o orgasmo que te vou negar em troca dos que não me deste? Qual o sorriso em que cravarei as unhas para que morra nos teus lábios mentirosos? Que parte da minha alma me roubaste para que, tão zangada, ainda te ame?
Como me posso vingar se cada punhal que te cravo na carne faz sangrar a minha?
Medeia - blog [Infidelidades]
Passado
Já não é sonho:
voltámos.
Quando se pensam os sonhos,
eles deixam que nós voltemos
e deixam de ser sonhos.
São nada.
Voltamos.
Quando voltamos, os sonhos
perdem-se nas noites
e são passados sem luz.
É bom sonhar:
pensamos que eles nos deixam
voltar,
mas eles acabam perdidos
e mortos;
sem luz, são passado.
Poesia de Paula Raposo
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