24 outubro 2010

Pulsação

Os olhos escondidos na gaveta dos pensamentos, eles passeiam imagens das ruas e de guardar a mão na tua, apertar-te com força um dedo, tu já não estás aqui, contavas-me de ficar e dos beijos e das estrelas e dos milagres no entardecer, os passos quase ofendidos com saudades do chão, o silêncio que os dedos podiam tocar, novos pianistas, a tua barba por fazer, o cheiro de seres tu, tu já não estás aqui, os retratos do teu mundo largados no meu colo, querias ouvir-me o que mais ninguém te soube dizer, instantâneos desfocados, pouca cor à tua volta via eu lá fora, agarrava-te ali e tudo, tudo, tudo era, foi, tu já não estás aqui, rias-te e eu podia viver, o teu olhar acordava as lágrimas bonitas, sentias-me quase tudo e eu a tua roupa, e o teu cansaço na minha cama, caías para eu o combater, arrasta-o até mim que eu mato-o com os lençóis, abraço-te e posso morrer assim, assim, aqui, tu já não estás aqui, dou-te as faces rosadas, o banho tomado, os pés tão pequenos, dou-te o vibrato, o vento e a vida do meu sonho, quando falo mordo nas palavras entre espaços, se calhar magoei-as, cuidavas de mim e afinal eu não cuidei de ti, abraça-me, abraça-me, abraça-me só mais uma vez, tu já não estás aqui. Eu também não.

«O ponto G (assim designado em homenagem ao ginecologista alemão Dr. Grafenberg, que o localizou)» - por Rui Felício

Deitada de lado, de costas para o marido, preparando-se para adormecer, a Sandra fingia não sentir o leve deslizar da ponta do dedo dele nas suas costas nuas, quase sem lhe tocar, descendo devagar desde o pescoço até à cintura e voltando a subir até perto dos ombros.
Gradualmente a pressão do dedo ia aumentando. A pouco e pouco, já não era só um dedo mas toda a mão. Sempre em silêncio...
Ouvia a respiração do marido aumentar de cadência. Ela própria abafava os gemidos que lhe começavam a querer sair da garganta. Já não conseguia controlar as contracções do seu corpo que procurava disfarçar para prolongar o prazer daqueles momentos de fingimento.
Arrepiou-se quando sentiu o sexo do marido latejar, já encostado às suas nádegas. Passou disfarçadamente a mão pelos mamilos endurecidos, prolongando a imobilidade, o fingimento.
Mas não resistiu muito mais, empurrou o corpo contra o do marido, encaixou-se nele, passou o braço esquerdo para trás e encheu a mão com o pénis duro que a enlouquecia. Ele abraçou-a por trás, acariciou-lhe as mamas, beijou-lhe a nuca, a orelha, sussurrou-lhe o nome...
Soltou um gemido quando sentiu os dedos dele penetrarem nela e explorarem a vagina inchada e molhada. Voltou-se, flectiu e abriu as pernas, puxando a cabeça do marido para o seu tesouro.
Gritou de prazer quando lhe sentiu a língua, primeiro a lamber, depois a invadir-lhe as entranhas, ao mesmo tempo que ela enchia a boca com aquele pénis levantado, tumefacto, que chupava em movimentos cada vez mais rápidos, num crescente frenesim.
Ele sabia onde devia tocar-lhe para a levar à loucura, ao descontrole total... O orgasmo que a fazia alcançar o céu surgia quando ele lhe tocava com os dedos no Ponto G.
O que ele não sabia era que a Sandra, sua mulher, obtinha um orgasmo ainda mais intenso quando explorava e tocava naquilo a que ela própria, de forma imodesta, baptizou de Ponto S, em homenagem ao seu próprio nome.
O Ponto S era o cartão de crédito do marido, cujo PIN ela um dia descobrira sem ele desconfiar...

Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»

Talibanismo, falta de respeito, vacas sagradas, protecção dos animais ?

"Um cartoon que mostra a família real dinamarquesa a participar numa orgia levou ao cancelamento da exposição dos seus autores, o duo composto por Jan Egesborg e Pia Bertelsen, do colectivo de artistas dinamarqueses Surrend."

O gajo mais contente é o da ovelha. Acho que foi isso que irritou toda a gente pois não é lá muito abonatório para as dinamarquesas.

A transformação de uma geisha vista por Matthew Allard

Grandes males...

crica para visitares a página John & John de d!o

23 outubro 2010

O Quarto do Vazio - Memória da Paixão de Júlia

JÚLIA: Olha... Lembras-te de mim? A Júlia que passeia letras...
Ele: Como poderia não lembrar? Sublinhaste o desenho...
JÚLIA: Eu só pinto. No inesgotável quadro que cresce de ilusões...
Ele: ...beijando, olhando extasiada... arrebatada...
JÚLIA: És um amante...
Ele: ... és sensual, doce...
JÚLIA: ... um amante terno...
Ele: Deixaste aqui uma sombra viva...
JÚLIA: Eu gosto da sombra... e do movimento do corpo... e do ritmo...
Ele: ... a silhueta que criaste naquele espaço. O anoitecer... a lua a aparecer... o uivo dos nossos corpos enroscados...
JÚLIA: ... e as palavras a sobrevoar...
Ele: ... metade ouvidas, metade sentidas...
JÚLIA: ... e outras que nem damos por serem nossas...
Ele: ... e os nossos corpos a libertarem as almas que nos observavam...
JÚLIA: O corpo sem entender, chamou-lhes fantasmas...
Ele: ... ao som daquela música... ouvias a música?
JÚLIA: Na verdade estava completamente surda...
Ele: Eu só ouvia a música... eram os meus olhos que só olhavam para interiores...
JÚLIA: ... sombras das cores...
Ele: ... cores do vento ao brilho da Lua...
JÚLIA: ... lua lanterna que brilha e ilumina corpos celestes...
Ele: ... corpos que pairavam...
JÚLIA: ... pairavam nas estrelas. Lembras-te das estrelas?
Ele: Lembro-me da estrela interior que os meus olhos cegos conseguiam ver.
JÚLIA: Os teus olhos não estavam cegos... Olhavam para os meus...
Ele: Mas não viam... apenas sentiam...
JÚLIA: Como eu não te ouvia... só te sentia em mim.

A procisSão das velas

Descoberta viva

Podemos encher páginas
e páginas em branco
e alimentar uma ideia
- pequena -
como se fosse
uma descoberta viva.

As pequenas ideias
e as páginas em branco
flutuam em sintonia,
no silêncio - desmascarado -
de uma viva descoberta:
este é o lado errado de nós.

Poesia de Paula Raposo

O amor é uma coisa linda!



Cena à varanda


1 página

oglaf.com

22 outubro 2010

O Botão

– Sabe do que eu gostava, Alice?
– Sabe?!
– Sabes do que eu gostava?
– Sim, assim está melhor. Do quê?
– Se calhar, vai… vais levar a mal.
– Diga, homem. Se não disser…
– É que eu gostava muito.
– O que virá daí…
– Se calhar ficas aborrecida.
– É provável…
– Que fiques aborrecida?
– Sim, é muito provável, sr. Cruz, é que o senhor ainda não me disse nada e eu já estou a ficar aborrecida.
– Ah!… Queres dizer que, seja como for, já não me escapo?
– Mas o senhor quer escapar?
– Não, não quero.
– Então o quer, sr. Cruz?… Olhe que o seu tempo está a acabar.
– Ao tempo que o meu tempo está a acabar.
– Eu não estava a falar desse tempo, sr. Cruz.
– Eu calculei… Está quase na hora, não é?
– É. E estou quase a acabar e o senhor ainda não me disse o que quer.
– Não levas a mal?
– Hum… mas o que é que irá sair daí? Devo ficar preocupada?
– Não, preocupada não, não há razões para isso.
– Menos mal… Pode-se virar para dobrarmos as pernas.
– Para dobrarmos não, para eu dobrar.
– Só se for hoje, seu preguiçoso!
– Mas as pernas são minhas.
– São, quanto a isso não há dúvidas, mas como sou eu que as dobro.
– Isso é verdade… Podes-me pôr a almofada debaixo da cabeça?
O homem virou-se de barriga para cima, a mulher pôs-lhe a almofada debaixo da cabeça e, sorrindo, dirigiu-se aos pés da cama, onde lhe agarrou os pés.
– Vamos lá! Vou-lhe só levantar e segurar os pés e o sr. Cruz vai tentar dobrar as pernas.
– Ah…
– Força!
– Mais?
– Baixe a cabeça… Encoste a cabeça à almofada.
– Eu…
– Boa! Está a ver…
– Agora não.
– Outra vez. Estique. Vamos lá. Agora não? Agora não o quê?
– Não estou a ver.
– Boa! Dobre. Dobre. Está quase, está quase… Não estou a perceber nada, sr. Cruz. Não está a ver o quê?
– Nada. Não estou a ver nada.
A mulher segurou-lhe os tornozelos e empurrou-lhe suavemente as pernas, dobrando-as. Levantou a cabeça e olhou para a cabeça do homem pousada na almofada. O homem tinha os olhos fixos no tecto e uma estranha expressão de resignada tristeza. Em silêncio, ela flectiu-lhe as pernas mais algumas vezes.
– Já está – disse, terminando o exercício e esticando-lhe as pernas, enquanto se endireitava. Olhou para os pés do homem e, quando levantava a cabeça, espantou-se com a clara visão dos seus volumosos seios apertados no soutien rendado branco entre o tecido da bata que tinha um botão aberto a mais e, repentinamente, compreendeu o sentido da conversa do homem e a expressão amargurada com que ele contemplava o tecto.
Nesse momento, o homem levantou a cabeça e os olhos de ambos cruzaram-se, antes dos deles descaírem, por um instante apenas, para o acidentalmente generoso decote da fisioterapeuta.
– E, afinal… – a mulher decidiu dar a entender que não tinha percebido o olhar guloso do velho artrítico e, enquanto ajeitava a bata e fechava o botão, tornou ao desejo inconfessado do homem: – O sr. Cruz não me disse o que queria.
Injuriando em silêncio os dedos ágeis da mulher que fechavam o relapso botão da bata e lhe trancavam a felicidade por trás de um pedaço de tecido, o velho sr. Cruz murmurou:
– Fica para a semana, Alice. Fica para a semana.

Silêncio

Trago o corpo de silêncio vestido
agora a espera pode esperar
que a pele vestida de silenciar
é incêndio desfeito em tecido.
Porque trago o eu do corpo perdido,
trago o corpo do meu corpo despido
agora o sono pode adormecer
que a pele vestida de tanto ser
é desejo no teu corpo cosido
e trago o corpo de silêncio vestido.


E tu, já consultaste o diciOrdinário ilusTarado hoje?

A cultura é uma coisa muito linda!
E ser ordinário não significa ser inculto!
Que o diga a nossa membrana Jacky, que mostra ao mundo o que anda a ler: