09 novembro 2010
Ternura
Explica o Bartolomeu, no cocoruto da sua sapiência infinita:
"A Nokia não pára!
Este é o último modelo da marca e chama-se «não se fala com a boca cheia».
Este modelo tem a particularidade de aumentar de tamanho, conforme a conversa se for desenrolando.
O modelo descarrega a bateria ao fim de vários minutos de conversação. Contudo, após um breve período em standby, a bateria readquire carga e o aparelho volta a ficar operacional.
É lavável e não apresenta dificuldades de recepção.
Aceitam-se encomendas... neste representante."
08 novembro 2010
A propósito de Justiça, as unhas de gel
Tenho trabalho que nunca mais acaba pela frente.
Dezenas e dezenas de textos sobre a Justiça em Portugal para ler (a culpa é minha, quem impôs o tema fui eu) e a dor de cabeça aumenta, creio que o congestionamento nasal está armado em cerebral.
Resolvo aproveitar o facto de estar desprovida do sentido do cheiro para mudar a cor das unhas. [Esta estação, e depois de dois Invernos sem cor, resolvi voltar aos vernizes, sendo que me divirto entre o azul-quase-preto da Dior, o Rose Confidentiel e o Paradoxal da Chanel e toda a paleta da Risqué, Andrea e Essence (esta última, descoberta recente no mundo dos vernizes; como as anteriores, se a qualidade for média, compensa sempre o preço rasteirinho).]
E achei por bem registar, enquanto o paracetalmol faz efeito e não faz, que detesto unhas de gel. Quase tanto como a french manicure na unhaca do pé (para fazer o risquinho branco, há que deixar crescer a dita quase até ao ponto-ave-de-rapina). Acho nojento o formato quadrado, o comprimento exorbitante, o volume que dá. Duvido que se consiga apertar o botão dos jeans, com aquelas próteses, muitas vezes sujeitas à aplicação comulativa de uns brilhantes-Barbie que não lembram ao diabo.
É feio, piroso, vulgar, não ficaria bem nem à Kate Moss (que nem pedrada as usaria, aposto). Dou voltas à cabeça na tentativa de perceber o que raio leva uma mulher a pagar por aqueles apliques assustadores. Nada supera uma unha nossa, curta (se está tu-cá-tu-á com a linha do sabugo, saquem do corta-unhas, por favor), pintada ou natural.
Do mesmo modo, e não me venham com merdas, não há estilo que resista a extensões no cabelo, sapatos de cunha e batons rosa choque.
Pronto, agora que já desocupei o cérebro de tudo quanto era interessante e me andava a roer há tanto tempo, vamos lá voltar ao trabalho, que é para isso que me pagam.
Dezenas e dezenas de textos sobre a Justiça em Portugal para ler (a culpa é minha, quem impôs o tema fui eu) e a dor de cabeça aumenta, creio que o congestionamento nasal está armado em cerebral.
Resolvo aproveitar o facto de estar desprovida do sentido do cheiro para mudar a cor das unhas. [Esta estação, e depois de dois Invernos sem cor, resolvi voltar aos vernizes, sendo que me divirto entre o azul-quase-preto da Dior, o Rose Confidentiel e o Paradoxal da Chanel e toda a paleta da Risqué, Andrea e Essence (esta última, descoberta recente no mundo dos vernizes; como as anteriores, se a qualidade for média, compensa sempre o preço rasteirinho).]
E achei por bem registar, enquanto o paracetalmol faz efeito e não faz, que detesto unhas de gel. Quase tanto como a french manicure na unhaca do pé (para fazer o risquinho branco, há que deixar crescer a dita quase até ao ponto-ave-de-rapina). Acho nojento o formato quadrado, o comprimento exorbitante, o volume que dá. Duvido que se consiga apertar o botão dos jeans, com aquelas próteses, muitas vezes sujeitas à aplicação comulativa de uns brilhantes-Barbie que não lembram ao diabo.
É feio, piroso, vulgar, não ficaria bem nem à Kate Moss (que nem pedrada as usaria, aposto). Dou voltas à cabeça na tentativa de perceber o que raio leva uma mulher a pagar por aqueles apliques assustadores. Nada supera uma unha nossa, curta (se está tu-cá-tu-á com a linha do sabugo, saquem do corta-unhas, por favor), pintada ou natural.
Do mesmo modo, e não me venham com merdas, não há estilo que resista a extensões no cabelo, sapatos de cunha e batons rosa choque.
Pronto, agora que já desocupei o cérebro de tudo quanto era interessante e me andava a roer há tanto tempo, vamos lá voltar ao trabalho, que é para isso que me pagam.
Lágrimas Alheias
Os teus olhos que por momentos, manchados de reproduções do passado, duras e tristes... por não egoístas doem a mais alguém...
Alguém que habituou o olhar ao teu, terno e doce, feliz e resolvido. A quem dói a tua dor relembrada.
Não, não é costume e por isso choca. Debilita a acção de quem vê e ouve.
Privilegia pela confiança do desabafo aleatório, mas... não te sei responder. Nem tão pouco afagar. Não percebo como se limpam lágrimas... nunca aprendi...
Apenas integro. Assumo parte como que por magia de sentimento fraterno, inexplicável, profundo.
Não creias que sejam lágrimas esquecidas.
São lágrimas... são pedras... imagens pesadas de memória negra, que por não esquecidas inspiram palavras a alguém. Que por não esquecidas continuam a doer.
São desabafos da passagem.
Se calhar ouvir chega... Se calhar estar lá limpam as lágrimas de dentro... não sei, não sei mesmo.
Continuo a ouvir. Continuo a sentir. Continuarei a estar.
Alguém que habituou o olhar ao teu, terno e doce, feliz e resolvido. A quem dói a tua dor relembrada.
Não, não é costume e por isso choca. Debilita a acção de quem vê e ouve.
Privilegia pela confiança do desabafo aleatório, mas... não te sei responder. Nem tão pouco afagar. Não percebo como se limpam lágrimas... nunca aprendi...
Apenas integro. Assumo parte como que por magia de sentimento fraterno, inexplicável, profundo.
Não creias que sejam lágrimas esquecidas.
São lágrimas... são pedras... imagens pesadas de memória negra, que por não esquecidas inspiram palavras a alguém. Que por não esquecidas continuam a doer.
São desabafos da passagem.
Se calhar ouvir chega... Se calhar estar lá limpam as lágrimas de dentro... não sei, não sei mesmo.
Continuo a ouvir. Continuo a sentir. Continuarei a estar.
7º aniversário do blog e 14º Encontra-a-Funda
No dia 8 de Novembro de 2010 faz exactamente 7 anos que aqui publiquei o primeiro post.
Desde esse dia 8 de Novembro de 2003, já quase 10.000 posts foram publicados. Todos os dias, sem qualquer excepção. Inicialmente apenas por mim mas, com o passar do tempo, com a colaboração de membros e membranas (50, neste momento) que aceitaram o meu convite e a quem auto-denominamos a fundiSão.
Também desde o início do blog, temos organizado encontros semestrais das visitas e dos visitos do blog: os Encontra-a-Funda. São momentos únicos de convívio, cultura, partilha e diversão.
Está na altura de fazermos o 14º Encontra-a-Funda. Desta vez, a minha ideia é fazer um Visita-a-Funda: mostrar a minha colecção de arte erótica àqueles que têm vindo a acompanhar e a apoiar o blog. Afinal, o objectivo primordial do blog é divulgar a minha colecção e servir de apoio à minha busca de uma parceria para criar um espaço aberto ao público dedicado à arte erótica.
Os detalhes, as datas disponíveis e a forma de inscrição estão na página do o 14º Encontra-a-Funda.
07 novembro 2010
Quase um poema
Quando me encontrares
deixas-me ser
o teu quase-poema?
Quando me perguntares
deixas-me responder
como breve, leve, chama?
Sabes que os poemas
são tão tímidos
escondidos nos dedos
mas tudo de si dizem
aninhados nas metáforas?
Sabes que os poemas
são tão frágeis
mas tão férteis
quando crescem
na força das palavras?
Quando me procurares
deixa-me acontecer
em versos rimados com alma.
________________________
O Fin acha (e eu concordo) que "com umas vírgulas, umas linhas mais, e imagino o Carlos do Carmo a cantá-lo, como a este"
Depois de ler Joana e ao som de Carlos do Carmo saiu isto à Laura:
"No teu quase poema
existe a força de um olhar
que vê para além do horizonte,
que abraça ruas, rios gentes e pontes!
No teu quase poema
me deixo adormecer como criança
para acordar sem medo nas palavras
com que fazes de mim chama e esperança!
No teu quase poema
me aninho à procura daqueles dedos
onde perco meu corpo e seus segredos
para gritar sem medo o renascer!
No teu quase poema
sou Mulher!"
deixas-me ser
o teu quase-poema?
Quando me perguntares
deixas-me responder
como breve, leve, chama?
Sabes que os poemas
são tão tímidos
escondidos nos dedos
mas tudo de si dizem
aninhados nas metáforas?
Sabes que os poemas
são tão frágeis
mas tão férteis
quando crescem
na força das palavras?
Quando me procurares
deixa-me acontecer
em versos rimados com alma.
________________________
O Fin acha (e eu concordo) que "com umas vírgulas, umas linhas mais, e imagino o Carlos do Carmo a cantá-lo, como a este"
Depois de ler Joana e ao som de Carlos do Carmo saiu isto à Laura:
"No teu quase poema
existe a força de um olhar
que vê para além do horizonte,
que abraça ruas, rios gentes e pontes!
No teu quase poema
me deixo adormecer como criança
para acordar sem medo nas palavras
com que fazes de mim chama e esperança!
No teu quase poema
me aninho à procura daqueles dedos
onde perco meu corpo e seus segredos
para gritar sem medo o renascer!
No teu quase poema
sou Mulher!"
«Amor Utópico» - por Rui Felício
Envolveu sem pressa as curvas generosas do seu corpo com a toalha macia de feltro.
Em movimentos suaves como carícias, aquela mulher voluptuosa ia secando a pele húmida, convidativa, nos mais recônditos lugares, com uma destreza que jamais nenhum amante seria capaz de fazer.
Fechou a janela para impedir que o vapor quente da água se escapasse da casa de banho.
Olhou o espelho que reflectia a sua imagem desde o rosto até um pouco abaixo da cintura.
A sua curiosidade feminina levou-a a deixar cair a toalha e observou-se demoradamente...
Com os olhos fixos no espelho perguntou-se mentalmente a si mesma o que procurava ela.
Algum enigmático segredo se mantinha oculto e inexplicado. Uma mulher era apenas aquilo que ela estava a ver? Não seria necessário redefinir as concepções de pecado, de amor, de humanismo, de vida?
Alguma célula mal concebida não estaria em falta ou perdida por um erro de paralaxe que tudo distorcia? Que estranho que ela se sentisse apenas e só aquilo que via!
A ígnea neblina do vapor de água ia tornando a imagem no espelho menos nítida. Sacudiu a cabeça, abandonou estes pensamentos e procurou os chinelos. Claro que não há mais nada, pensou conformada. Virou as costas ao espelho e saiu da casa de banho...
O espelho quis chamá-la, explicar-lhe. Ela não era só o que ele lhe mostrava na sua gelada e estática postura. Aquele corpo seria diferente, quando ela percebesse a verdade mais irrefutável. A verdade do amor que ela nunca teve...
Desgraçadamente ele sofre o seu idílio sem esperança, a indiferença daquela bela mulher dói-lhe, mas a sua rigidez não a atrai. Todos os dias a vê, nua, apetecível, mas nada pode fazer. Será que ela não percebe que não é ele que a reflecte mas sim ela que o reflecte a ele?
Se por dentro da sua superfície brilhante circulassem vasos sanguíneos, o espelho teria empalidecido quando, subitamente, a viu regressar à casa de banho de onde tinha acabado de sair. Teria ela percebido os seus pensamentos? Teria ouvido os seus sussurros? Teria compreendido o seu drama, o seu amor por ela? Inquietou-se, receoso mas esperançado.
Ouviu-a murmurar enquanto desligava o interruptor, que seria certamente por ela se esquecer tantas vezes de apagar a luz da casa de banho que a conta da electricidade era sempre tão alta no fim do mês.
Deixou o espelho na escuridão. Sem a sua imagem, sem pensamentos românticos, sem utopias, ele nada poderia agora reflectir. Tornou-se nada...
Voltou a ser uma massa fixa à parede sem objectivos, sem significado, como um peito sem amor.
Foi então que todas as pequenas gotas do vapor de água começaram a deslizar pela face nua do espelho.
Como lágrimas...
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»
Em movimentos suaves como carícias, aquela mulher voluptuosa ia secando a pele húmida, convidativa, nos mais recônditos lugares, com uma destreza que jamais nenhum amante seria capaz de fazer.
Fechou a janela para impedir que o vapor quente da água se escapasse da casa de banho.
Olhou o espelho que reflectia a sua imagem desde o rosto até um pouco abaixo da cintura.
A sua curiosidade feminina levou-a a deixar cair a toalha e observou-se demoradamente...
Com os olhos fixos no espelho perguntou-se mentalmente a si mesma o que procurava ela.
Algum enigmático segredo se mantinha oculto e inexplicado. Uma mulher era apenas aquilo que ela estava a ver? Não seria necessário redefinir as concepções de pecado, de amor, de humanismo, de vida?
Alguma célula mal concebida não estaria em falta ou perdida por um erro de paralaxe que tudo distorcia? Que estranho que ela se sentisse apenas e só aquilo que via!
A ígnea neblina do vapor de água ia tornando a imagem no espelho menos nítida. Sacudiu a cabeça, abandonou estes pensamentos e procurou os chinelos. Claro que não há mais nada, pensou conformada. Virou as costas ao espelho e saiu da casa de banho...
O espelho quis chamá-la, explicar-lhe. Ela não era só o que ele lhe mostrava na sua gelada e estática postura. Aquele corpo seria diferente, quando ela percebesse a verdade mais irrefutável. A verdade do amor que ela nunca teve...
Desgraçadamente ele sofre o seu idílio sem esperança, a indiferença daquela bela mulher dói-lhe, mas a sua rigidez não a atrai. Todos os dias a vê, nua, apetecível, mas nada pode fazer. Será que ela não percebe que não é ele que a reflecte mas sim ela que o reflecte a ele?
Se por dentro da sua superfície brilhante circulassem vasos sanguíneos, o espelho teria empalidecido quando, subitamente, a viu regressar à casa de banho de onde tinha acabado de sair. Teria ela percebido os seus pensamentos? Teria ouvido os seus sussurros? Teria compreendido o seu drama, o seu amor por ela? Inquietou-se, receoso mas esperançado.
Ouviu-a murmurar enquanto desligava o interruptor, que seria certamente por ela se esquecer tantas vezes de apagar a luz da casa de banho que a conta da electricidade era sempre tão alta no fim do mês.
Deixou o espelho na escuridão. Sem a sua imagem, sem pensamentos românticos, sem utopias, ele nada poderia agora reflectir. Tornou-se nada...
Voltou a ser uma massa fixa à parede sem objectivos, sem significado, como um peito sem amor.
Foi então que todas as pequenas gotas do vapor de água começaram a deslizar pela face nua do espelho.
Como lágrimas...
Rui Felício
Blog «Encontro de Gerações do Bairro Norton de Matos»
Cuidado! Eles "andem" aí!
E pronto, está encontrada a razão do declínio ocidental, das hemorróides e até do défice orçamental.
06 novembro 2010
Cartas
Nesse cais onde és ardina de ilusões e poeta de corações, passo eu, de quando em vez.
Nesse cais onde as letras são direitas mas as linhas divergentes, dúbias, repouso eu por vezes.
Nesse cais onde as cartas têm remetente e nada mais, indaga-se a direcção do envio.
Por vezes esqueço. Esqueço que as tuas cartas não têm destinatário e recebo-as, leio-as, fico com elas para memória futura.
Enfim, as minhas cartas também só conhecem o remetente. Por vezes até eu só conheço o remetente, e por vezes até me são devolvidas.
De quando em vez, neste marco de correio, lá aparece uma resposta... Também não escrevo muitas cartas. E como não tenho o hábito de escrever a mais de três ou quatro pessoas, as respostas também não podem abundar.
Quando chegam, essas respostas claro, vou buscá-las àquele ou a outro cais. Mas como não esperei que viessem ter ao meu marco, não sei exactamente se me eram dirigidas... e habitualmente até as devolvo. Mas quando as leio, descubro imediatamente as próximas perguntas para fazer, as aventuras para contar, os delírios, as ternuras e até os desabafos.
Às vezes as cartas riem, às vezes choram... Por vezes até gritam.
E nesses gritos de mudança descubro a profecia do admirável... mas também da desordem!
Nesse cais onde as letras são direitas mas as linhas divergentes, dúbias, repouso eu por vezes.
Nesse cais onde as cartas têm remetente e nada mais, indaga-se a direcção do envio.
Por vezes esqueço. Esqueço que as tuas cartas não têm destinatário e recebo-as, leio-as, fico com elas para memória futura.
Enfim, as minhas cartas também só conhecem o remetente. Por vezes até eu só conheço o remetente, e por vezes até me são devolvidas.
De quando em vez, neste marco de correio, lá aparece uma resposta... Também não escrevo muitas cartas. E como não tenho o hábito de escrever a mais de três ou quatro pessoas, as respostas também não podem abundar.
Quando chegam, essas respostas claro, vou buscá-las àquele ou a outro cais. Mas como não esperei que viessem ter ao meu marco, não sei exactamente se me eram dirigidas... e habitualmente até as devolvo. Mas quando as leio, descubro imediatamente as próximas perguntas para fazer, as aventuras para contar, os delírios, as ternuras e até os desabafos.
Às vezes as cartas riem, às vezes choram... Por vezes até gritam.
E nesses gritos de mudança descubro a profecia do admirável... mas também da desordem!
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