06 novembro 2010

Cartas

Nesse cais onde és ardina de ilusões e poeta de corações, passo eu, de quando em vez.
Nesse cais onde as letras são direitas mas as linhas divergentes, dúbias, repouso eu por vezes.
Nesse cais onde as cartas têm remetente e nada mais, indaga-se a direcção do envio.
Por vezes esqueço. Esqueço que as tuas cartas não têm destinatário e recebo-as, leio-as, fico com elas para memória futura.
Enfim, as minhas cartas também só conhecem o remetente. Por vezes até eu só conheço o remetente, e por vezes até me são devolvidas.
De quando em vez, neste marco de correio, lá aparece uma resposta... Também não escrevo muitas cartas. E como não tenho o hábito de escrever a mais de três ou quatro pessoas, as respostas também não podem abundar.
Quando chegam, essas respostas claro, vou buscá-las àquele ou a outro cais. Mas como não esperei que viessem ter ao meu marco, não sei exactamente se me eram dirigidas... e habitualmente até as devolvo. Mas quando as leio, descubro imediatamente as próximas perguntas para fazer, as aventuras para contar, os delírios, as ternuras e até os desabafos.
Às vezes as cartas riem, às vezes choram... Por vezes até gritam.
E nesses gritos de mudança descubro a profecia do admirável... mas também da desordem!

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Uma por dia tira a azia