Rodrigo era um homem educado, bem vestido, simpático.
Tinha a obsessão da leitura. Fossem jornais, revistas, livros, ou até um simples folheto publicitário. Não desperdiçava nenhum momento disponível para ler o que tivesse à mão, estivesse a andar de metro, a caminhar na avenida, a almoçar, a jantar, a tomar a bica, sentado no sofá, na sanita, deitado na cama, em qualquer lugar.
Na hora do almoço, comia rapidamente uma sandes e enfiava-se na Biblioteca do Campo Grande para devorar mais umas páginas de algum livro que andasse ali a ler.
Foi justamente nessa biblioteca que começou a ler as “ Mil Posições do Kamasutra “, um livro grosso que lhe daria para muito tempo de leitura. A Luisa, empregada da biblioteca, começou a simpatizar com ele e a habituar-se à sua presença diária. Reparou que o Rodrigo, depois de ler e reler aquele livro por duas vezes ao longo dos últimos dias, estava de novo a reiniciar a sua leitura, demorando-se mais tempo nesta ou naquela página que lhe suscitaria, por certo, algum especial interesse.
A Luisa já não disfarçava o fascínio que o Rodrigo exercia sobre ela e começou a imaginar-se sozinha com ele a experimentarem juntos, as posições que o livro ensinava. O desejo dela crescia de dia para dia até que, incapaz de o esconder por mais tempo, encheu-se de coragem, dirigiu-se ao Rodrigo e convidou-o para jantar em sua casa.
Prometeu-lhe que levaria o livro que ele andava a ler.
Combinaram encontrar-se em casa da Luisa, ali para os lados de Benfica, na noite do dia seguinte.
À hora combinada o Rodrigo bateu à porta, a Luisa mandou-o entrar para a sala onde já estava a mesa posta com duas velas e uma garrafa de espumante envolta em gelo.
Com um sorriso educado, o Rodrigo perguntou-lhe se tinha trazido o livro e ela entregou-lho, dirigindo-se depois à cozinha para ir buscar o jantar esmeradamente já preparado.
Durante o jantar, o Rodrigo passou o tempo a ler. Por uma questão de educação, ia respondendo laconicamente, à Luisa, com monossílabos e meios sorrisos.
No fim, ela pegou-lhe na mão e arrastou-o docemente para a cama, ajudando-o a despir-se enquanto ele continuava com a leitura.
Deitaram-se, abraçou-o por trás, beijou-o de leve no pescoço e nas costas, insinuando o seu corpo contra o dele.
Louca de desejo, sussurrou-lhe ao ouvido que já estava toda molhada.
O Rodrigo, com o livro numa das mãos, estendeu o braço, afastou-lhe suavemente as cuecas e passou os dedos no sexo molhado da Luisa.
Voltou à leitura e, pouco depois, estendeu de novo o braço para trás repetindo o toque dos dedos na rachinha inchada da Luisa, fazendo-a estremecer, aumentando-lhe o desejo intenso que a consumia. A seguir, regressava à leitura...
A Luisa disse-lhe, com a voz rouca e a respiração ofegante:
- Meu amor, não pares! Porque paraste?
O Rodrigo virou a cara, olhou-a intrigado e articulou:
- Parei? Parei o quê? Não te entendo!
E a Luisa:
- Paraste de me acariciar, querido! Continua!
- Eu?! Não te estava acariciar! Estava apenas a molhar os dedos para virar as páginas do livro...
Rui Felício
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