12 janeiro 2011

Edito Estrelas

Por muito que me custe assumi-lo, a castração química de um pedófilo não pode ser designada de pedicura.

Do cansaço

O sono fugiu-me da noite para o dia. A noite quer ser lida e o dia dita-me para o escrever. O cansaço espreita, constante, os olhos pequeninos brilham-lhe cerrados na agitação, querem uma pele que possam vestir. Quieta, muito quieta, só uns instantes para a serenidade se perceber convidada de honra nesta casa. Sei, quando estou assim pareço imóvel, não estou, nunca estou, escuto no peito o embalo mágico do coração.
Não vejo o fundo escuro da noite, não vejo o fundo escuro do mar, com nenhum deles lutarei, apenas com o fundo escuro do medo até lhes ver o fundo em claro.
Não tenhas cuidado, não tenhas medo do meu cansaço, acreditar é assim, um gesto completo do corpo inteiro, um mergulho contra a parede negra do lago, voar contra o cimento e atravessá-lo pela porta aberta entre os dedos da tua mão.
Aqui não há cinzentos, meios tons não existem; há branco ou preto, sim ou não no acreditar, tal verbo não existe com "ses", "talvez", "tentar", e cansaço é apenas o nome do vigilante que o vem conjugar.

Não Sei se Posso... Ou Sei?

Não sei se posso ser uma utopia, porque quando o for passarei então a ser um sentimento em ti.
Não sei se posso ser um pássaro porque não tenho asas. Preferi chamar-lhes tentáculos para tudo agarrar, aproximar, conter e melhor observar.
Não sei se posso ser a tua dor, apenas o renascer da ave de fogo que das cinzas dela te leva a voar.
Não sei se posso ser o teu paladino, mas asseguro-te sentar-me na Távola que partilha os mesmos ideais.
Não sei se posso ser o teu dragão, não tenho asas, mas as plumas e as magias poderão envolver-te.
Não sei se posso ser poeta, apenas tentar traduzir aquilo que alguém dentro de mim quiser falar-te.
Não sei se posso ser rei, apenas ajudar os meus cavaleiros a sentar na Távola e em mim confiarem.

Não sei se posso... ou sei?

Gravidez...


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11 janeiro 2011

Prostituição - pessoal e intransmissível(?) (Para o A. e para quem (se) pergunta)

Claro que posso tentar explicar a dificuldade ou facilidade com que uma mulher se prostitui por características da sua personalidade; cada mulher é única, cada uma sentirá o que faz de uma forma diferente. Contudo, – sabes tu que fui sempre a mesma mulher – quando decidi prostituir-me de bolsos vazios e aflição nos dedos, custou-me, sim, a angústia imperou; quando decidi fazer exactamente a mesma coisa apenas por mais algum conforto, apenas – confesso – porque me apeteceu mais do que contemplar montras com coisas giras, foi incomparavelmente mais "leve". Sim, poderia achar que sou uma criatura estranha, absurda, desconectada com a realidade mas, garanto-te, outras meninas que conheci traziam a dor no olhar se nos bolsos traziam aflição e vazios, e olhos muito mais tranquilos quando em situações menos extremas ou nada extremas. Concluí, então, que, se a personalidade de cada uma é factor que influencia a emoção com que vive esta situação, os motivos que nos trazem aqui também devem ser pesados; da junção destes dois se formam respostas. É bem vindo quem quiser contrapor, comentar, acrescentar, perguntar; é certo que aqui existem tantas verdades quantas pessoas; eu respeito quem tudo procura, é muito mais fácil reduzir do que indagar.

Não à crise!



Via Sweetilicious

Romãs

Os desencontros
são como as romãs:
nunca os bagos estão
onde pensamos que
os deixámos.

Mas, as palavras,
essas vão ficando
por lugares incertos
onde não comemos.

Poesia de Paula Raposo

Mais um agasalho de pila para a minha colecção

Desta vez, é um galo. Que me parece ter um pescoço bem maior que qualquer encomenda, por mais que esteja a «cantar de galo».


Faz parte de um conjunto com mais duas variantes:

10 janeiro 2011

Mapa

Das Utopias

O medo da vontade, da dor, baptizou as utopias.
Perder o "só" não significa perdê-las, mas transformá-las.
As utopias existem, sim, mas apenas quando fechamos os olhos e as vemos, e aí passam a chamar-se de forma diferente. Passam a ser um manancial de sujeitos e predicados que apenas podem ser sentidos. Através dos sentidos. Dos outros sentidos e dos sentidos dos outros.
Poucos conhecerão o que deixou para esses de ser uma utopia, e apenas a esses está reservado o privilégio do uso de uma pedra angular que as decifre e sustente.

As 10 melhores pilas do mundo

O tema é polémico. Logo à partida porque não há consenso possível pela divisão entre géneros e logo à chegada porque, lamentavelmente, não há maneira de toda a gente experimentar todas as pilas e por isso ficamos reféns das apreciações subjectivas.
Mas o que faz afinal uma boa pila?
Para a maioria salta à vista o tamanho, embora não falte (sobretudo quem a tem pequena) quem defenda a tese de que tamanho não é documento. Ainda assim, é mais ou menos consensual a ideia de que uma boa pila deve ser bem documentada e ter uma dimensão apreciável, capaz de preencher todas as lacunas do imaginário colectivo.
Contudo, há também quem advogue a prontidão como argumento. Ou seja, uma boa pila será a que reúne em simultâneo uma boa capacidade de resposta em termos de aceleração dos zero aos dezasseis centímetros(*) e uma durabilidade duracell, nomeadamente depois do prego a fundo.
Temos assim esboçado um perfil para a pila ideal? Talvez não.

Muitos pensadores deste tema fascinante e complexo tendem a associar a pila propriamente dita à destreza de quem a utiliza (o que interessa não é o que se faz com ela mas como), arrastando para a avaliação global do membro viril todo um conjunto de factores tão aleatórios como, por exemplo, a pontaria (não apenas relativamente à abertura de uma sanita) ou a sincronização no disparo (demasiado rápidas no gatilho não parecem ser do agrado geral).
No entanto, esta versão tem sido alvo de imenso cepticismo por parte de quem olha a coisa (o coiso?) sem uma perspectiva militar e tem em conta inclusivamente o comportamento de uma pila em modo stand by (murcha, sim, ou tenho que vos explicar tudo?), nomeadamente aquilo que permitem adivinhar da respectiva extensão depois de activadas. Por outro lado, o género masculino exibe a enorme incoerência de quem aparentemente faz o culto da pila quando afinal mal lhe ligam quando, por exemplo, a utilizam para a sua função secundária (a mijinha da ordem). Esta contradição acaba por constituir fundamento para que seja o género feminino (lésbicas como a São não contam para este item) o mais habilitado a fornecer a mais correcta aferição do instrumento, mesmo quando este não é apenas de sopro mas alarga o espectro musical a ritmos como o do batuque.
Muito haverá ainda para dizer acerca desta questão, mas isso dá imenso trabalho.
E eu, por inerência, até já preenchi sozinho dez por cento da tabela que dá título a este post...

(*) De acordo com rigorosos estudos científicos, o tamanho médio de uma pila portuga é de 16 centímetros, superior à média europeia e três centímetros acima das congéneres asiáticas.)