09 fevereiro 2011
08 fevereiro 2011
Ler nas linhas, comboio nas mãos
Não está aqui. Ausente. A cabeça num ombro, o cheiro que há-de saber, o braço pelas costas; quando está no lugar certo é assim que se sente o braço e o corpo, como se estivesse arrumado na gaveta dele. Deve estar feliz e não está aqui. Logo volta, pode ser que conte tudo, pode ser que conte nada e ainda assim em incontáveis pontuações.
Não está aqui. Mas onde está? Talvez em segredo numa mão da história de dedos incertos por escrever, linhas nas palmas, dias na pele. Talvez não saiba onde está mas há-de saber, promete, há-de saber. Eu que nem sei de mim, prometo aqui voltar; sem precisar de descobrir, respiro e não me descubro respirar, é aqui que sei sempre onde estou.
Onde estás? O joelho perdido, o pulso abandonado gagueja e pode ser que até aprenda a cantar, ou não; tudo menos a mudez da indecisão, o comboio passa e até se podia saltar, cada pé fora do chão e pode ser assim, pode ser que seja mesmo assim, sem saber bem como é, mas há-de saber, diz que há-de saber.
Não está aqui. Ausente. Foi procurar um bocadinho de si um bocadinho.
Não está aqui. Mas onde está? Talvez em segredo numa mão da história de dedos incertos por escrever, linhas nas palmas, dias na pele. Talvez não saiba onde está mas há-de saber, promete, há-de saber. Eu que nem sei de mim, prometo aqui voltar; sem precisar de descobrir, respiro e não me descubro respirar, é aqui que sei sempre onde estou.
Onde estás? O joelho perdido, o pulso abandonado gagueja e pode ser que até aprenda a cantar, ou não; tudo menos a mudez da indecisão, o comboio passa e até se podia saltar, cada pé fora do chão e pode ser assim, pode ser que seja mesmo assim, sem saber bem como é, mas há-de saber, diz que há-de saber.
Não está aqui. Ausente. Foi procurar um bocadinho de si um bocadinho.
Nada
Num momento falas-me
de amor,
noutro ignoras-me:
o amor não é ser ausente,
é manter o presente
como se não fugisse;
como se as palavras
pudessem continuar
a ser as de amor.
Mais de resto, ainda
existe - só - nada:
nada não é amor.
Poesia de Paula Raposo
«Ecstacy in Indian Temple Sculpture Khajuraho»
Nas suas viagens pelo mundo, a Daisy e o Alfredo Moreirinhas visitam locais que eu só conheço de ler e de ouvir falar (e alguns sítios, nem mesmo isso).
Ofereceram-me um livro com 20 postais de esculturas do templo de Khajuraho, na Índia.
Obrigada, Daisi e Alfredo! Fica tão bem na minha colecção...
07 fevereiro 2011
Noite de estreia
Nunca me esquecerei desse dia.
Repousava encostado à virilha esquerda quando senti a presença de uma mão, algo que estranhei pois não havia soado o aviso de rotina para a função que até então que me cabia cumprir.
Estranhei ainda mais quando os dedos se enrolaram em meu redor e começaram a subir e a descer de uma forma inusitada e eu já de cabeça bem levantada, satisfeito com aquela inovação.
Foi de facto uma sensação inédita que senti como uma revelação, adivinhando na hora um futuro promissor que surgia no horizonte (o dele, que trago agarrado) tão erecto como um pelourinho ou o monumento que encima o Parque Eduardo VII.
A mão não parava e eu nem sabia do que gostava mais naquela atenção que me permitia descobrir novos caminhos e antever extraordinárias aplicações.
Apanhei um cagaço quando de repente senti uma cena diferente a brotar de mim, algo que os meus inseparáveis amigos (que enviaram aquilo no preciso instante em que me estava a saber melhor, apanhando-me distraído) cuidariam de me explicar mais tarde na utilidade e na razão de ser.
Sei que descobri um novo e apetecível prazer, que se manteria sobretudo quando a mão, pouco tempo depois, se prestou a uma excelente troca. E desde esse dia memorável estou tantas vezes em sentido que até parece que entrei para tropa.
Neologismos
Terei que inventar palavras para imprimir força às emoções que te quero dar.
Aquelas que nos ensinaram estão gastas, usadas, sem nada de novo trazer à nossa Casa.
Intento algo diferente, aquilo que Ser Humano algum jamais sentiu ou te endereçou.
"Amor" não basta;
"Ternura" é comum;
"Carinho"? Palavra vaga.
Todas as demais que proferimos não fazem jus ao que te quero; ao que nos queremos.
Irei inventar novas palavras, sim;
o nosso dicionário será enriquecido;
sapiência de sentidos traduzida em prosa;
a nossa língua viverá entre os dois peitos onde explodem estas emoções - hoje - indescritíveis.
Aquelas que nos ensinaram estão gastas, usadas, sem nada de novo trazer à nossa Casa.
Intento algo diferente, aquilo que Ser Humano algum jamais sentiu ou te endereçou.
"Amor" não basta;
"Ternura" é comum;
"Carinho"? Palavra vaga.
Todas as demais que proferimos não fazem jus ao que te quero; ao que nos queremos.
Irei inventar novas palavras, sim;
o nosso dicionário será enriquecido;
sapiência de sentidos traduzida em prosa;
a nossa língua viverá entre os dois peitos onde explodem estas emoções - hoje - indescritíveis.
06 fevereiro 2011
Paixões
A paixão pode ser um adorno
e nós os seus dedos anelares,
semi-preciosos, enterrados
bem fundo nas carnes;
as rotundas intermináveis
as vagabundas indomáveis
oscilam em movimentos
e tempos bem ritmados,
sabem que são dádivas,
pacientes e ávidas,
das espirais contra a letargia;
eu nunca desmentiria
sequer uma sombra do anelar,
sequer por mil anos,
de manhãs sem arestas...
«Subitamente ao acordar» - por Rui Felício
Está em minha casa desde há quinze dias...
Quando acordo e acendo a luz, ela ignora o frio, abre a caixa onde guarda as pinturas e os cremes e começa a maquilhar-se, a pentear-se. Parece que receia que eu a veja descomposta.
Ainda meio ensonado, vejo-a sorrir para mim, entreabrindo aquela boca bonita. Mesmo com este frio, veste-se com uma lingerie finíssima azul celeste, transparente, que me deixa entrever, por baixo, o corpo esbelto, bem desenhado.
Sentada em frente ao espelho da cómoda do quarto, passa o baton vermelho cereja nos lábios, com uma precisão milimétrica.
Com maestria, revira as pestanas e engrossa-as com rímel. Vou correndo o olhar pela pele lisa das suas costas, pela curva côncava da cintura, pelos longos cabelos louros encaracoladas caídos ao longo do corpo.
Ainda deitado na cama, observo-a a pintar as pálpebras com um pó esverdeado que lhe realça os lindos olhos azul marinho.
Lentamente, pega na escova e corre-a pelo cabelo sedoso, demoradamente. De vez em quando, suspira suavemente.
Volta a sorrir-me, deixa-me indeciso...
Mas não! Já estou atrasado.
Levanto-me, visto o roupão e dirijo-me para a casa de banho. Ouço-a desejar-me um bom dia, numa voz gutural que parece vir das suas entranhas.
Não lhe respondo.
E desligo o interruptor daquela linda boneca automática, a pilhas, que são activadas pela luz e que eu comprei para oferecer à minha neta quando ela cá vier.
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
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