19 fevereiro 2011
18 fevereiro 2011
Extasiado
Mal havia chegado ao átrio do tribunal quando ouviu o seu nome cantado em voz autoritária mas não desprovida de simpatia por uma funcionária judicial. Subiu as escadas em passo acelerado e respondeu prontamente ainda antes de as abandonar. Ouvindo-o, a funcionária interrompeu o nome seguinte, levantou os olhos, acenou ligeiramente com a cabeça na sua direcção e repetiu o seu nome, “Júlio F… A… F…”. Ele confirmou e, sem mais formalidades, ficou assente para todos os devidos e necessários efeitos que ele era ele e estava ali. Então, encostou-se à parede e ouviu a funcionária declamar, sem resultados, os nomes seguintes do rol de testemunhas do processo para o qual havia sido convocado e, contrariado por não estar incluído nas ausências, procurou as pessoas que o levaram a estar ali àquela hora da manhã. Ninguém. Nem testemunhas, nem arguidos, nem ofendidos. Nada. Nenhuma pessoa do “seu” processo; só um advogado.
– Vamos aguardar – declarou a funcionária, olhando para o relógio de pulso e depois para o advogado e para ele.
– Mas faz-se? – perguntou o advogado, aproximando-se da funcionária.
– Em principio não, mas para já não lhe posso garantir. Têm de aguardar – completou, incluindo-o.
O advogado, aproveitando a inclusão, cumprimentou-o, apresentando-se como mandatário do arguido, por quem Júlio ali estava, e seguiu esticando imediatamente a conversa condenando de forma veemente a falta de informação quanto às consequências da greve.
A funcionária ouviu o causídico com um longo encolher de ombros, enquanto Júlio escutava sem opinar, sentindo-se cada vez mais contrariado por estar ali.
– Vamos aguardar – rematou a funcionária no fim do arrazoado do causídico, afastando-se.
Assustado com a perspectiva de ficar sozinho com o advogado, Júlio chamou a funcionária, perguntou-lhe se tinha tempo de ir beber um café e sorriu-lhe agradecido com a resposta positiva. Estava livre, pensou, cruzando acidentalmente o olhar com o do advogado.
– Quer ir tomar um café, doutor? – convidou, sem querer, por mera educação, dirigindo-se ao advogado.
– Pode ser – respondeu o causídico com inesperada convicção e prontidão, que a frase que transcrevo não revela, nem na forma nem no tom, mas que, a bem da verdade, mantenho nos seus precisos termos.
No caminho, curto, entre o tribunal e a pastelaria mais próxima, falaram do tempo e da justiça e de como ambos se encontram cinzentos e pouco recomendáveis. O advogado falava de dias de sol e de tempos mais prazenteiros. “Com outras formas de se fazerem as coisas e em que nos sentíamos melhor. Muito melhor”, sublinhava em tom grave e sério. Desconsolado, Júlio ouvia-o sem balir, balançando a cabeça a compasso.
Já junto à porta da pastelaria, o advogado travou-lhe o passo, tocando-lhe com a mão no braço:
– Vamos antes ali – disse, apontando para um café mais adiante, sem disfarçar a observação atenta e interessada que fazia do interior do estabelecimento que acabava de rejeitar.
– Por mim… – respondeu Júlio, apanhado de surpresa e tentando, debalde, perceber onde o homem fixava o olhar.
O advogado, mantendo um estado de enlevada contemplação do que se passava para lá da montra envidraçada da pastelaria, perguntou-lhe, sem se mover e como se o fizesse para adiar por uns instantes o despegar do nariz do vidro:
– A não ser que se importe. Importa-se?
– Não – assegurou Júlio, encolhendo os ombros. – Por mim é igual, doutor.
E seguiram, o homem conjecturando numa explicação para o sucedido e o advogado, com uma súbita expressão de profundo desalento, recolhendo-se na análise visual das pedras da calçada que a seguir pisava.
Beberam o café e voltaram para a Casa da Justiça, sem trocarem mais do que meia dúzia de palavras de circunstância.
Subiram, souberam que o impasse se mantinha e desceram para fumar um cigarro.
– Se calhar, há bocado ficou a pensar que eu era maluco – disse o advogado, entre duas passas no cigarro.
– Quando? – perguntou Júlio, surpreendido, percebendo, quando se ouviu, que não o havia negado como queria.
– Quando fomos tomar café – esclareceu o advogado. Júlio fez uma careta como se não percebesse. Ele continuou: – Quando lhe disse para irmos mais à frente e fiquei a olhar para a pastelaria como um miúdo para uma loja de doces.
– Ah… – Fingiu Júlio sem muita convicção e, convicto, mentiu: – Não.
O advogado riu-se.
– Não viu, pois não? – perguntou, abrindo um sorriso de quem sabe um segredo.
– Não vi o quê, doutor?
– Não viu – troçou, definitivo. – Se visse, sabia.
– Mas dentro da pastelaria?
O advogado chegou-se a ele e segredou:
– Atrás do balcão está a coisa mais apetitosa que consegue imaginar. – Levou as pontas dos dedos aos lábios e beijou-as ruidosamente. – Um docinho! Uma coisa fantástica!
Júlio hesitou na resposta mas, apreciando os trejeitos e expressões de lúbrica admiração e voraz cobiça que o advogado teatralmente fazia com cómico empenho, decidiu segui-lo:
– Então… – olhou-o com ar sentido. – Então e levou-me para o outro café?
– Aquilo faz-me mal em jejum – justificou o causídico. – É que você não está a ver, nem sequer a imaginar.
– O doutor não me deixou – queixou-se Júlio, forçando-se a dar um tom lamurioso de irreparável decepção que o causídico sentiu e aceitou sem duvidar.
Penalizado e arrependido, o advogado olhou-o sério e declarou solene:
– O problema são as calças.
Júlio, espantado, balbuciou:
– As calças, doutor?
– Sim, senhor, as calças – confirmou o causídico, movendo lentamente a cabeça na vertical, com o ar entendido de quem perdeu tempo a pensar no assunto. – As calças de ganga que a empregada da pastelaria usa, invariavelmente do mesmo modelo e que é, certamente, o que mais a favorece… E favorece muito! – Exclamou com um sorriso matreiro e um piscar de olho a pedir cumplicidade masculina. Aguentou a pausa até o interlocutor sorrir e recomeçou: – As calças que ela usa ajustam e modelam-lhe as nádegas de tal forma… – mordeu o lábio inferior. – Faz-nos acreditar que Deus existe, é verdade, mas é-me tão penoso beber café ao balcão… – arrastou a frase e terminou-a num suspiro teatral. Fez uma careta, abanou a cabeça e concluiu: – Faz-me mal… Muito mal. Tão mal que, às vezes, prefiro nem ver… Fico extasiado… É mesmo, fico extasiado como um parvinho.
– Estava enganado o Camilo – comentou Júlio, sorrindo.
O advogado olhou-o por um momento, apanhado de surpresa mas a processar a informação com crescente alegria, e respondeu, rindo:
– Estava, de facto, estava. É verdade, por vezes, a gente extasia-se! Extasia-se mesmo!
“– A gente não se extasia, minha senhora. Olha.”, de A Mulher Fatal, de Camilo Castelo Branco.
– Vamos aguardar – declarou a funcionária, olhando para o relógio de pulso e depois para o advogado e para ele.
– Mas faz-se? – perguntou o advogado, aproximando-se da funcionária.
– Em principio não, mas para já não lhe posso garantir. Têm de aguardar – completou, incluindo-o.
O advogado, aproveitando a inclusão, cumprimentou-o, apresentando-se como mandatário do arguido, por quem Júlio ali estava, e seguiu esticando imediatamente a conversa condenando de forma veemente a falta de informação quanto às consequências da greve.
A funcionária ouviu o causídico com um longo encolher de ombros, enquanto Júlio escutava sem opinar, sentindo-se cada vez mais contrariado por estar ali.
– Vamos aguardar – rematou a funcionária no fim do arrazoado do causídico, afastando-se.
Assustado com a perspectiva de ficar sozinho com o advogado, Júlio chamou a funcionária, perguntou-lhe se tinha tempo de ir beber um café e sorriu-lhe agradecido com a resposta positiva. Estava livre, pensou, cruzando acidentalmente o olhar com o do advogado.
– Quer ir tomar um café, doutor? – convidou, sem querer, por mera educação, dirigindo-se ao advogado.
– Pode ser – respondeu o causídico com inesperada convicção e prontidão, que a frase que transcrevo não revela, nem na forma nem no tom, mas que, a bem da verdade, mantenho nos seus precisos termos.
No caminho, curto, entre o tribunal e a pastelaria mais próxima, falaram do tempo e da justiça e de como ambos se encontram cinzentos e pouco recomendáveis. O advogado falava de dias de sol e de tempos mais prazenteiros. “Com outras formas de se fazerem as coisas e em que nos sentíamos melhor. Muito melhor”, sublinhava em tom grave e sério. Desconsolado, Júlio ouvia-o sem balir, balançando a cabeça a compasso.
Já junto à porta da pastelaria, o advogado travou-lhe o passo, tocando-lhe com a mão no braço:
– Vamos antes ali – disse, apontando para um café mais adiante, sem disfarçar a observação atenta e interessada que fazia do interior do estabelecimento que acabava de rejeitar.
– Por mim… – respondeu Júlio, apanhado de surpresa e tentando, debalde, perceber onde o homem fixava o olhar.
O advogado, mantendo um estado de enlevada contemplação do que se passava para lá da montra envidraçada da pastelaria, perguntou-lhe, sem se mover e como se o fizesse para adiar por uns instantes o despegar do nariz do vidro:
– A não ser que se importe. Importa-se?
– Não – assegurou Júlio, encolhendo os ombros. – Por mim é igual, doutor.
E seguiram, o homem conjecturando numa explicação para o sucedido e o advogado, com uma súbita expressão de profundo desalento, recolhendo-se na análise visual das pedras da calçada que a seguir pisava.
Beberam o café e voltaram para a Casa da Justiça, sem trocarem mais do que meia dúzia de palavras de circunstância.
Subiram, souberam que o impasse se mantinha e desceram para fumar um cigarro.
– Se calhar, há bocado ficou a pensar que eu era maluco – disse o advogado, entre duas passas no cigarro.
– Quando? – perguntou Júlio, surpreendido, percebendo, quando se ouviu, que não o havia negado como queria.
– Quando fomos tomar café – esclareceu o advogado. Júlio fez uma careta como se não percebesse. Ele continuou: – Quando lhe disse para irmos mais à frente e fiquei a olhar para a pastelaria como um miúdo para uma loja de doces.
– Ah… – Fingiu Júlio sem muita convicção e, convicto, mentiu: – Não.
O advogado riu-se.
– Não viu, pois não? – perguntou, abrindo um sorriso de quem sabe um segredo.
– Não vi o quê, doutor?
– Não viu – troçou, definitivo. – Se visse, sabia.
– Mas dentro da pastelaria?
O advogado chegou-se a ele e segredou:
– Atrás do balcão está a coisa mais apetitosa que consegue imaginar. – Levou as pontas dos dedos aos lábios e beijou-as ruidosamente. – Um docinho! Uma coisa fantástica!
Júlio hesitou na resposta mas, apreciando os trejeitos e expressões de lúbrica admiração e voraz cobiça que o advogado teatralmente fazia com cómico empenho, decidiu segui-lo:
– Então… – olhou-o com ar sentido. – Então e levou-me para o outro café?
– Aquilo faz-me mal em jejum – justificou o causídico. – É que você não está a ver, nem sequer a imaginar.
– O doutor não me deixou – queixou-se Júlio, forçando-se a dar um tom lamurioso de irreparável decepção que o causídico sentiu e aceitou sem duvidar.
Penalizado e arrependido, o advogado olhou-o sério e declarou solene:
– O problema são as calças.
Júlio, espantado, balbuciou:
– As calças, doutor?
– Sim, senhor, as calças – confirmou o causídico, movendo lentamente a cabeça na vertical, com o ar entendido de quem perdeu tempo a pensar no assunto. – As calças de ganga que a empregada da pastelaria usa, invariavelmente do mesmo modelo e que é, certamente, o que mais a favorece… E favorece muito! – Exclamou com um sorriso matreiro e um piscar de olho a pedir cumplicidade masculina. Aguentou a pausa até o interlocutor sorrir e recomeçou: – As calças que ela usa ajustam e modelam-lhe as nádegas de tal forma… – mordeu o lábio inferior. – Faz-nos acreditar que Deus existe, é verdade, mas é-me tão penoso beber café ao balcão… – arrastou a frase e terminou-a num suspiro teatral. Fez uma careta, abanou a cabeça e concluiu: – Faz-me mal… Muito mal. Tão mal que, às vezes, prefiro nem ver… Fico extasiado… É mesmo, fico extasiado como um parvinho.
– Estava enganado o Camilo – comentou Júlio, sorrindo.
O advogado olhou-o por um momento, apanhado de surpresa mas a processar a informação com crescente alegria, e respondeu, rindo:
– Estava, de facto, estava. É verdade, por vezes, a gente extasia-se! Extasia-se mesmo!
“– A gente não se extasia, minha senhora. Olha.”, de A Mulher Fatal, de Camilo Castelo Branco.
Carta aos Dragões-Poetas
Sob o teu túmulo nada existirá. Se morreste é porque gastaste até ao fim cada milímetro teu.
Porque és daqueles pássaros que desde tenra idade entregam o corpo à alma e a alma à vida e a vida consagram às linhas. Porque te viveste todo, inteiro, incompleto, até ao último grão. Porque lançaste o teu fogo às chamas, as tuas chamas ao fogo, as chamas e o fogo à vida e às páginas amarrotadas, torcidas se te apeteceu torcer; porque voaste para que o olhar pudesse ver do céu e desceste ao centro da Terra para que pudesse ver as quedas e o Mundo de quem se enterra cedo; porque te consumiste sem dó nem piedade da dor nos teus ossos; sob o teu túmulo nada existirá, tudo existiu acima dos teus ossos.
Sob o teu túmulo existirá o vazio, a imensidão do nada que te permitiste sobrar e tudo aquilo que nunca foste. Quando o Outono te trespassar os dias e o peito e te abrir a pele, poderás receber o Inverno de braços abertos na firmeza de quem nunca terminará frio - o frio inveja a noite que escurece o dia, não deseja a Luz - ele há-de-te encontrar fora de ti, muito além de ti, só terminarás nunca porque nunca será quando te terminares; nada de ti será ali, tudo de ti já se foi.
Os que te chorarem como um poema interrompido vão encontrar conforto nos braços sempre quentes das chamas que foste oferecendo; as chamas alimentadas pelo fogo serão eternas; os que não te conheceram chorarão apenas a sua ilusão, vão encostar-se à pedra fria que talvez lhes pareça irmã da vida que conhecem, talvez se apercebam do próprio vazio e o chorem.
Só a palavra pode tudo, não se prende nos impossíveis, não se detém nos limites da existência, não se acorrenta à realidade; a palavra já feriu de morte, já matou, já criou novas vidas, juntou amantes, quebrou paredes ou atravessou-as, saiu de si e voltou a entrar, voou e caminhou sobre as águas, destronou Reis e Rainhas, foi Cupido, Hermes, Vénus, alma, corpo, sede, medo, esperança, força de gigante e utopia; a palavra é um corpo Divino na Terra, único, tem pele de letras e não tem pele, corpo, sequer limites, pode ter e não ter ao mesmo tempo; a palavra é tudo e é nada e o seu poder, a sua magia, a sua força podem ser soberanos. É por isso que és um Dragão, porque escolheste a mais poderosa e mais arriscada de todas as armas, porque a palavra forjada a fogo é espada universal e eterna, é a lâmpada de Aladino, é a Magia de todos os Castelos e Reinos, exige-te a vida única, enche-te de vidas e arranca-te de ti.
Sob o teu túmulo nada existirá; a pedra não te encarcerará; já em vida te desencarceraste e desenterraste de ti.
Porque és daqueles pássaros que desde tenra idade entregam o corpo à alma e a alma à vida e a vida consagram às linhas. Porque te viveste todo, inteiro, incompleto, até ao último grão. Porque lançaste o teu fogo às chamas, as tuas chamas ao fogo, as chamas e o fogo à vida e às páginas amarrotadas, torcidas se te apeteceu torcer; porque voaste para que o olhar pudesse ver do céu e desceste ao centro da Terra para que pudesse ver as quedas e o Mundo de quem se enterra cedo; porque te consumiste sem dó nem piedade da dor nos teus ossos; sob o teu túmulo nada existirá, tudo existiu acima dos teus ossos.
Sob o teu túmulo existirá o vazio, a imensidão do nada que te permitiste sobrar e tudo aquilo que nunca foste. Quando o Outono te trespassar os dias e o peito e te abrir a pele, poderás receber o Inverno de braços abertos na firmeza de quem nunca terminará frio - o frio inveja a noite que escurece o dia, não deseja a Luz - ele há-de-te encontrar fora de ti, muito além de ti, só terminarás nunca porque nunca será quando te terminares; nada de ti será ali, tudo de ti já se foi.
Os que te chorarem como um poema interrompido vão encontrar conforto nos braços sempre quentes das chamas que foste oferecendo; as chamas alimentadas pelo fogo serão eternas; os que não te conheceram chorarão apenas a sua ilusão, vão encostar-se à pedra fria que talvez lhes pareça irmã da vida que conhecem, talvez se apercebam do próprio vazio e o chorem.
Só a palavra pode tudo, não se prende nos impossíveis, não se detém nos limites da existência, não se acorrenta à realidade; a palavra já feriu de morte, já matou, já criou novas vidas, juntou amantes, quebrou paredes ou atravessou-as, saiu de si e voltou a entrar, voou e caminhou sobre as águas, destronou Reis e Rainhas, foi Cupido, Hermes, Vénus, alma, corpo, sede, medo, esperança, força de gigante e utopia; a palavra é um corpo Divino na Terra, único, tem pele de letras e não tem pele, corpo, sequer limites, pode ter e não ter ao mesmo tempo; a palavra é tudo e é nada e o seu poder, a sua magia, a sua força podem ser soberanos. É por isso que és um Dragão, porque escolheste a mais poderosa e mais arriscada de todas as armas, porque a palavra forjada a fogo é espada universal e eterna, é a lâmpada de Aladino, é a Magia de todos os Castelos e Reinos, exige-te a vida única, enche-te de vidas e arranca-te de ti.
Sob o teu túmulo nada existirá; a pedra não te encarcerará; já em vida te desencarceraste e desenterraste de ti.
17 fevereiro 2011
Recordar é viver
Sábados, meia-noite. Numa semana era filme de karaté e na seguinte porno. O cinema já fechou, tem as janelas cimentadas e cheiro a urina nos recantos da fachada. O meu Cinema Paraíso onde, uma noite, quando as luzes do intervalo (sim, ainda havia intervalos) se acenderam, vimos o Peúgas, nosso amigo que tínhamos deixado em casa dez minutos antes da meia-noite, ainda o plano da noite era irmos comer qualquer coisa e antes de decidirmos ir ao cinema, porque "Amanhã tenho de me levantar muito cedo para ajudar o meu pai", duas filas à nossa frente a ficar embaraçado quando o chamámos. Depois teve aquela namorada que "Então Peúgas, quando é que a comes? Nem de mão dada andais." e ele "Ela não gosta muito de contacto físico" até a vermos em grande marmelanço na estação, beijos e apalpões, com outro gajo.
Foda-se, que saudades.
Uma revista pornográfica nunca se vende em 2ª mão...
... ou pelo menos ninguém pode garantir que não tenha já passado... sei lá... pela 37ª mão.
Capa e algumas páginas de um número da «revista Gina» - quem quiser ler esta história completa (para saber o interessantíssimo argumento) tem-na aqui. Aqueles textos sempre foram uma maravilha. Mas, ingloriamente, poucos os liam.
Capa e algumas páginas de um número da «revista Gina» - quem quiser ler esta história completa (para saber o interessantíssimo argumento) tem-na aqui. Aqueles textos sempre foram uma maravilha. Mas, ingloriamente, poucos os liam.
16 fevereiro 2011
São muitas horas de ponta
Sinceramente, malta, não sei o que se passa na blogosfera. Então a notícia do ano é divulgada pela Comunicação Social e nesta comunidade népia?
Sobretudo vocês, rapaziada, que estamos sempre a levar no lombo com as bocas farsolas delas quando nos vilipendiam (fónix, vilipendiam é bonito) por essa blogosfera fora e mainãoseioquê, não percebo como não sacam dos galões e metem o mulherio armado aos cucos no seu lugar…
É que não são as terceiras, nem as segundas. São as sexualmente mais satisfeitas, como o comprova um estudo de âmbito europeu!
Claro que para a malta com pila isso não é surpresa alguma, um gajo percebe a verdade dos factos por detrás da pala de que é tudo orgasmos fingidos e coitadinhas andam aí aos caídos e na volta quando confrontadas com a questão de forma directa são incapazes de esconder o que as distingue das restantes cidadãs desta Europa a várias velocidades onde os portugas assumem a liderança naquilo que verdadeiramente interessa.
Isto não há cá funfum nem gaitinhas: se as portuguesas são as sexualmente mais satisfeitas e as sex-shops até se safam melhor na terra das outras só há uma conclusão a extrair e essa está à vista.
Sim, somos muito bons nisso. E se tivermos em conta os que não a usam porque não conseguem ou porque não gostam ou porque não sabem como, we the few provamos chegar para as encomendas e na hora da verdade aí estão as parangonas que atraem as suecas, as holandesas e, olhando para estes resultados, as gajas da Europa toda e arredores que aí aterram em busca do sol e da paisagem e do que só não vê quem não quer.
Claro que por uma questão elementar de justiça temos que partilhar este sucesso colectivo com as nossas parceiras e amantes, é impossível negar que este brilhantismo macho está directamente ligado ao nível de exigência que nos confronta: compete-nos dar assistência às melhores mulheres de todo o mundo e isso dá muito traquejo à pessoa, é inegável.
Mas interessa sobretudo agradecer a todas elas, aproveitando a efeméride que hoje se celebra e nos impingiram nem sei de onde, a sinceridade com que arriscaram atrair a inveja e a cobiça por parte de tantas outras que agora ficaram a saber que não é só o tinto alentejano de 90 que justifica a deslocação a esta terra santa.
E pela parte que me toca não precisam agradecer. Tem sido literalmente um prazer contribuir com o meu quinhão para esta honrosa estatística.
Actos Deturpados
A pintura de telas não decora; ilustra o que se vê ou o que será visto dentro ou fora dos sentidos que a interpretam.
A pintura dá vida, suga respirações, revela ilusões, renasce, adormece, aquece, serena, agita, destrói, edifica...
É o pincel do pintor que determina o que será visto pelos olhos ou pelo sentir de quem lhe dá vida; quem para ela olha e sonha.
Mas apenas o arquitecto poderá decifrar as cores daquela tela; as cores com que gravou aquelas emoções.
Os motivos, as escolhas, os porquês de quem pinta, não são os mesmos, sequer semelhantes por vezes, de quem os interpreta.
A pintura dá vida, suga respirações, revela ilusões, renasce, adormece, aquece, serena, agita, destrói, edifica...
É o pincel do pintor que determina o que será visto pelos olhos ou pelo sentir de quem lhe dá vida; quem para ela olha e sonha.
Mas apenas o arquitecto poderá decifrar as cores daquela tela; as cores com que gravou aquelas emoções.
Os motivos, as escolhas, os porquês de quem pinta, não são os mesmos, sequer semelhantes por vezes, de quem os interpreta.
Dos amantes
Os amantes abraçam-se; são mais braços que pele, mais fundos que corpo. Os amantes abraçam-se; são o chão enquanto um comboio passa debaixo da terra e entregam-se, deitados, aos carris; trespassados acabam de morrer até à perda, até voltarem lentamente - quase sem querer - à vida. É um erotismo quase triste, como um ventre nu já sulcado pela ternura única do último passeio dos dedos.
Os amantes abraçam-se; são pássaros lentos feitos de cada pena que tomam do outro, curam-se da sua dor. Os amantes abraçam-se; são corpos sem som ou silêncio porque a música tem-lhes corpo e agora ouve-se com o olhar que a vai recolhendo na pele.
Falo dos abraços dos amantes porque é incomparavelmente mais difícil falar deles, não tenho palavras que respondam ao peito; a inexistência de cada um por si no corpo do afecto puro, demorado, transpôs-me as palavras e fechou o portão atrás de si, cada letra estupefacta e sempre aquém da verdade do mais ténue abraço. Se algum dia as tive, às palavras, devo-as ter largado, rendido, perdido todas e nem sequer as quero de volta.
Os amantes abraçam-se; são pássaros lentos feitos de cada pena que tomam do outro, curam-se da sua dor. Os amantes abraçam-se; são corpos sem som ou silêncio porque a música tem-lhes corpo e agora ouve-se com o olhar que a vai recolhendo na pele.
Falo dos abraços dos amantes porque é incomparavelmente mais difícil falar deles, não tenho palavras que respondam ao peito; a inexistência de cada um por si no corpo do afecto puro, demorado, transpôs-me as palavras e fechou o portão atrás de si, cada letra estupefacta e sempre aquém da verdade do mais ténue abraço. Se algum dia as tive, às palavras, devo-as ter largado, rendido, perdido todas e nem sequer as quero de volta.
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