25 fevereiro 2011

As Despedidas

– Há regressos que nunca se devem fazer. As coisas nunca voltam a ser as mesmas. Nós já não somos os mesmos. Se voltamos é porque esquecemos o porquê da separação; as razões da separação. A própria separação. Fantasiamos sobre um idílio que acabou e a que queremos regressar como se fossemos menos os que nos separámos do que os que estiveram juntos. Não há retornos felizes. As peças não tornam a encaixar. As peças depois de separadas, partidas, doridas, nunca mais se tornam a encaixar. Os regressos nunca se devem concretizar.
– Assim, definitivamente?
– Assim.
– Então… – Os olhares cruzaram-se. Ele fez uma pausa e perguntou: – O que estamos nós aqui a fazer?
– A despedirmo-nos.
– Definitivamente?
– Sim. – Ela sorriu, primeiro com os lábios e com os olhos, depois com todo o rosto, e completou: – Sim, definitivamente ou até à próxima despedida – e beijou-o, primeiro com os lábios e com a língua, depois com todo o corpo.

Fui ver se a palavra «vagona» existe em Português...

... e a Infopédia confirmou-me que a cultura é uma coisa muito linda!

Do amor lento

E o corpo em cima do corpo, comboio em cima da linha, barco na linha do mar; a corrente e a direcção ajustam-se à rota pela cintura, fogem agora das rochas e ao longe, muito longe, perde-se o mundo e um porto e uma estação; e a pele do mar são as ondas, sempre foi assim; e o barco, veleiro soprado do peito ao ventre até à rosa dos ventos, a desenhar as linhas do mapa nos náufragos, a violar, incerto, determinado, a palidez da tempestade que ainda lhe sobra, entrega-se às ondas, inteiro; acertam o tempo e o rumo até se desfazerem em sal. Entretanto, um gato enorme tentava arranhar a pedra com as garras, uma mãe teve o filho, um homem gritava o nome da mulher, o autocarro passou, uma jarra espalhou os cacos pelo chão; o tempo deve ter passado por ali, na mesma, mesmo sem os encontrar e disse-os ausentes à solidão que, nesse dia, não lhes bateu à porta.

Trocando as bolas


Alexandre Affonso - nadaver.com

24 fevereiro 2011

O Bisturi de Damocles

Aqui há dias abordei o assunto de forma ligeira mas com estas histórias dos saca-rolhas e assim é impossível ignorar essa ameaça latente das mudanças de sexo à fartazana.
E não me venham com os considerandos do sofrimento psicológico de quem se vê amarrado/a a um género que não o seu pois basta porem-se na pele de pila para verem logo a coisa sob outro prisma.
As pirocas não têm o direito à escolha no que toca aos coisos agarrados a nós. Nascemos assim, com aquela enorme verruga nas costas (as nossas) e sem uma palavra a dizer quanto aos seus humores e outras oscilações físicas e psicológicas. Mas isso ainda vá.
Agora, uma piroca ver-se de repente à mercê de um mascarado com um bisturi na mão, um carrasco por encomenda só porque o coiso decide ser coisa, é algo de tão aterrador que quando penso nisso reduzo-me (encolho-me) à mínima expressão.
Ponham-se no meu lugar e logo percebem o porquê de neste assunto nenhuma pila ficar indiferente ou liberal. Não se trata de uma mentalidade conservadora mas de conservação, instintiva.

É por isso que eu, mesmo quem não tem cu tem medo, nunca falho quando o coiso agarrado a mim me requisita seja para o que for...

«Maria Magdala, a prostituta»

Esta foi a segunda publicação da Poesia Erótica, do nosso amigo Luís Gaspar.
Trata-se de um excerto de «O Evangelho Segundo Jesus Cristo», de José Saramago.
"Quando Maria Magdala, que dormia com os homens por dinheiro, pediu a Jesus que ficasse com ela por um dia, sem nada pagar, apenas que a guardasse na Sua memória."
Como é uma delícia que ainda não tinha recomendado aqui, vão lá e depois digam-me o que acharam:


nº 2 da Poesia Erótica do Estúdio Raposa

Velharias

GRIND MIX #1 from Django's Ghost on Vimeo.

Beijo