«Curta-metragem nº 1»
03 maio 2011
Orgia
Poderosa a orgia
Do teu corpo em nós
Que desato lentamente
Levemente docemente,
O cálido mar bravo
Dos teus sinais
O teu olhar no teu sorriso,
As mãos que me tocam
E me escaldam
No frio gelado de ti.
Poesia de Paula Raposo
Revista «Gambuzine» nº 8 de Maio de 2001
Revista comprada na Feira do Baú, no largo da Sé Velha de Coimbra, para a minha colecção.
Gostei em especial da aventura do Quevis, que precisava de dinheiro para comprar uma guitarra à sua amada Karen. E a única solução que ele encontrou foi o que para mim seria um pesadelo:
Gostei em especial da aventura do Quevis, que precisava de dinheiro para comprar uma guitarra à sua amada Karen. E a única solução que ele encontrou foi o que para mim seria um pesadelo:
02 maio 2011
Mais longe ainda
Vejo-te ao longe, mal definida, como um barco distante numa rota fugida ao meu olhar e à memória que quiseste deixar, tristeza, ao longe, a certeza de que te afastas ainda mais porque queres.
E porque também eu partilho agora essa sede de distância que me tira do alcance de qualquer mentira piedosa das que a tua postura amorosa não conseguia dispensar.
Vou...
Vou brilhar-te o ser, libertar a lágrima que te cai na alegria, agitar-te o coração, visível no pulsar dos teus seios. Ver brilhar o Sol que irradia no teu peito e a Lua que nos enamora a noite, contidos no brilho dos teus olhos. Quando me olham. Quando me invadem o espírito, e entram, e reviram, e revolvem, e saltam para fora de mim em explosão apoteótica de sentir.
Quero carregar em mim o cheiro do amor nocturno que a tua pele impregnou na minha, levá-lo pelas ruelas do meu dia e chegar a mais uma noite devolvendo-te o suor quando os nossos corpos voltarem a ocupar o mesmo espaço.
Quero não acordar... aprisionar-me neste sonho que me aconteceu.
E um dia, chegado o entre-acto da vida, reviver contigo esta espiral idílica no derradeiro adormecer... e não mais acordar.
Quero carregar em mim o cheiro do amor nocturno que a tua pele impregnou na minha, levá-lo pelas ruelas do meu dia e chegar a mais uma noite devolvendo-te o suor quando os nossos corpos voltarem a ocupar o mesmo espaço.
Quero não acordar... aprisionar-me neste sonho que me aconteceu.
E um dia, chegado o entre-acto da vida, reviver contigo esta espiral idílica no derradeiro adormecer... e não mais acordar.
01 maio 2011
«Fantasia» - por Rui Felício
Parecia adormecido...
Só o cadenciado ondular traía a sua calma e denunciava a imensidão.
Embalado pelo som surdo das ondas a desfazerem-se na praia, ali fiquei, sentado na areia húmida, a olhar a linha do horizonte, onde se fundiam os azuis do céu e do mar.
Sem querer, recordei as vezes que ali passeei com a minha filha, de mãos dadas. Éramos cúmplices daquele ambiente mágico, daquela lonjura ao nosso alcance.
Por vezes nadávamos, lado a lado, ao longo da linha da praia, entre as rochas que a delimitavam a norte e a sul.
Foi numa dessas vezes que tudo aconteceu.
A dado momento, enquanto nadávamos em direcção às rochas, algo me chamou a atenção.
Pareceu-me a cauda reluzente de um grande peixe dourado. Preocupado, esperei pela minha filha que nadava atrás de mim. Acenou-me com a cabeça de que também vira o mesmo que eu.
Mantivemo-nos à tona, com lentos movimentos dos braços e das pernas, observando, atentos, o local onde tínhamos visto a bela cauda do peixe.
De repente, entre o susto e a estupefacção, vimos uma coisa que jamais imagináramos poder existir naquelas águas.
Emergindo do mar, surgiu uma bela mulher, de longos e anelados cabelos dourados, que nos deixava ver um corpo escultural.
Os seus olhos amendoados, cor de mar, meigos, melancólicos, hipnotizavam-nos. Era impossível deixar de sentir aquele olhar trespassar-nos a retina e mergulhar no mais fundo do nosso ser, acelerando-nos o coração, que doía doce...
Dos seus lábios carnudos e bem desenhados, saía um som melodioso, suave, um quase choro, que nos arrepiava os sentidos...
Era com certeza uma sereia. Afinal existiam!
Por instantes, ela ficou ali a fitar-nos num movimento suave , síncrono, até que mergulhou e desapareceu nas profundezas...
Ainda esperámos algum tempo, na expectativa do seu reaparecimento. Mas, até hoje, nunca mais foi vista...
-Filha, guardas um segredo? – perguntei...
Meio confusa, meio aturdida, respondeu-me que sim...
Disse-lhe que aquela visão, seria o nosso segredo. Ocorreu-me justificar-lhe o pedido, fantasiando e dizendo-lhe que as sereias não aparecem a todos, e que, se aquela tinha resolvido aparecer-nos é porque confiara em nós, é porque nos achava pessoas de bem, pessoas especiais...
Sublinhei que o olhar da sereia mostrou que tinha confiança em nós. Acreditou que nós saberíamos manter o segredo que lhe permitisse continuar a sua vida no paraíso do fundo do mar, sem ser incomodada pela multidão de curiosos e incrédulos que acabariam por devassar a sua privacidade, se divulgássemos o que tinhamos visto.
Sei que a minha filha, passados tantos anos nunca quebrou a sua promessa de manter intacto o nosso segredo.
E eu, também não estou a quebrá-lo, porque não vos vou dizer em que praia é que isto aconteceu...
Rui Felício
Blog Encontro de Gerações
Pardais
Sabes, todos os pássaros sorriem
todos os pássaros aprendem a rir
para o azul assim que nascem
assim que azul podem ver, podem sentir;
rouxinóis, mochos, gaivotas, cotovias,
eu sei bem que tu já não sabias.
Sabes, eu sei que tu és um pássaro
sempre foste, mas sorrias tão pouco
o teu peito de penas emocionado e louco
secou à dor, eras suave e áspero.
Sabes porque ainda te espreito agora,
agora que tudo foi, que já me fui embora,
porque espreito, às vezes, a tua gaiola,
de garras esticadas, mão aberta para a esmola
que eu, nem quero saber porquê, ainda peço?
Sim, meu querido pássaro, a ti, eu confesso,
eu peço a Deus que me deixe ver-te sorrir,
eu peço a Deus por ainda te sentir
viver, assim, tão pássaro, tão meu querido pássaro.
todos os pássaros aprendem a rir
para o azul assim que nascem
assim que azul podem ver, podem sentir;
rouxinóis, mochos, gaivotas, cotovias,
eu sei bem que tu já não sabias.
Sabes, eu sei que tu és um pássaro
sempre foste, mas sorrias tão pouco
o teu peito de penas emocionado e louco
secou à dor, eras suave e áspero.
Sabes porque ainda te espreito agora,
agora que tudo foi, que já me fui embora,
porque espreito, às vezes, a tua gaiola,
de garras esticadas, mão aberta para a esmola
que eu, nem quero saber porquê, ainda peço?
Sim, meu querido pássaro, a ti, eu confesso,
eu peço a Deus que me deixe ver-te sorrir,
eu peço a Deus por ainda te sentir
viver, assim, tão pássaro, tão meu querido pássaro.
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