(...) O fogo é um elemento incontrolável. A loucura é a minha cura. Habito entre estas duas tensões, fusas nas muitas noites impressas na tinta das minhas palavras.
Ser poetisa é vestir as rodas excitadas do fogo. Comer poesia numa precipitação em brasa, no poder firme, silencioso. Absorvente. Assoberbado. No ar erupt...ivo das imagens lívidas por mim recriadas. É ferver num vulcão dos mil sentidos, consumida pelos órgãos e uma esfera que pensa mais alto. Numa abertura interior. É possuir a fonte oculta. Desconhecida, onde tudo se ousa e o sangue se move frenético. Onde o ardor é batido nas veias inacabadas que rompem portas. É morosa, a minha loucura. Obsessiva e incrustada. Sem direcção ou posição.
Na extenuante alucinação, os sentidos em germinação. Glória num ardor exemplar, elementar. Redentor. Alucinado. Onde poema se vem nas minhas formas, adentro e, se transforma, estilhaça-me num pulsar, aberto, onde ele bate, bate, bate e me rasga universalmente, numa mão imortal que arde. Desce. Arde. Dói. Arde. Num grito. Arde na fala imensa, na mulher que grita em mim, na matéria violenta que arde, incriada no meu inconstante ventre escarlate, onde as chamas movem as palavras delicadas. Quentes. À tona do poema. À tona do brotar que o lê. À tona do olhar que o abraça. À tona de mim, Poetisa que o desata de um jorro leito rosa, num maná secreto e eterno que entontece as nuas distâncias.
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