O afecto não se compra; sei, agora, porém, que, se o consigo encontrar genuíno dentro de mim, ele se pode vender. É evidente que é esta a resposta à tua pergunta; só isso me permitiu encarecer a "coisa"; o sexo comigo, por si só, não passa de um banal anel, o afecto foi a pedra que lhe juntei, só comprou quem considerou diamante. A construção da frase não foi à toa: eu encontro, ele vende-se, como uma pedra que devia estar cravada no teu anel recém-comprado.
(O homem olhou para as suas mãos esticadas, o seu anel ao peito não tinha pedra. Deixou todos os papelinhos coloridos de feio e foi-se embora muito depressa porque precisava de comprar uma nova vida para encher o lugar onde se encontrou com os seus vazios.)
30 maio 2011
29 maio 2011
Desejângulo
Olhava-te só nos olhos. Mas o olhar é sempre náufrago,
um náufrago desejo que, ao sufocar, eu afogo
contra as ondas da nudez do teu corpo
quando os meus dedos escorrem
e se juntam à tua imagem
dedos, pouco a pouco,
transbordam
nadam
vão
e
vão
nadam
transbordam
dedos, pouco a pouco,
que já não são meus, imagem
das minhas mãos. Eles escorrem
na parede firme da tua pele, são corpo
nas mãos, nos ombros, nas costas, eu afogo
o olhar nos teus olhos, mas o olhar é sempre náufrago.
um náufrago desejo que, ao sufocar, eu afogo
contra as ondas da nudez do teu corpo
quando os meus dedos escorrem
e se juntam à tua imagem
dedos, pouco a pouco,
transbordam
nadam
vão
e
vão
nadam
transbordam
dedos, pouco a pouco,
que já não são meus, imagem
das minhas mãos. Eles escorrem
na parede firme da tua pele, são corpo
nas mãos, nos ombros, nas costas, eu afogo
o olhar nos teus olhos, mas o olhar é sempre náufrago.
28 maio 2011
Cuidado com as crianças sozinhas na internet
Vídeo com a participação de algumas estrelas porno (entre as quais Ron Jeremy), a alertar para os riscos de deixar crianças a navegar sozinhas na Internet.
Cena
Complicados os papéis
que nos destinam
- uma peça engraçada -
e que nós tentamos
interpretar da melhor
maneira.
Tentamos?! Interpretamos?!
Ou somos levados pelo tempo
e desfazemos sonhos,
esperanças,
cumprindo um ritual teatral?
Quero acreditar
- porque não o faria? -
que este é o meu papel
na peça que não escolhi.
mantenho-me em cena,
apesar da saudade.
Poesia de Paula Raposo
27 maio 2011
Atrevimento
Divagar é ausentar-me do ventre, ventre-eu ou ventre-Mundo. Divagar é ausentar-me do ventre, ventre-espaço ou ventre-tempo. Divagar é viajar sem dimensão, sem tamanho; quando volto, escrevo; quando não volto, deixo as mãos, elas escrevem, intermitentes. E agora, meu amor, agora que me atrevi a divagar por ti, agora que me atrevi a traduzir o Amor - julgo, será este o maior dos atrevimentos humanos - agora, de que tens ainda medo, a que julgarás tu que eu não me consiga atrever?
Movimentos do rato do computador
Não adianta dizer que não, eu sei que com você é assim também.
E provavelmente em visita a uma página de entretenimento adulto.
Capinaremos.com
E provavelmente em visita a uma página de entretenimento adulto.
Capinaremos.com
26 maio 2011
Pink Freud, please!
- Doutor Segismundo, o meu namorado é professor universitário e gosta muito de fazer citações filosóficas enquanto fazemos sexo.
- Concordo que essa situação é desconfortável porque pode ser incompatível manter simultaneamente a actividade intelectual e a actividade hormonal (em linguagem mais abrangente, a menina fica com os neurónios fodidos, certo?).
- Nem mais, ainda ontem, estava eu prestes a …, diz-me ele ao ouvido: "As novas gerações estão dentro dos colhões e o novo Portugal, nasce dum tomatal".
- Deduzo que seja uma citação dum filósofo contemporâneo…
- Ele desculpou-se, dizendo que é uma corrente filosófica pós-socrática mas já na semana passada, fazia citações de enrabadelas legislativas e minetes eleitorais. Arranjo outro namorado ou aguardo pelo fim da campanha eleitoral?
- É sabido que todos os professores universitários fazem citações durante o sexo. Porém, pelo seu relato, adivinho que esteja perante um caso terminal, o próximo estádio trará uma impotência insofismável!
- Conheci um trolha, que me anda a assentar um soalho flutuante, lá em casa ...
- O trolha não me parece boa ideia. Por norma, é o tipo de homem que mais não conhece que a “Alegria da Caverna”. Só querem sexo, sexo, sexo, de preferência em cima do andaime, e quando a mulher dá por si, está dentro de um contentor a protagonizar "A Divisão do Trabalho Sexual" (do Emílio Murcheim) com o grupo da comissão obreira local — haja betoneira que aguente! De mais a mais, não são pessoas que gostem de cimentar relações e, julgo eu, a menina quer mudar para algo sério.
- O que me apetece, sei eu ... apetece-me ser Bárbara e mandá-lo já a Guimarães (que é abaixo de Braga).
- Isso seria uma opção terminal. Pode ainda tentar o seguinte: comece a recitar a tabuada toda, combatendo as estiradas filosóficas com o estigma da apócope dos números. Ou então espanque-o severamente com "O Capital" do Marx durante o acto. Ou exija ter relações apenas durante o concurso "O Preço Certo".Ou declame-lhe poesia do Ruy Belo... não lhe faltam opções, minha querida, para alterar o seu desconforto.
- Concordo Doutor mas, em todo o caso, vou também consultar a "Caras", onde há sempre tantos e tão úteis conselhos para mulheres insatisfeitas com as políticas sectoriais do pirilau.
- Minha querida, há também outra alternativa que seria manter ambos. A sua vida sexual percorre uma grande distância entre estes dois modelos antípodas, ou, no caso em questão, antíphodas... de facto, para uma mulher, ele há alturas em que apetece jantar romântico, bem amesendado com cabernet sauvignon regado por laivos de grandiloquência, mas há outras, para ser agarrada pelos cabelos, cingida sobre o capot de um velho automóvel estacionado junto ao estaleiro da obra e possuída dessa forma frugal e singela, mas muito revigorante.
In extremis, mantenha os dois e vá à procura de mais...
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