07 junho 2011

A posta sem nome


Como estamos todos saturados de temas densos que em nada ajudam a malta a descontrair um bocado da crise opto hoje por um tema mais ligeiro, porquanto muito sério.
Em causa está a flagrante injustiça cometida para quem ao longo de milénios assumiu o ingrato papel de dar nomes às coisas e às pessoas. Quer dizer, somos todos muito rápidos a desdenhar de quem se esmifrou a olhar para um filho para concluir: meu filho, tens mesmo cara de Hideraldo. Ou minha filha, toda tu és Ermengarda. Mas nesse desdém imediatista esquecemos a angústia de quem se vê a braços com tamanha responsabilidade.

Recuemos um pouco no tempo (pouco, porque estas coisas do tempo são muito relativas em termos cósmicos) e vistamos a pele (de mamute ou assim) do primeiro gajo a olhar embevecido para aquele espaço mágico entre as pernas da sua neandertala, encantado, e a querer louvá-la.
No meio dos seus grunhidos pré-históricos de aflição por não saber que nome dar àquilo, imaginemos o que terá saído para que, muito tempo depois, alguém considerasse vagina o nome mais adequado.
Não domino dialectos do tempo das pinturas de Foz Côa, mas não deixo de pasmar perante o que terá saído da boca daquela criatura peluda para virmos a baptizar o tal espaço sagrado com um nome tão complicado de pronunciar e sem piadinha nenhuma.
Mas a minha admiração abrange também a posterior adopção de nomes alternativos. Notem bem: alguém deu cabo da tola a pensar em nomes suplementares para algo já devidamente catalogado num conjunto de sons qualquer.
Ah e tal, vagina é um nome que não lembra ao caralho (já vão perceber porque acabo de me exceder na linguagem). Eu olho para aquilo e só me ocorre cona.
E toca de espalhar a nova terminologia pelos amigos do bairro chunga até a coisa (o nome da coisa) chegar aos ouvidos da elite pensadora da sua época.
Claro está que quem abraçou o nome original reclamou de imediato a patente imaginária e terá desabafado com os mais próximos: atão um gajo aqui a dar voltas ao miolo para arranjar um nome para aquilo e vem-me aquele primogénito de uma meretriz inventar um nome novo? Tenho que providenciar de imediato um esquema eficaz para a respectiva conspurcação! Vamos espalhar o boato de que se trata de uma asneira, de uma ordinarice que não se pode tolerar, de um pecado mortal.
Mas o que é certo é que a designação pirata acaba provavelmente por ser a mais utilizada no quotidiano de todos nós os que usufruímos dos nomes que não precisámos de inventar, até porque não soa muito razoável e ainda menos estimulante a pessoa, em pleno acto, sair-lhe um vou comer-te essa vagina toda. Não sei se a questão é fonética ou semântica ou se tem apenas a ver com o fruto proibido inerente ao palavrão como o entendemos, mas a verdade é que quem inventou o termo cona parece ter tido maior acerto na sua opção.
Isto não invalida o reconhecimento da relevância dos autores de quaisquer nomes, bem vistas as coisas.
Não levam a sério o assunto e acham que é fácil dar nomes às cenas?
Então tentem colocar-se na posição do primeiro gajo que olhou para, sei lá, um calhau. Ou para a pila do tal mamute prestes a ser esfolado para cobrir, entre outras, as partes pudibundas dos nossos antepassados das cavernas, e percebeu que se tratava da mesma coisa (do mesmo coiso) que ele pretendia agasalhar, perante o olhar interessado da fêmea a quem pretendia dar com a moca na tola, e precisou de arranjar assim de repente um nome comum para designar os dois pénis em apreço num conveniente plano de igualdade linguística…

Pontos de vista

Percorri-te

A sensualidade esvai-se
por todos os poros
da nossa pele.
Assim te encontrei,
assim te percorri
e assim gozei
os beijos, o cheiro,
tudo o que quis.
Na tua boca, as palavras
falam de sexo.

Poesia de Paula Raposo

Quadro em metal com moldura em madeira

As tropas napoleónicas faziam mesmo estragos por onde passavam.
Quadro com 18 x 12 cm (só a parte metálica) e 530 gramas.

06 junho 2011

Não está ali dito que a banana é um alimento da São!




Prendinha da São Patrício, que adora bananas... mas não da Madeira

A ciência do beijo

Rabo de palha

















«No meu tempo», na minha terra, quando se fazia a matança do porco, depois de matarem o bicho (os guinchos, gritos do porco ainda hoje me arrepiam) faziam outra coisa que já na altura, criança, me fazia muita confusão: torciam um molho de palha e enfiavam no cu do porco, rodando como chave de parafusos. E repetiam aquela operação até a palha sair limpa. Só mesmo o Shark (nos comentários deste post) para me fazer descrever esta nódoa nas memórias da minha infância.

tropical storm - Évelyne Louvre-Blondeau



le blog d'Évelyne Louvre-Blondeau

05 junho 2011

Postalinho de Penela

Belo par de montes em frente à esplanada do restaurante D. Sesnando, em Penela.

«Ó simpático, vai um tirinho?» - livro de Carlos Pedro

Tive o prazer de conhecer o Cápê (Carlos Pedro), "o único poeta natural de Oeiras", nas Noites com Poemas organizadas pelo Jorge Castro.
Os textos e poesias do Cápê são impróprias para políticos correctos, o que significa que qualquer pessoa os pode - e deve - ler.
Deste livro consta a «Tomada de posse», que o Jorge Castro nos leu nessa noite:

"Tomada de posse

No dia da
tomada de posse
o 1º ministro na casa de banho
ao espelho
sacudiu das calças
com as costas da mão
um pintelho*
ensaiou o sorriso
e o discurso

- o poder
o podeeer
o po-der

não gostando
do que ouviu
levou um dedo
ao canto da boca
repuxou-a
e repetiu

- o foder
o fodeeer
o fo-der

porque se
estão a rir?
é isto
que nos
está a fazer!!!"


E também este:

"Apesar de Abril
(ao meu filho)

Vivo num país
aonde é perigoso
ser criança

Vivo num país
aonde é perigoso
ser mulher

Vivo num país
aonde os velhos
pedem licença
para viver

Vivo num país
aonde a classe
política cada vez
mais se abasta
mentindo com
todos os dentes
mesmo os
desdentados
os descarados!

Vivo num país
de castrados"


Este livro já está na minha colecção, com uma dedicatória de alto gabarito:



* no original está "pentelho" mas aqui mando eu.

Tábua de salvação

Escuta-me
Tudo é relativo
uma tábua de salvação é vida
mas o mar revolto não é eterno
a areia surge morna, um céu sem relâmpagos
e a tábua muda de nome
chama-se destroço e, esquecida, deriva
na eternidade da solidão.
Por favor, escuta-me
O mar agita-se, está manso, depois vivo
tudo corre, tudo muda e um barco afunda
em cada regresso do Inverno
vamos ser os dois náufragos
a mesma sorte, a mesma sede, a mesma fome
a areia surgirá mais quente, mais viva
a tábua chama-se coração.


«Confesso» - por Rui Felício


Que bom que foi o almoço de Penacova!
Mas...
Como sempre acontece, depois de um fim de semana em Coimbra e do reencontro de tantos amigos, do convívio às refeições e no Samambaia, do desfiar de recordações da juventude à medida que, em pequenos grupos, vamos passeando pelas ruas do Bairro, chega a hora do meu inevitável regresso à Ericeira.
Pelo caminho, no domingo, vou escutando música suave, olho os farolins vermelhos dos carros que seguem à minha frente na auto estrada, mas o pensamento ainda está em Coimbra e revive os bons momentos ali passados durante os dois dias anteriores.
Sentado confortavelmente ao volante, via a chuva miudinha a bater no vidro. O cadenciado oscilar dos limpa pára-brisas embalava-me, entorpecia-me, provocava-me um sono que tentava vencer fumando mais um cigarro.
Tinha pressa de chegar à Ericeira, de tomar um banho, de descansar.
A pouco e pouco, as imagens de Coimbra iam-se esbatendo, substituídas pela ânsia de chegar.
Sabia que, dentro de casa, ela me esperava, que me iria receber de braços abertos, acolhendo-me depois de dois dias de separação.
Como a desejava!
Por mais que tentasse pensar noutras coisas, a obsessão de a rever, de a ter para mim, de sentir o seu calor, aumentava, absorvia-me, numa antecipação da doce intimidade que desfrutaria com ela.
Tenho mantido ciosamente este segredo. Mas acho que devo revelá-lo.
É tempo de o confessar:
Eu e a Marcia, vivemos juntos há cinco anos, é ela que me faz feliz, gosta de mim sem ser ciumenta, retempera-me as forças quando entro em casa depois de cada esgotante dia trabalho, fundindo-nos ambos num só ser indistinguível.
Quanto mais me aproximava, mais me imaginava à chegada a casa, a ir tomar um banho quente, relaxante e depois, perfumado, a aconchegar-me na maciez dos seus braços, a acariciá-la suavemente, suspirando, deixando-me estimular com o seu cheiro e a sentir o seu corpo aveludado colado ao meu.
Adoro aquela poltrona, a que chamo Marcia por ter sido comprada em Março, e em que me acomodo diariamente, desde há cinco anos, a ver televisão ou a ler um livro!
Confesso...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

Um casamento gay por dia



HenriCartoon