05 junho 2011

«Confesso» - por Rui Felício


Que bom que foi o almoço de Penacova!
Mas...
Como sempre acontece, depois de um fim de semana em Coimbra e do reencontro de tantos amigos, do convívio às refeições e no Samambaia, do desfiar de recordações da juventude à medida que, em pequenos grupos, vamos passeando pelas ruas do Bairro, chega a hora do meu inevitável regresso à Ericeira.
Pelo caminho, no domingo, vou escutando música suave, olho os farolins vermelhos dos carros que seguem à minha frente na auto estrada, mas o pensamento ainda está em Coimbra e revive os bons momentos ali passados durante os dois dias anteriores.
Sentado confortavelmente ao volante, via a chuva miudinha a bater no vidro. O cadenciado oscilar dos limpa pára-brisas embalava-me, entorpecia-me, provocava-me um sono que tentava vencer fumando mais um cigarro.
Tinha pressa de chegar à Ericeira, de tomar um banho, de descansar.
A pouco e pouco, as imagens de Coimbra iam-se esbatendo, substituídas pela ânsia de chegar.
Sabia que, dentro de casa, ela me esperava, que me iria receber de braços abertos, acolhendo-me depois de dois dias de separação.
Como a desejava!
Por mais que tentasse pensar noutras coisas, a obsessão de a rever, de a ter para mim, de sentir o seu calor, aumentava, absorvia-me, numa antecipação da doce intimidade que desfrutaria com ela.
Tenho mantido ciosamente este segredo. Mas acho que devo revelá-lo.
É tempo de o confessar:
Eu e a Marcia, vivemos juntos há cinco anos, é ela que me faz feliz, gosta de mim sem ser ciumenta, retempera-me as forças quando entro em casa depois de cada esgotante dia trabalho, fundindo-nos ambos num só ser indistinguível.
Quanto mais me aproximava, mais me imaginava à chegada a casa, a ir tomar um banho quente, relaxante e depois, perfumado, a aconchegar-me na maciez dos seus braços, a acariciá-la suavemente, suspirando, deixando-me estimular com o seu cheiro e a sentir o seu corpo aveludado colado ao meu.
Adoro aquela poltrona, a que chamo Marcia por ter sido comprada em Março, e em que me acomodo diariamente, desde há cinco anos, a ver televisão ou a ler um livro!
Confesso...

Rui Felício
Blog Encontro de Gerações

Sem comentários:

Enviar um comentário

Uma por dia tira a azia