Eu imagino o brilho nos olhos de toda a equipa de produção da agência publicitária quando foram definidos os contornos da actual campanha da Optimus/Kanguru.
A ideia é aplicar o velho conceito do canto da sereia, mesmo sem que um consumidor como eu consiga ver a ligação, ao anúncio da maior rapidez da net em causa.
Pois, a ideia parece estapafúrdia. Mas quando descobrimos que a cantadeira é a Soraia Chaves a ideia passa para um plano secundário e o prato do dia é peixe.
Sem espinhas.
Eu admiro os publicitários, a sério. São gente esperta, capaz de tornar apelativo o mais desinteressante dos assuntos/produtos. Um publicitário conhece melhor o seu mercado alvo do que cada um dos progenitores desse grupo seleccionado de futuros clientes de uma cena qualquer.
É tudo analisado ao pintelho, como diria um grande economista da nossa praça.
E algum iluminado viu-se a braços com uma campanha que visava chamar a atenção dos mais distraídos para o facto de uma operadora disponibilizar uma net mais rápida do que as outras e ocorreu-lhe logo a associação de ideias mais óbvia: isto é feito à medida da Soraia Chaves.
Claro que podia tratar-se da promoção a um saca-rolhas, era feito à medida da Soraia Chaves também, mas deve ter sido curiosa a argumentação do mentor desta campanha tão eficaz no sentido de defender a lógica implícita na Soraia Chaves vestida de sereia (um bicho rapidíssimo, como todos sabemos) e imóvel em cima de um calhau no meio de um lago mais plácido e pasmacento do que a net do concorrente mais fraquinho da TMN.
Presumo que alguém terá questionado: então mas não faria mais sentido optar por uma atleta, uma velocista, ou por aquela camionista dos ralis?
Qual quê? Isso são tartarugas à beira da Soraia Chaves! Basta a rapariga aparecer na tv para o pessoal sair da casa de banho em passo acelerado para ainda apanhar o anúncio.
Por outro lado, o consumidor comum, esse eterno encantado pelo apelo publicitário, não resiste ao canto da sereia quando esta só tem uma espécie de conchinhas a cobrirem-lhe a metade sem escamas. É quase instantânea a vontade de comprar, não interessa o quê, pela colagem da carne ao peixe numa combinação tão saudável e feliz.
E nem precisa de cantar, a figura mítica, pois nove em cada dez cidadãos do sexo masculino residentes em Portugal, dos oito aos oitenta e oito anos de idade e moradores no Restelo ou no Arneiro da Azeitada (concelho de Almeirim, se não estão bem a ver onde fica) ouvem com os olhos quando se trata da Soraia Chaves e seja ela sereia, hospedeira de bordo ou canalizadora nenhuma campanha publicitária passa despercebida.
Chaves daquelas abrem em fracções de segundo a fechadura da nossa atenção e as portas do desejo de navegar muito depressa pela net à beira-mar, enrolados pelas ondas, enquanto ela dá à cauda e agita ligeiramente as conchinhas e os cangurus começam aos saltos no areal do nosso impulso consumidor de comunicações apressadas.
E o download da mensagem que a campanha pretende transmitir não é rápido, é praticamente instantâneo.
(Sim, eu reparei que o anúncio é da Vodafone. But who cares?)