O brilho dos olhos era estranho, como se fosse assombrado pelo tom muito amarelo dos candeeiros que iluminam, em vão, estradas desertas há eternidades. No entanto, brilhavam. Chegou à porta do Segredo e hesitou como se fosse entrar numa porta giratória, no momento da chegada sempre lhe parecia que aquela porta girava, catapulta giratória para lado nenhum, aquele sítio nem existia. O vermelho da luz misturava-se no brilho dos olhos, crescia nova pele. O ventre firme e a emoção embrulhada numa flacidez de molusco garantiam tudo, ali. No balcão, um qualquer número desfocado já chamava, tinha pernas e braços agitados e compridos, tinha olhos pequenos e parados, um olhar de pasmo castanho, pressa na memória; eram velhos conhecidos, ela e o bolso daquele nome. "Chave do doze, por favor". Subiram. Embalou o homem, entre pernas, como se o movimento de penetração fosse de dentro para fora, como se saísse dela, ao invés de entrar, os homens gostam muito de nascer assim. Desceram iguais, mas o número julgou-se outro menos desfocado e, ao número vinte dos euros que costumava oferecer à mulher dos olhos de estranho brilho, acrescentou mais dez, por aquele milagre.
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Uma por dia tira a azia